Nascimento | 25 de Janeiro de 1927, Rio de Janeiro, Brasil |
Morte | 8 de Dezembro de 1994, Nova Iorque, Estados Unidos da América |
Família |
Mulheres: Thereza de Otero Hermanny (1949-início dos anos 70), Ana Beatriz Lontra (1986-1994); Filhos: Paulo (1957), Elisabeth (1957), João Francisco (1979-1998), Maria Luiza (1987) |
Ocupação | Compositor, instrumentista, cantor, maestro |
Primeiros anos
Antônio Carlos Jobim, que mais tarde adoptaria o nome artístico Tom Jobim, nasceu no dia 25 de Janeiro de 1927 no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. A sua mãe, Nilza Brasileiro de Almeida, que se separou do seu pai, Jorge de Oliveira Jobim, quando este era ainda uma criança, mudou-se com os filhos (António e Helena) para Ipanema, local à beira mar que o músico celebraria nas suas canções.
Depois da morte de Jorge Jobim, em 1935, Nilza casou-se com Celso da Frota Pessoa, que incentivou a carreira musical do seu enteado, oferecendo-lhe o seu primeiro piano. Além de piano, aprendeu a tocar a gaita, o violão e estudou harmonia, composição e orquestração. Entre os seus professores destacam-se o alemão Hans-Joachim Koellreutter, responsável pela introdução do dodecafonismo no Brasil, Lúcia Branco e Tomás Terán.
A maior influência musical de Jobim foi o músico brasileiro Pixinguinha, que iniciou o modernismo no Brasil nos anos 30. Foi também influenciado pelos compositores franceses Claude Debussy e Maurice Ravel, pelos compositores brasileiros Heitor Villa-Lobos e Ary Barroso e pelo género musical jazz.
Início da carreira
Tom Jobim iniciou o curso de arquitectura em 1946 mas depressa o abandonou para se dedicar inteiramente à música. No início dos anos 50 tocava em diversos bares de Copacabana, entre os quais se encontrava o conhecido Beco das Garrafas.
Em 1952 foi contratado pela gravadora Continental como pianista e arranjador. Aqui, acompanhou artistas como Dalva de Oliveira, Orlando Silva e Dick Farney e conviveu com o maestro e compositor Radamés Gnatalli, que se tornou, também, numa referência importante para o músico. Dois anos depois, começou a trabalhar para a Odeon, onde compôs sambas em parceira com Billy Blanco, como «Tereza da praia», o seu primeiro grande sucesso. Em 1955, dirigiu na Rádio Nacional a sua primeira composição sinfónica, «Lenda».
Vinícius de Moraes
Tom Jobim conheceu o poeta Vinícius de Moraes, pela primeira vez, no Clube da Chave, em Copacabana. Neste primeiro contacto não se estabeleceu a amizade e parceria que renderia muitos clássicos à música brasileira. O músico estava concentrado no seu trabalho e Vinícius ainda não se tinha aventurado pelo mundo da música.
No ano de 1956 Vinícius de Moraes estava à procura de um arranjador para as músicas de uma peça de teatro da sua autoria, «Orfeu da Conceição». O músico, já considerado muito talentoso no meio, foi indicado pelo jornalista Lúcio Rangel, amigo do escritor. Vinícius terá avistado casualmente Jobim num bar no centro da cidade e, pedindo licença para se sentar à sua mesa, apresentou-lhe a peça e convidou-o a participar. O personagem mitológico Orfeu era o protagonista de uma tragédia ambientada na favela carioca, com um elenco exclusivamente negro. O músico gostou da ideia, fazendo somente uma ressalva, que se transformaria numa as piadas preferidas de Vinícius sobre o parceiro: “Tem um dinheirinho nisso aí?”. Na altura, a situação financeira de Tom Jobim era precária. Desta peça faz parte a música “Se todos fossem iguais a você”.
Bossa Nova
A aproximação de Jobim a Vinícius e outros músicos da nova onda musical no Rio de Janeiro levaram-no a compor melodias para canções de Elisabeth Cardoso, e outros, embebidas num novo ritmo que surgia, ainda sem nome. No final da década de 50 o baiano João Gilberto, ainda desconhecido, surgiu com o primeiro sucesso deste novo género musical, a bossa nova, uma espécie de samba erudito renovado pelas influências do jazz: a canção «Chega de Saudade», musicada por Jobim e com a letra de Vinícius. Um ano depois, em 1959, surgia o primeiro álbum de João Gilberto, com o mesmo nome. Deste álbum fazia parte, ainda, a canção «Desafinado», resultado da parceira de Tom Jobim com Newton Mendonça. O álbum seguinte, «O amor, o sorriso e a flor» trazia várias das suas canções, entre as quais «Samba de uma nota só».
Foi o início de um novo movimento que depressa se espalhou pelo Brasil. “Tom seria o maestro responsável por essa revolução musical gerida entre as praias e os bares do Rio de Janeiro, mesmo que ele não aceitasse ser considerado um líder nato do movimento” (Duarte, 2016).
Sucesso internacional
Em 1962, com Vinícius de Moraes, compôs «Garota de Ipanema», um dos seus maiores sucessos, gravado um ano depois, em inglês, com o saxofonista norte-americano Stan Getz, João Gilberto e Astrud Gilberto. Nesse mesmo ano, enfrenta um dos seus maiores medos, andar de avião, e parte rumo aos Estados Unidos, onde participa no Festival da Bossa Nova no Carnegie Hall de Nova Iorque.
Naquela cidade norte-americana gravou o seu primeiro álbum solo em 1963: «The composer of Desafinado plays». Daí em diante, divide o seu tempo entre o Brasil e os Estados Unidos, gravando diversos álbuns, um deles com Frank Sinatra em 1967.
Anos 70
Em 1968 a canção «Sabiá», escrita em parceira com Chico Buarque e interpretada pelas irmãs Cynara e Cynele do Quarteto em Cy, venceu o 3.º Festival Internacional da canção. Foram, no entanto, vaiadas porque a preferida do público era a canção «Para não dizer que não falei das flores», de Geraldo Vandré, devido à sua crítica contra a ditadura militar e repressão da época. Esta terminou em segunda lugar.
Em 1974, Tom Jobim produziu em Los Angeles um álbum com a cantora Elis Regina. Os dois não se deram particularmente bem, “como se poderia supor no perfeito entrosamento das vozes na canção “Águas de Março”, que abria o disco”, mas o álbum acabou por sair depois de um período de trégua entre os dois músicos.
Na década de 70 o músico começou a evidenciar alguns problemas de saúde. Os médicos aconselhavam que não fumasse nem bebesse mas Jobim não os escutava. Entretanto, lançou os álbuns «Matita Perê» (1973), «Urubu» (1974) e «Terra Brasilis» (1980).
Últimos anos
A morte de Vinícius de Moraes, em 1980, teve um forte impacto em Jobim. Com o passar dos anos foi-se tornando mais privado e procurava ficar distante dos palcos. “Era cada vez mais difícil tirá-lo dos seus confortos, a sua em casa em meio à mata no bairro do Jardim Botânico na Floresta da Tijuca e dos seus restaurantes e bares prediletos na zona sul carioca” (Duarte, 2016). Ainda que contrariado, e por necessidade, como o próprio dizia, aceitou fazer espectáculos esporádicos em diferentes países com a banda que formou em 1984, Banda Nova. Com ela, gravou os seus últimos discos «Passarim» (1987) e Antonio Brasileiro (1994), lançado postumamente.
Tom Jobim faleceu no dia 8 de Dezembro de 1994, em Nova Iorque, depois de sofrer um ataque cardíaco quando se encontrava a recuperar de uma cirurgia para a remoção de um tumor na bexiga que lhe tinha sido diagnosticado.
Legado
Juntamente com o violonista e cantor João Gilberto e o poeta Vinícius de Moraes, Jobim faz parte do trio fundador do novo movimento musical conhecido como bossa nova. “Surgido no auge do desenvolvimentismo, o estilo bossanovista vem reforçar um imaginário modernizante que se torna hegemônico no Rio de Janeiro dos anos 1950, espelhando as transformações pelas quais a passava a capital” (Enciclopédia Itaú Cultural, nd).
Neste sentido, a bossa nova não representa somente um género musical. Representou, também, um novo estilo de vida, moderno e arrojado. Espelho disto são as letras, tipicamente apolíticas e com temáticas amorosas, o estilo interpretativo sóbrio e intimista e a imprevisibilidade das harmonias devido à utilização de procedimentos utilizados no jazz e na música clássica, mas não na música brasileira que se tinha feito até então. A orquestração que integrava perfeitamente o canto, com o o contraponto dos instrumentos e o acompanhamento rítmico-harmónico sobre uma batida de samba, é outro elemento distintivo da bossa nova.
“Todas essas características revelam a forte permeabilidade que marca sua obra, a um só tempo popular e sofisticada, mesclando samba e jazz, canção e música instrumental, oralidade e cultura letrada. Contribuem para isso dois elementos: de um lado, sua larga experiência como pianista de boate e como arranjador na Continental, onde põe no pentagrama composições de músicos populares que não dominam a grafia musical. De outro, sua formação erudita, fortemente influenciada por Villa-Lobos, de quem herda a capacidade de desenvolver, a partir de motivos simples, linhas melódicas profundamente expressivas” (Enciclopédia Itaú Cultural, nd).
A partir dos anos 70, as temáticas amorosas das suas canções deram lugar à valorização atemporal da natureza brasileira, talvez pela agudização ideológica dos tempos da ditadura. Um os maiores exemplos desta fase é a canção «Águas de Março». Contudo, não as abandonou inteiramente, compondo clássicos como «Lígia, Ângela, Luiz e Bebel».
A música de Jobim, em diálogo com tendências internacionais, e que articulava o popular com o clássico, sem preconceitos, marcou a história da música brasileira, oferecendo-lhe uma projecção internacional que, até então, não tinha tido. É, por isto, considerado um dos maiores expoentes da música brasileira e um importante compositor do século XX.
References:
Duarte, U.C. (2016). Antonio Carlos Jobim: uma biografia, Sérgio Cabral, 2008. Em https://atequeumponto.wordpress.com/2016/03/06/antonio-carlos-jobim-uma-biografia-sergio-cabral-2008/
Ebiografia (2017). Antônio Carlos Jobim. Em https://www.ebiografia.com/antonio_jobim/
Enciclopédia Itaú Cultural (nd). Tom Jobim. Em (http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa6060/tom-jobim