Primeiros anos
Igor Stravinsky nasceu no dia 17 de Junho de 1882, na cidade de Oranienbaum (agora Lomonosov), na Rússia. Cresceu na cidade de São Petersburgo, onde o pai ocupava a posição de baixo principal na Ópera de São Petersburgo. A mãe, também ligada ao universo musical, era uma talentosa pianista.
O compositor recebeu aulas de piano e formação musical enquanto crescia mas os pais não queriam que este seguisse as suas pegadas e persuadiram-no a estudar direito. Em 1901 ingressou, então, na Universidade de São Petersburgo para esse efeito. No entanto, o seu caminho reaproximava-se da música.
Na Universidade tornou-se amigo de Vladimir Rimsky-Korsakov, filho do compositor Nikolai Rimsky-Korsakov, acabando por tornar-se seu aluno em 1903 (o pai que faleceu no ano anterior deu-lhe permissão para seguir uma carreira artística). Rimsky-Korsakov, que o aconselhou a não entrar no conservatório para que não seguisse um estudo convencional de música, ensinou-o sobretudo em questões de orquestração. Discutia, também, as obras que Stravinsky ia escrevendo, oferecendo sugestões, e usou da sua influência para que a sua música começasse a ser ouvida publicamente.
Primeiros trabalhos
Stravinsky compôs a sua primeira sinfonia e sonata para piano em 1905. Nesse mesmo ano assumiu o noivado com a sua prima Catherine Nossenko, com quem casou no dia 23 de Janeiro de 1906. Viriam a ter quatro filhos.
Em 1909 as suas peças «Fogo de Artifício» e «Scherzo Fantastique» foram ouvidas em São Petersburgo por Diaguilev que, por essa altura, já tinha formados os Ballets Russos em Paris. Este, impressionado, convidou Stravinsky a compor um ballet sobre a lenda do «Pássaro de Fogo», dado que Liadov não tinha completado o trabalho a tempo de ser apresentado na época de 1910.
O sucesso desta obra, apresentada na Ópera de Paris a 25 de Junho de 1910, tornou Stravinsky mundialmente famoso e conhecido como um dos mais talentosos compositores da nova geração. «Pássaro de Fogo» foi a primeira de uma série de colaborações entre Stravinsky e Diaguilev. Seguiram-se, então, «Petruschka», em 1911, e «A Sagração da Primavera», em 1913, cuja primeira apresentação causou um enorme tumulto. A partir daí, Stravinsky passou a ser olhado como o líder da música de vanguarda.
O último período russo
A colaboração com os Ballets Russes tinha levado à mudança de Stravinsky e da sua família para Paris, em 1910. No entanto, o início da I Guerra dificultou o funcionamento dos Ballets Russes e, consequentemente, o financiamento da sua própria família. A guerra acabou por isolá-lo na Suíça, onde a família Stravinsky passava regularmente os seus Invernos. A Revolução de Outubro em 1917, na Rússia, extinguiu as poucas esperanças que o compositor tinha relativamente a um regresso à Rússia (os seus bens foram confiscados).
Dadas as suas dificuldades o compositor pensou em formar uma pequena companhia de teatro itinerante, para apresentar produções de montagem pouco dispendiosas. O resultado foi a «História do Soldado», para conjunto de câmara, que lhe permitiu combinar dois dos seus grandes interesses: os ritmos populares o jazz norte-americano.
As suas últimas obras abertamente russas foram o ballet «Les Noces» e a ópera «Mavra».
Igor Stravinsky
A faceta neoclássica
Entre 1912 e 1920, Stravinsky dedicou-se à composição do ballet «Pulcinella» para Diaguilev, iniciando desta forma aquilo a que se pode chamar a sua fase neoclássica. Já radicado na França, escreveu uma série de obras onde apesar da evocação de um certo espírito do século XVIII, é possível encontrar um sabor harmónico e rítmico típico do século XX.
Desta sua faceta salientam-se o concerto para piano (ele próprio tocou o solo), o concerto para violoncelo, o «Capriccio» para piano e orquestra, o ballet «Apollo Musagetes», a sinfonia em dó maior e ópera «A carreira do libertino». Por outro lado, a ópera «Oedipus Rex», com texto de Cocteau, é característica do século XIX e de Verdi.
Estados Unidos da América
Depois das mortes da sua filha mais velha e da mulher em 1938 e 1939, respectivamente, devido à tuberculose (que também levou a que o compositor passasse cinco meses hospitalizado), Stravinsky mudou-se para os Estados Unidos em 1939. Instalou-se em Los Angeles, onde o clima por ser mais ameno era mais favorável à sua saúde. Em 1940 casou-se com a artista Vera de Bosset, com quem mantinha um caso extra-conjugal desde 1921.
A sua obra “americana” foi a «Sinfonia em 3 andamentos» de 1945. Por esta altura deu-se uma nova viragem no seu estilo, nomeadamente, com o ballet «Orpheus» (1947) que levou o compositor a estudar Monteverdi e proporcionou o conhecimento com o jovem maestro americano Robert Craft, que combinava o interesse pelo barroco e pela segunda escola de Viena.
Stravinsky, mais tarde, mostrou estar atento ao serialismo, particularmente o de Webern, e estimulado por Craft, começou a reflectir estes interesses na sua obra: «Canticum Sacrum» (1955), «Threni» (1958), o ballet «Agon» e «Movements» para piano e orquestra.
Em 1962 foi convidado a regressar à Rússia, onde fez uma digressão triunfante e foi recebido no Kremlin pelo então líder soviético Kruschev. Nos seus últimos anos escreveu pequenas obras simples, muitas delas religiosas no sentimento e na forma, completamente opostas à opulência dos seus primeiros sucessos.
Faleceu no dia 6 de Abril de 1971, em Nova Iorque, e foi sepultado em Veneza, perto de Diaguilev, segundo a sua própria vontade.
Legado musical
É costume dizer-se que Stravinsky mudava de pele de tempos a tempos, e embora tenha alterado o seu estilo mais do que uma vez sem razão aparente, permaneceu fundamentalmente ele próprio toda a vida. Não obstante, a sua característica dominante manteve-se do princípio ao fim: o ritmo. “É o ritmo, nas mais maravilhosas formas, desde a mais primitiva (Les Noces) à mais sofisticada (Sagração da Primavera) que constitui a mola central da sua obra (Kennedy, 1994).
Com a composição dos ballets para Diaguilev, fez parte de uma época de ouro, onde se ligou a outros talentos do século (além de Diaguilev): Nijinski, Picasso, Bakst, Folkine e outros. Mais tarde, Cocteau, Auden e Dylan Thomas passaram a fazer parte da sua órbita. O sentido de teatro e dança foram uma constante na sua obra, mesmo naquelas mais austeras como a «Missa» de 1948, e nunca colocou de parte o seu divertimento infantil («Circus Polka», «Jeu de Cartes») e humor sarcástico.
Os seus críticos costumavam afirmar que a sua música não tinha expressão e emoção mas a passagem do tempo fez este juízo parecer absurdo. Stravinsky é largamente reconhecido como uma figura fundamental do século XX e um grande compositor.
References:
Biography.com Editors (nd). Igor Fyodorovich Stravinsky Biography. Em http://www.biography.com/people/igor-fyodorovich-stravinsky-9497118
Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.
Taruskin, R. (2015). Igor Stravinsky. Em http://www.britannica.com/biography/Igor-Stravinsky