Berg, Alban

Alban Berg (1885-1935) foi um compositor austríaco que permanece na história pelo equilíbrio que procurou entre a atonalidade e a tonalidade. Faz parte da Segunda Escola de Viena, juntamente com Schönberg, seu professor, e Webern, também seu amigo.

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Os primeiros anos de Berg

Alban Berg nasceu no dia 9 de Fevereiro de 1885, numa família da alta burguesia católica. Foi educada num meio compreensivo e aberto a todas as formas de cultura, dividindo o tempo da adolescência entre a poesia e música, embora não tenha tido educação musical formal.

Depois da morte do pai em 1900, a família começou a enfrentar dificuldades financeiras, o que para Berg foi particularmente complicado dado que não era um bom estudante e as suas escolhas de carreira estavam particularmente limitadas. Depois de terminar os estudos, começou a trabalhar na função pública.

Formação musical

Abandonou este trabalho depois de ser apresentado pelos irmãos a Schönberg, em 1904, que se tornou seu professor, amigo, e viria a ser, até, uma espécie de pai para o jovem músico, aconselhando-o noutros aspectos da vida Antes de se tornar seu aluno, já tinha composto muitas canções e duetos para piano (para serem apresentadas em casa dado que todas as crianças eram ensinadas a tocar piano pelas governantas). Estas primeiras composições reflectem a sensibilidade romântica de Brahms, Debussy e Schumann.

Berg e Schönberg

A principal preocupação de Schönberg quando o recebeu como estudante foi adereçar aquela que considerava ser a sua grande fraqueza: Berg era somente capaz na composição de linhas vocais. Assim, procurou instrui-lo em harmonia, contraponto e nos princípios de pequenas e grandes composições. Deste período datam as seguintes composições «Sieben frühe lieder» (1905-1908), a «Sonata para piano n.º1», «Vier Lieder, op.2» e o «Quarteto de Cordas, op.3». Os primeiros são considerados tonais e os últimos dois atonais. A principal lição que Berg tomou de Schönberg foi a ideia da variação, ou seja, há uma ideia que é desenvolvida durante toda a peça e que a liga na sua totalidade. Berg passou esta estratégia de composição aos seus alunos, entre os quais Theodor Adorno, filósofo e teórico alemão.

Enquanto estudava música beneficiou da atmosfera de Viena e da sua vida artística de vanguarda: artistas da Secessão de Viena, o poeta Peter Altenberg, o pintor Kokoschka e o escritor e ensaísta Karl Kraus, que viria a ser uma grande influência.

Depois de sete anos a estudar com Schönberg, Berg terminou formalmente os seus estudos em 1911, na altura em que o seu professor partiu para Berlim. Estes anos foram o início da Segunda Escola de Viena, que inclui o outro aluno de Schönberg e amigo de Berg, Anton Webern.

Casamento e escândalo

Também em 1911 casou-se com a cantora, Helene Nahowski, filha de um oficial austríaco, que não aprovava a relação entre ambos porque Berg estava desempregado e era católico. Berg converteu-se ao protestantismo, para efeitos do casamento, mas depois regressou à fé católica. Helene teve um papel fundamental na sua vida, proporcionando-lhe o apoio afectivo e os encorajamentos necessários para fortalecer o seu trabalho criador. No início, Berg empenhou-se em trabalhos de transcrição para prover o sustento da casa.

Alban e Helene Berg

No ano seguinte escreveu «Postais para soprano e orquestra, op.4», com base nos textos de Altenberg. Foram apresentados pela primeira vez em 1913, num concerto que criou bastantes tumultos, porque a poesia foi considerada ofensiva, e a polícia viu-se forçada a intervir. Este concerto, um dos maiores escândalos na música ocidental, foi regido por Schönberg e incluiu trabalhos do próprio, de Webern, Zemlinsky e Mahler. Schönberg criticou a composição de Berg, não devido à sua natureza escandalosa (de acordo com a época) mas porque era breve, pelo que Berg escolheu não a publicar nem apresentá-la durante a sua vida.

Wozzek

Em 1914, o compositor escreveu «Três peças para orquestra, op.6» mas, mais importante, assistiu à encenação de «Wozzek», de Georg Bünchner, sobre a história de um soldado que atormentado pelos seus superiores acaba por matar a sua amante Marie e suicidar-se.

Nessa altura deu-se o início da II Guerra Mundial que embora viesse atrasar a composição desta obra, também foi uma experiência crucial para a sua composição. Mobilizado como soldado mas impossibilitado de ir para a frente devido à sua frágil saúde, permaneceu no Ministério da Guerra, onde pôde observar de perto uma das faces da sociedade na mira de Büchner, e teve oportunidade de trabalhar a ópera com calma, concentrando o seu teor dramático em onze cenas (no original, são 26). A partitura musical de «Wozzek» ocupou-o de 1917 a 1921. Depois de completa, Berg teve de a publicar sozinho, vendo-se forçado a pedir dinheiro à irmã, Smaragda. Pouco depois, Alma Mahler, ajudou-o a pagar o empréstimo, pelo que a obra foi dedicada a esta.

A obra foi apresentada, ainda que fragmentada, sob a regência de Hermann Scherchen, em Frankfurt, no ano de 1924, mas levada à cena integralmente no ano seguinte, na Ópera de Berlim, desta feita dirigida por Erich Kleiber. Representada regularmente no exterior, «Wozzek» permaneceu no repertório alemão até ao advento do nazismo, que cunhou a música de Berg como “degenerada”, condenando-a a um silêncio de dez anos.

Entre Wozzek e Lulu

Em 1925, Berg escreveu «Kammerkonzert» (Concerto de câmara) para piano, violino e instrumentos de sopro, e em 1926 o quarteto de cordas «Lyrische Suite». Com estas peças abraçou integralmente o método de composição dodecafónico. A «Lyrische Suite» é o retrato sonoro da sua relação extraconjungal com Hanna Fuchs-Robettin, uma mulher também casada.

No ano de 1927 a Editora Universal ofereceu um contrato a Alban Berg que o desembaraçou completamente de dificuldades materias, permitindo-lhe retirar-se, de vez em quando, para uma casa que ficava à beira da floresta, onde se dedicava inteiramente à sua música. Entretanto, as suas obras começaram a rarear.

Berg

Alban Berg

Lulu

De 1928 até à data da sua morte, em 1928, Berg trabalhou numa nova ópera, «Lulu» cuja elaboração interrompeu para escrever, respectivamente, «Der Wein» (O vinho), cantata para soprano e orquestra (1929) e o concerto para violino «Em memória de um anjo» (1935), dedicado a Manon Gropius, filha de Alma Mahler e Walter Gropius, que falecera recentemente. Nesses anos também fez várias viagens ao estrangeiro onde acompanhou as apresentações dos seus trabalhos.

Os dois textos de Wedekind, base de «Lulu» já lhe tinham chamado atenção quase vinte anos antes. O assunto era a hipocrisia sexual e, provavelmente, Berg sentiu-se atraído por razões pessoais. Em primeiro lugar, encontrava-se o caso que mantinha, na altura, com uma empregada. Em segundo lugar, o tópico da moralidade sexual, onde aos homens eram permitidas indiscrições que a mulheres de certa classe estavam vedadas, era fortemente debatido na Viena de Sigmund Freud. E, em terceiro lugar, o interesse de Berg em questionar o código sexual vigente também pode ter derivado da afirmação da sua irmã, Smaragda, de que era lésbica, pouco depois de ter feito um casamento vantajoso.

Alban Berg morreu em 24 de Dezembro de 1935, de envenenamento sanguíneo, provocado pela picada de um insecto, sem terminar «Lulu», cujo terceiro acto não chegou a orquestrar. A ópera foi apresentada em 1927 em Zurique. A viúva, Helene, nunca permitiu que completassem a ópera mas, depois da sua morte em 1976, e de uma batalha em tribunal com os responsáveis do seu legado, o compositor austríaco Friedrich Cerha concluiu a obra. A primeira apresentação do trabalho completo aconteceu em Paris, no ano de 1979, com a direcção de Pierre Boulez.

O legado de Berg

Para o público geral, Berg tornou-se no compositor mais aceitável da escola dodecafónica porque nunca foi um artista ortodoxo. A sua obra aproxima-se mais de Wagner do que de Schönberg. Em «Wozzek» a atonalidade é usada de forma mais livre e aplicada a uma estrutura altamente formal, onde cada cena corresponde a uma forma musical. A partir da «Lyrische Suite», passa a usar o método dodecafónico com maior rigor mas, ainda assim, muito diferente do ideal schönbergiano. No entanto, independentemente dos processos técnicos, é o conteúdo emotivo das suas obras que tem dado origem a uma maior adesão por parte do público.

Alban Berg permanece na história como um fenómeno isolado, que conseguiu sintetizar duas estéticas radicalmente opostas (a tradição tonal e a tradição atonal), mas com soluções tão pessoais que impossibilitaram a criação de descendência. De acordo com Michel Fano e Pierre-Jean Jouve: “A desenvoltura de Berg é soberana em matérias de forma, de articulação, de invenção de sonoridade, entre o passado e o futuro da música. Esse revolucionário nada perdeu dos ensinamentos antigos: é um príncipe”. Berg é frequentemente apelidado de classicista da época moderna.

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References:

Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.

Massin, J. & Massin, B. (1983). História da Música Ocidental. Editora Nova Fronteira, S.A: Rio de Janeiro.

McPherson, E. (nd). Alban Berg. Em http://www.musicacademyonline.com/composer/biographies.php?bid=24

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