Ragnarok refere-se ao evento mais importante da mitologia nórdica. Ele é descrito tanto na Edda poética quanto na Edda em prosa. De acordo com os textos, haveria uma enorme e última batalha entre os deuses e os gigantes. Muitas divindades, tais como Odin, Thor e Loki, morreriam.
Após o conflito, uma série de eventos catastróficos atingiria os mundos. Desastres naturais destruiriam o mundo humano, afogando a humanidade em um dilúvio. Depois da destruição, tudo renasceria, mais fértil e próspero do que antes. Os deuses ressuscitariam e reconstruiriam tudo ao lado dos sobreviventes do Ragnarok, guiados por dois humanos: Lif e Lifthrasir.
O Ragnarok tem sido matéria de estudo de especialistas em mitologia há várias décadas. Eles acreditam que esse texto foi escrito em um período posterior ao demais, provavelmente após a cristianização do mundo nórdico. Os estudiosos apontam que esse evento tenha sido inspirado por livros bíblicos, como o Apocalipse.
Essa parte canônica da mitologia nórdica é comparada também a outras narrativas de origem indo-europeia. Há anos especialistas apontam que há uma origem comum entre os mitos europeus, devido à semelhante estrutura mitológica que apresentam. Outras teorias apontam ainda que o Ragnarok possa ter sido inspirado por desastres naturais ocorridos na Islândia.
Ragnarok nas Eddas
A partir da estrofe de número quarenta até a cinquenta e oito da Edda poética iniciam-se as referências ao Ragnarok. Elas são feitas por uma völva, uma profetiza, ao deus Odin:
Nórdico antigo
Fylliz fiǫrvi
feigra manna,
rýðr ragna siǫt
rauðom dreyra.
Svǫrt verða sólskin
of sumor eptir,
veðr ǫll válynd
Vitoð ér enn, eða hvat?
Tradução literal:
Sacia-se no sangue da vida
dos homens predestinados,
pinta as casas dos poderes de vermelho
com sangue carmesim.
Os raios solares tornam-se negros
nos verões que se seguem,
todos os climas ficam traiçoeiros.
Ainda quer saber? E o quê?
A völva continua seu discurso profético e relata o caos que a humanidade ficará:
Nórdico antigo
Brœðr muno beriaz
ok at bǫnom verða[z]
muno systrungar
sifiom spilla.
Hart er í heimi,
hórdómr mikill
—skeggǫld, skálmǫld
—skildir ro klofnir—
vindǫld, vargǫld—
áðr verǫld steypiz.
Mun engi maðr
ǫðrom þyrma.
Tradução literal
Irmãos lutarão
e matarão uns aos outros,
os filhos das irmãs
sujarão o parentesco.
Isso é duro no mundo,
prostituição corrente
— uma era de machado, uma era de espada (e o sol surge)
— escudos são despedaçados —
uma era de vento, uma era de lobo —
antes que o mundo vá precipitadamente.
Nenhum homem terá
misericórdia para com o outro.
A profetiza segue com seu discurso. Ela anuncia que a serpente de Midgard Jörmungandr, começa a se contorcer e provoca ondas de energia na Terra. Os gigantes se agitam, assim como os habitantes do mundo de fogo. A árvore do mundo Yggdrasil, sofre abalos e estremece diante do que vai acontecer.
Os deuses se preparam para a terrível batalha que se inicia. Odin, apesar de auxiliado pelos poderosos guerreiros acolhidos por ele em Valhalla, o Salão dos Mortos, é engolido vivo pelo grande lobo Fenrir. A serpente Jörmungandr abre sua enorme boca e ataca o deus Thor, o protetor da Terra, que derrota a criatura. Logo após, no entanto, ele perece. As pessoas abandonam suas casas e veem o sol tornar-se preto, o mundo afundar nas águas e as estrelas desaparecerem.
Por fim, a völva enxerga a Terra ressurgir das águas. Há animais sob a superfície terrestre, e ela vê uma águia caçar peixes sobre uma cachoeira. Os deuses sobreviventes se encontram e conversam sobre os eventos do passado e tudo pelo qual passaram. A profecia finaliza com a reconstrução do mundo e o surgimento de uma época de paz duradoura.
References:
https://www.britannica.com/event/Ragnarok