A estrutura da fuga
Na fuga as vozes entram sucessivamente imitando-se, entre si, a partir da primeira que introduz uma melodia ou frase curta, a que se chama tema. Depois da entrada de todas as vozes termina a exposição e segue-se, normalmente, um episódio, ou seja, uma passagem de ligação (que, de forma geral, desenvolve algo já apresentado na exposição). O episódio conduz a uma nova apresentação do tema, isolada ou em série, e esta alternância mantém-se até ao fim da peça.
Os contrastes de tonalidade são um elemento fulcral na construção da fuga. Na exposição, o tema começa na tónica; a segunda voz apresenta-o uma 5.º acima (ou 4.º abaixa), ou seja, na dominante, recebendo a designação de resposta. Tema e resposta, tónica e dominante, aparecem, desta forma, alternadamente, de acordo com o número de vozes utilizadas na obra. Uma das funções dos episódios é possibilitar uma modulação para as tonalidades relativas, para que as séries de entradas seguintes beneficiem desta variedade tonal. Mas, uma vez que a exposição inicial termine, as séries de entradas posteriores já não têm necessariamente que manter a alternância da tonalidade entre tema e resposta.
Além do tema, há frequentemente um contratema, com uma natureza de acompanhamento melódico em relação ao tema e à respectiva resposta, aparece na exposição e reaparece ao longo da fuga. A voz que acaba de transmitir o tema o a resposta passa seguidamente ao contratema enquanto a voz seguinte inicia ela própria o tema ou a resposta, e assim por diante.
Por vezes, nas exposições finais verifica-se o acontecimento de um stretto. Este processo consiste numa certa sobreposição das apresentações do tema nas várias vozes, de forma a que uma voz ainda não terminou de apresentar o tema e este surge já, em simultâneo, noutra voz. O stretto tende a aumentar a tensão emocional da série de entradas em que ocorre.
Ocasionalmente, após a exposição (e ainda antes do primeiro episódio) pode haver uma contra-exposição, muito semelhante, no uso das mesmas duas tonalidades, à primeira exposição. As apresentações do tema, dentro ou fora de uma exposição, são, por vezes, separadas entre si por uma pequena passagem, menor do que um episódio, a que se chama codetta.
Há dois tipos de fuga com dois temas: num os dois temas aparecem juntos desde o início; noutro, aparecem isoladamente e só depois se combinam. Nas fugas corais (ex: um andamento de oratória) há por vezes uma parte instrumental livre, tratando-se então de uma fuga acompanhada.
Um género mais curto de fuga tem o nome de fughetta. Uma passagem em estilo fugado, que por si só não constitui uma verdadeira fuga chama-se fugato.
Exemplos
O grande mestre da fuga é Johann Sebastian Bach (1685-1750), autor de «Die Kunst der Fuge» (A Arte da Fuga), do «Cravo Bem Temperado» e da «Fuga sobre um tema de Legrenzi». Mas existem fugas extraordinárias em muitas obras, como na «Grosse Fugue, op.133», para quarteto de cordas, de Beethoven (1770-1827), na «Introduction and Allegro», para cordas, de Elgar, e em muitas obras corais. A fuga é, também, usada no final do 2.º Acto de «Die Meistersinger von Nürnberg», de Wagner (1813-1883), e no final do «Falstaff», de Verdi (1813-1901).
References:
Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.
Massin, J. & Massin, B. (1983). História da Música Ocidental. Editora Nova Fronteira, S.A: Rio de Janeiro.