Decorria o ano de 1346 e desde há cerca de 400 anos que não tinha ocorrido qualquer praga na Europa. No passado distante tinham ocorrido violentas epidemias, destacando-se as ocorridas nos reinados dos imperadores romanos Marco Aurélio e Justiniano, durante as quais morreram milhões de pessoas. Mas tais ocorrências tinham sido há tanto tempo que já ninguém se lembrava delas e nenhum médico ou manual de medicina da altura fazia referência a tal tipo de epidemias. A peste é, de forma resumida, uma doença que se transmite aos humanos pelos roedores e seus parasitas, nomeadamente as pulgas. Quando o roedor morre, os seus parasitas que transportam o bacilo procuram outro ser vivo, espalhando assim a doença.
A epidemia de peste bubónica ocorrida na segunda metade do século XIV, que ficou conhecida como Peste Negra, causada pelo bacilo Pasturella Pestis, teve o seu início em Saray, na região do Baixo Volga, durante o ano de 1346, acreditando-se que tenha sido iniciada por um fardo de peles de marmota trazidas por um negociante da Ásia Central. De Saray, a doença espalhou-se para Kaffa, uma cidade na Crimeia, que os Genoveses mantinham como entreposto comercial para fazer trocas com os comerciantes provenientes da Ásia Central.
Um surto epidémico com a intensidade da Pesta Negra apenas é possível se existir uma grande proximidade entre os humanos e os roedores infetados. E de facto, era o que acontecia durante a Idade Média, em especial nas embarcações cujos porões estavam infestados de todo o tipo de bichos.
A partir da segunda metade do ano 1347, os barcos genoveses que faziam escala em Kaffa começam a espalhar a doença por vários portos do Mediterrâneo e o surto começa a dizimar de forma impiedosa. Constantinopla, Atenas, Alexandria, Génova e Marselha são das primeiras cidades a sentirem os efeitos da doença logo em 1347. No ano seguinte já toda a costa mediterrânica está afetada e começa a chegar também ao norte de França e ao sul de Inglaterra. Crê-se que foi nos anos de 1347 e 1348 que mais mortes terão ocorrido. Entre 1349 e 1352, a epidemia acaba por se espalhar a toda a Europa, incluindo os países do Báltico e a parte ocidental da Rússia.
Sobre o número de mortos, a especulação é muita, mas acredita-se que nas cidades cerca de 2/3 da população tenha contraído a doença e destes, cerca de 70% terão morrido. No campo as dúvidas são ainda maiores, embora se acredite que a taxa de mortalidade tenha atingido níveis semelhantes ao que aconteceu nas cidades. Feitas as contas, deverá ter morrido perto de metade da população europeia e do próximo oriente.
Sobre as consequências da epidemia, estas foram imensas e a todos os níveis económicos e sociais. Nos locais onde se iniciava, a reação das autoridades era pronta e em poucos meses conseguia-se controlar a situação. O desespero levou contudo a algumas situações extremas de histerismo como o massacre de judeus, que se pensava serem os causadores da epidemia, ou a prática de procissões de auto-flagelo em especial na região do Reno. Mas a médio e longo prazo, as consequências eram inevitáveis e surpreendentemente positivas em alguns aspetos: a falta de mão de obra levou a que os salários dos trabalhadores aumentasse e os campos abandonados durante vários anos tornaram-se mais produtivos.