História Pré-Colonial
As características do território que é atualmente Moçambique sempre foram muito propícias à fixação de populações. De facto, as extensas planícies costeiras e os longos vales de aluvião conferem às terras uma grande fertilidade, sempre foram muito convidativas quer para povos caçadores-recoletores, quer para agricultores e criadores de gado. Pensa-se que os Khoisan tenham sido o primeiro povo a fixar-se na região, há vários milhares de anos. Muitos séculos mais tarde, entre os séculos I e IV, os Bantu chegam também à região. Os Bantu eram já um povo tecnologicamente avançado, com técnicas agrícolas desenvolvidas que lhes permitiam o cultivo de cereais e de muitos outros produtos, e com uma manufatura também já muito aperfeiçoada nomeadamente ao nível da olaria, da tecelagem e da metalurgia.
A partir do século IX começam a chegar ao território mercadores muçulmanos provenientes da região do Golfo Pérsico. Estes mercadores procuravam essencialmente ouro e outros metais, que trocavam por tecidos que traziam do Médio-Oriente e da Índia. Este comércio tornou-se tão florescente e lucrativo que os muçulmanos criaram vários entrepostos na costa, destacando-se o entreposto de Sofala, mais tarde conquistado pelos portugueses.
Com o florescimento do comércio e com o crescimento demográfico, a região começou a tornar-se atrativa para outros povos. Em meados do século XIII um importante Estado nasce no território que é hoje o Zimbabwe (o Primeiro Estado do Zimbabwe) e abrangia partes do atual território de Moçambique. O Primeiro Estado do Zimbabwe florescia sobretudo com a atividade de mineração e metalurgia do ouro, que comercializava com o muçulmanos estabelecidos ao longo da costa.
Por volta de meados do século XV outros povos chegam à região do atual Moçambique, submetendo os povos aí estabelecidos e dando origem ao Império dos Mwenemutapas, que dominava um território que se estendia desde o planalto zimbabweano até ao Oceano Índico, e desde o rio Zambeze até a atual cidade de Inhambane. A capital deste império foi fixada próximo do rio Zambeze, no norte da atual província moçambicana de Manica.
História Colonial
Com a chegada dos portugueses no fim do séc. XV, a história da região muda radicalmente. Gradualmente os mercadores portugueses apoiados pelo exército foram penetrando para o interior do território dos Mwenemutapas e fundando diversas cidades ao longo dos principais rios e ao longo da zona costeira. Em 1607 conseguiram mesmo a concessão de todas as minas do território Mwenemutapas, levando ao seu gradual declínio. Poucos anos depois, Mavura, rei dos Mwenemutapas, declara-se vassalo do rei de Portugal.
No fim do século XVII os Mwenemutapas são substituídos pelos Changamiras que entraram várias vezes em conflito com os portugueses. Apesar disso, os portugueses conseguiram manter sempre o controlo sobre as zonas costeiras e sobre todo o vale do Zambeze. Uma das formas encontradas para conseguir dominar o território era a atribuição de uma espécie de direitos senhoriais temporários (‘Prazos da Coroa’) a troco de uma renda e a fixação de colonos, muitos dos quais trazidos da Índia.
O sistema feudal dos Prazos da Coroa não foi contudo muito pacífico, levando muitas vezes à revolta e à recusa de pagamento das rendas, e obrigando a intervenções mais musculadas por parte dos portugueses.
Nesta altura, os principais interesses económicos portugueses na região eram a mineração do ouro, o marfim e o tráfico de escravos que enviavam para a América. Contudo, a partir do século XIX, e com o fim da escravatura, os interesses económicos alteram-se radicalmente, e o negócio de escravos e de marfim passa a ser gradualmente substituído pelo cultivo de várias espécies de oleaginosas, entre as quais amendoim, gergelim e copra, e levando ao estabelecimento de várias companhias europeias que adquiriam estes produtos e os exportavam para fabrico de óleos alimentares e para indústrias de sabões, entre outras. Já no fim do século XIX começam a surgir também grandes plantações de coqueiros, de sisal e de cana sacarina.
Em meados do século XIX um outro grupo, em fuga do território dos zulus, entra pelo sul do território de Moçambique e funda o Império de Gaza, que no seu apogeu ia desde as margens do Limpopo até ao Zambeze. A relação dos reis de Gaza com os portugueses teve altos e baixos, até que, já no final do século XIX, e face à ascensão do Império de Gaza que subjugava todas as tribos da região, o rei português ordena a captura de Gungunhana, rei de Gaza, e o deporta para os Açores.
Paralelamente, e feita uma grande ofensiva contra os pequenos estados islâmicos que se formaram a norte do território e que, aliados aos pequenos reinos macuas do interior, continuavam a resistir aos portugueses.
Era o fim do poder tribal e do poder islâmico e o domínio absoluto de Portugal sobre todo o território do que é hoje Moçambique.
Nesta fase, uma das formas encontradas por Portugal para administrar e manter o domínio sobre Moçambique foi a concessão de grandes parcelas do território a companhias privadas: as chamadas companhias majestáticas, que tinham direitos quase soberanos sobre essas parcelas de território e seus habitantes. As principais foram a Companhia do Niassa e a Companhia de Moçambique. Foi também nesta fase que foi criada a figura do Régulo, membros da aristocracia indígena, encarregados da coleta do ‘imposto-de-palhota’ e do recrutamento de trabalhadores para a administração.
Com a chegada do Estado Novo em Portugal, as companhias majestáticas são encerradas e todo o território volta à administração direta do Estado, e em 1930, com a publicação do Ato Colonial, é profundamente reestruturada a forma com o Estado administrava as colónias. Uma das consequências da nova legislação foi a atribuía diverso tipo de poderes aos líderes locais. Em 1933, foi a vez da nova Constituição, que reforçava fortemente os meios de repressão sobre a população indígena e que, em simultâneo incentivava a ida de colonos portugueses para as colónias.
Já na década de 1950, novas políticas foram adotadas para as colónias, destacando-se os Planos de Fomento que incluíam o financiamento à construção de infraestruturas e o incentivo à fixação de colonos.
No final da década de 1950 e início da década de 1960, termina um longo período relativamente estável e pacífico. De facto, e à semelhança do que acontecia um pouco por toda a África, surgem também em Moçambique vários movimentos de resistência à presença e domínio colonial português: foram eles a UDENAMO, a MANU e a UNAMI, os quais mais tarde se uniram para dar origem à FRELIMO. Em 1964, e dada a falta de acordo do governo português para negociar a independência de Moçambique, é dado início à Guerra de Libertação, guerra essa que se mantém até à assinatura dos Acordos de Lusaka em 7 de setembro de 1974, já depois da Revolução do 25 de Abril.
História Pós-Independência
A independência de Moçambique relativamente a Portugal acontece em 25 de Junho de 1975, dando início a uma nova fase da história do país. Samora Machel, líder da FRELIMO, assume os comandos do país e torna-se no seu primeiro Presidente.
Um dos primeiros passos dado pelos novos governantes, com ideologia marcadamente socialista, foi a nacionalização de diversos serviços considerados como essenciais, nomeadamente a Saúde, a Educação e a Justiça. As nacionalizações chegaram também à estrutura produtiva com as empresas a serem retiradas aos seus proprietários (que na sua grande maioria abandonam o país) e entregues a comités de trabalhadores associados à FRELIMO. Face à grande incapacidade de gestão destes comités, muitas destas empresas encerram ou são aglutinadas por outras de maior dimensão e transformadas em Empresas Estatais.
Ao nível agrário foram adotadas políticas de ‘sociabilização do campo’, e que passavam pela criação de cooperativas agrícolas (às quais o Estado assegurava o fornecimento de insumos e simultaneamente a compra dos produtos produzidos) e pela organização dos agricultores em ‘aldeias comunais’ (às quais o Estado assegurava diverso tipo de infraestruturas e de serviços públicos).
O clima relativamente pacífico que se viveu no país logo após a sua independência não foi, contudo, de longa duração. De facto, diversos dissidentes da FRELIMO instalaram-se na Rodésia onde obtiveram o apoio para formar um movimento de oposição. É assim formada a RENAMO que, a partir da Rodésia lança diversos ataques a posições da FRELIMO e a numerosas infraestruturas, causando grande desestabilização económica e social e dando início a um Guerra Civil que duraria várias décadas.
Com a independência do Zimbabwe (ex-Rodésia) em 1980, a RENAMO transfere a sua base de apoio para a África do Sul. É com a ajuda da África do Sul que são lançados vários ataques a Maputo no início da década de 1980 (supostamente para destruir bases do ANC aí instaladas). Em 1983, com a assinatura do Acordo de Nkomati, a África do Sul compromete-se a deixar de apoiar militarmente a RENAMO e, poucos anos depois o movimento transfere a sua base central para a Gorongosa. Com esta transferência da sua base para território moçambicano, a RENAMO estende as suas ações de guerrilha a todo o território do país. Uma das principais vitórias da RENAMO neste período foi o de obrigar o governo a abandonar a política das aldeias comunais e das machambas estatais.
Finalmente, em 1992, e após várias pressões internacionais para que a FRELIMO abandonasse a política socialista e adotasse o multipartidarismo, é assinado em Roma o Acordo Geral de Paz entre as duas partes em conflito. Segundos os termos do acordo, dever-se-ia proceder ao desarmamento das tropas afetas à RENAMO e a realização de eleições multipartidárias (as quais viriam a acontecer em 1994).
A partir daí Moçambique passou por um lento processo de pacificação e desenvolvimento económico, assente num Programa de Reestruturação Económica que previa a adoção de um regime de Economia de Mercado que incluía liberalização dos preços de vários produtos e serviços, a abertura dos setores produtivos à iniciativa privada e a reprivatização de várias empresas antes nacionalizadas.