Contextualização das Tréguas de Natal:
As Tréguas de Natal ocorreram no enquadramento da Primeira Guerra Mundial e foram um dos momentos de maior simbolismo da História bélica. O primeiro grande conflito mundial foi visto na época como a solução para todos os conflitos.
No início do conflito, em 1914, existia a certeza por parte da Tríplice Entente e Aliança que o conflito seria resolvido rapidamente. No fim de 1914 o conflito estava resumido a uma luta de trincheiras extremamente violenta. No dia 24 de Dezembro (Véspera de Natal) as duas coligações em conflito receberam a informação que a guerra iria arrastar-se por meses ou potencialmente anos, algo confirmado posteriormente com o término do conflito em 1918.
Até o fim de 1914 existia a esperança que o conflito fosse solucionado e as hostilidades terminassem antes do dia de Natal. Gorada a possibilidade de paz os alemães começaram a improvisar árvores de Natal, a acender velas e a entoar cânticos natalícios demonstrando que a data natalícia deveria ser comemorada em paz e não em guerra.
Os soldados da Tríplice Entente poderiam ter tirado aproveitado desta revelação das posições alemães para infligir um duro revés militar à Tríplice Aliança, mas o gesto alemão foi interpretado como um verdadeiro momento de paz e conciliação.
Os soldados germânicos rapidamente saíram das suas posições com símbolos de paz e ocuparam a zona desmilitarizada entre as trincheiras. Os soldados da Entente também deixaram as suas posições juntando-se aos alemães na zona neutra, trocando prendas e entoando músicas natalícias em conjunto num momento inédito nos conflitos da humanidade.
Terá inclusivamente ocorrido um jogo de futebol entre os soldados da Entente e da Aliança com uma vitória por três bolas a duas da última.
Alguns historiadores defendem que as Tréguas de Natal não foram resultado de uma atitude espontânea mas sim de um cessar-fogo necessário para o rearmamento, abastecimento e fortalecimento de posições e efectivos. Os menos cépticos e pragmáticos acreditam na magia do momento propulsionada pelo Natal.
Indiscutível é que com ou sem pragmatismo não seria possível uma Trégua noutro momento festivo sem ser o Natal, reforçando o espírito natalício de união e partilha. Espirito que segundo alguns poderá estar associado com a sociedade de consumo.
As Tréguas de Natal tornaram-se um marco na História pelo seu carácter inédito. Um facto que joga em favor dos cépticos das Tréguas de Natal é, não terem sido repetidas nos restantes anos de conflito. Os comandantes militares não queriam que esta iniciativa fosse replicada pois colocaria em causa a estratégia militar, e a extrema violência e falta de humanidade que a Primeira Guerra Mundial atingiu após 1914 impedia uma reunião pacífica.
References:
BURLEIGH, Michael, Poder Terrenal Religión y política en Europa. De la Revolución Francesa a la Primera Guerra Mundial, Madrid, Taurus, 2005.
FERRO, Marc, História da Primeira Guerra Mundial, 1914-1918, Lisboa, Edições 70, 1992.