Contextualização das Cruzadas:
As Cruzadas ou Guerra Santa foram a tentativa do cristianismo ocidental em recuperar os territórios da Terra Santa – Palestina, de entre o século XI a XIII. As Cruzadas devem a sua designação, ao facto de quem deslocava-se para a Terra Santa vestir uma túnica com uma cruz vermelha.
Jerusalém (Cidade Santa) é o foco central de três religiões Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Como tal, sempre foi alvo de disputada a partir do momento que cada uma destas crenças emergia. Inicialmente território judaico, o território palestiniano foi conquistado pelo Império Romano que converteria a região ao cristianismo mais tarde. No século VII a expansão territorial islâmica conquistaria esta região ao Império Bizantino, entidade cristã ortodoxa e sucessora do Império Romano do Oriente.
Os muçulmanos controlaram a região durante vários séculos. Mas a dimensão colossal dos territórios conquistados pelo Califado Abássida impedia a sua correcta e eficaz governação. Gradualmente o poder Abássida foi fragmentado, levando aos surgimento de outras entidades governativas.
O Império Bizantino tirou partido deste enfraquecimento muçulmano e reconquistou algumas parcelas de território palestiniano no decorrer dos séculos X e XI. O ressurgimento do poder muçulmano nos turcos seljúcidas levou o Imperador bizantino Aleixo I, a solicitar auxílio ao Ocidente.
A 27 de Janeiro de 1096 no concílio de Clermont, o Papa Urbano II, instigou os nobres francos a reconquistarem Jerusalém aos muçulmanos. Mediante a promessa de absolvição perante qualquer pecado cometido no passado ou na Terra Santa, milhares de pessoas aderiram a este projecto.
Esta indulgência papal também esteve na génese da brutalidade cristã na Terra Santa. Com a certeza de perdão divino, foram cometidas as maiores atrocidades na Terra Santa como o massacre indiscriminado aquando da tomada de Jerusalém em 1099. Jerusalém era uma cidade cosmopolita onde conviviam pacificamente judeus, cristãos e muçulmanos.
A tomada da Cidade Santa na Primeira Cruzada resultou no massacre de toda a população independentemente da sua idade, género, e religião. Um pouco à imagem do que vemos actualmente no extremismo islâmico, o fanatismo religioso e perdão total de ofensas mediante um suposto propósito divino, é causador das maiores atrocidades.
No total foram organizadas nove cruzadas:
- Primeira Cruzada (1097-1099);
- Segunda Cruzada (1147-1149);
- Terceira Cruzada (1189-1192);
- Quarta Cruzada (1202-1204);
- Quinta Cruzada (1217-1221);
- Sexta Cruzada (1228-1229);
- Sétima Cruzada (1248-1254);
- Oitava Cruzada (1270):
- Nona Cruzada (1271-1272).
Aproximadamente dois séculos depois da convocação de Guerra Santa por parte de Urbano II, a última cidade cristã na Terra Santa, Acre, é conquistada pelos muçulmanos colocando um ponto final nas Cruzadas.
As Cruzadas pelo menos na Palestina foram um fracasso total. Dois factores primordiais justificam este fracasso, as divisões entre cristãos, e o facto da grande maioria da população local ser-lhes hostil impedia a real ocupação do território. Os Cruzados estavam circunscritos às cidades que conquistavam, não podiam vaguear livremente pelo território mediante o risco de ataque muçulmano.
Mias eficaz foi o contributo das Cruzadas na reconquista de praças na Península Ibérica como Saragoça ou Lisboa, aquando da movimentação dos cruzados até a Terra Santa no contexto da Segunda Cruzada.
Na Era das Cruzadas emergiam influentes ordens militares como os Templários ou os Hospitalários. Em certa medida as Cruzadas potenciaram a troca de conhecimento entre o Oriente e Ocidente, abriram novas rotas comerciais potenciando o despertar económico e cultural na Europa, mas também hostilizaram o Islão relativamente ao Ocidente, levando a uma menor abertura e extremismo.
References:
FONSECA, Luís Adão da; La Cristiandad Medieval, EUNSA, 1984
BALARD, Michel (et alii); A Idade Média no Ocidente: dos Bárbaros ao Renascimento, D.Quixote, 1994
LEBRUN, François; As grandes datas do cristianismo, Editorial Notícias, 1992