As origens do Condado de Barcelona remontam ao século IX, e enquadram-se no processo de Reconquista Cristã da Península Ibérica após a conquista árabe de 711.
A conquista islâmica da Península e tentativa de expansão além Pirenéus por parte desta civilização para o Reino Franco, resultou na criação da Marca Hispânica pelos francos. A monarquia franca, que por esta altura era controlada pelos Carolíngios, antigos Mordomos do Palácio, tinha por norma criar territórios tampão nas suas fronteiras de forma a controlar e dissuadir o avanço inimigo, é neste contexto que surge o Condado de Barcelona.
O primeiro passo para a criação deste Condado/Marca foi a conquista da praça de Giroma em 785 e da própria cidade de Barcelona em 801, sobre a alçada directa do reino franco e com Bera como primeiro Conde, foi fundado o Condado em 801. Bera era um aristocrata local, numa tentativa de preservação da identidade e carisma visigótico e de legitimação da autoridade franca. A regência de Bera foi contestada por defender uma política de paz com os muçulmanos, em vez de uma postura agressiva e belicista de reconquista territorial. Bera acabaria deposto através de um duelo, e a nobreza franca tomaria conta do Condado de Barcelona transmitindo hereditariamente o território em detrimento da eleição visigótica do espaço.
Durante o século X os Condes de Barcelona foram cimentando a sua posição na Península, e maior independência relativamente aos francos. Esta soberania local intensificou-se após a alteração dinástica em França dos Carolíngios para os Capetos em 988 e a falta de auxílio militar franco aos aliados Hispânicos aquando das incursões de Almançor a norte, que dizimaram os territórios cristãos. A anexação de pequenos condados cristãos, expansão para territórios mouriscos a Sul e colonização da região da Tarragona, aumentaram a base de recrutamento militar e financeira, incrementando o poder do Condado de Barcelona e a sua independência relativamente à França.
Durante a governação do conde Raimundo Berengário I, o Condado deu passos fundamentais para a consolidação da sua independência. Foram controlados os nobres rebeldes, e foram estabelecidas um conjunto de leis que regiam as práticas e costumes no Condado, este conjunto de regras ficou conhecido como Usatges de Barcelona. Fundamental para a soberania deste espaço, foi a passagem em testamento de Raimundo aos seus filhos do Condado sem divisão do território, prática recorrente anteriormente e que muitas vezes gerava conflitos e aspirações separatistas.
No século XII o Condado de Barcelona uniu-se dinasticamente à Coroa de Aragão, através do casamento de Raimundo Berengário IV com Petronila de Aragão, desta união nasceu Afonso II primeiro rei de Aragão e Conde de Barcelona. A partir deste momento, os territórios iriam ser governados em conjunto pelo monarca de Aragão, que mantinha o título de Conde de Barcelona. Os dois territórios mantiveram a sua coesão territorial, com instituições de governo autónomo e manutenção das suas leis e costumes.
A união da Coroa de Castela e Aragão no século XV manteve o Condado de Barcelona como uma das principais unidades políticas regionais de Espanha. Em 1714 o Condado é oficialmente extinto após a Guerra de Sucessão Espanhola e tentativa de independência da Catalunha.
Esta região voltaria a ter autonomia no decurso do século XX com a fixação das Regiões Autónomas em Espanha. O legado do Condado de Barcelona perdura nos nossos dias, com as aspirações de independência catalãs, baseadas na língua e costumes originários condais.
References:
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente (Coord.); Historia de España de la Edad Media, Ariel, 2002.
GARCÍA DE VALDEAVELLANO, Luis; Curso de Historia de las Instituciones Españolas, Alianza Editorial, 1982