“Eu sou Ciro, rei do mundo, grande rei, rei legítimo, rei de Babilônia, rei da Suméria e de Acade, rei das quatro extremidades (da terra), filho de Cambises (Ka-am-bu-zi-ia), grande rei, rei de Anzã, neto de Ciro [I]… descendente de Teíspes… de uma família que sempre exerceu a realeza.” (Ancient Near Eastern Texts [Textos Antigos do Oriente Próximo], J. Pritchard, 1974, p. 316)
Assim se apresentou Ciro no cilindro de Ciro. Foi um Rei da Pérsia entre 559 AC e 530 AC. Ele pertencia a linhagem real do Anzã, uma localização precisa incerta mas situada perto das montanhas a Leste do Elão. Esta linhagem de reis é chamada de Aquemêndia, segundo Aquemêndes, pai de Teíspes.
Os pormenores relacionados com o nascimento de Ciro II são um tanto obscuros e dependem dos relatos fantasiosos de Heródoto e de Xenofonte, mas ambos coincidem em alguns aspetos. Apresentam-no como sendo filho de Cambises, governante dos persas, com a sua esposa Mandande, filha de Astíages, governante dos medos. Contudo este parentesco é refutado por Ctésias, que apresenta Ciro como parente de Astíages por casar com a filha deste Amitis.
Ciro sucedeu ao seu pai no trono de Anzã, que estava sob a soberania sumeriana do Rei Medo Astíages. Diodoro, coloca o ano do início do seu reinado, no primeiro ano da 55º Olimpíada, o que equivale a 560/559 AC. De acordo com Heródoto, Ciro revoltou-se contra o domínio medo e por causa da defecção das tropas de Astíages, conseguiu uma vitória fácil conquistando assim a capital Ecbátana. O exército de Astíages, ao dirigir-se para combater rebelou-se contra o Rei medo e entregou-o em cadeias a Ciro. Ciro, conseguiu granjear a lealdade dos medos e assim formou um império Medo-Persa, que batalhavam juntos, sob a liderança de Ciro o Grande.
Ciro, que provavelmente era pagão e devoto do zoroastrismo cumpriu várias profecias bíblicas. A principal ocorreu quando em 539 AC conquistou a Cidade de Babilónia, até então a potência mundial dominante.
De acordo com Heródoto Ciro “desviou o rio por meio dum canal para o lago [o lago artificial alegadamente feito em época anterior pela Rainha Nitócris], o qual até então era um brejo, fez o rio baixar até que seu anterior leito pudesse ser vadeado. Quando isto se deu, os persas, postados com este objetivo, entraram em Babilônia pelo leito do Eufrates, tendo a água baixado até cerca do meio da coxa de um homem. Ora, se os babilônios tivessem sabido ou percebido de antemão o que Ciro planeava, teriam deixado os persas entrar na cidade e acabado com eles; porque teriam então fechado todos os portões que davam para o rio e teriam subido às muralhas que beiravam as margens do rio, e assim apanhado seus inimigos como numa armadilha. Mas, conforme aconteceu, os persas os apanharam desprevenidos; e, em vista da grande extensão da cidade — assim dizem os que moram ali — aqueles que se encontravam mais afastados do centro dela foram vencidos, mas os habitantes na parte central não sabiam de nada; durante todo este tempo eles dançavam e se divertiam numa festa . . . até se darem bem conta da verdade. Assim foi Babilônia então tomada pela primeira vez.”
Outros relatos (como de Xenofonte), diferem um pouco, mas no essencial mantêm a ideia de que Ciro, desviou o Rio Eufrates e entrou na cidade.
Interessante alguns detalhes sobre aquele período registados pelo historiador do primeiro século Josefo. Ele escreveu baseado nas declarações de um sacerdote babilónio de nome Beroso: “No décimo sétimo ano do seu reinado [o de Nabonido], Ciro veio da Pérsia com um grande exército, e, depois de subjugar o restante do reino, marchou contra Babilônia. Informado sobre a sua vinda, Nabonedo [Nabonido] levou seu exército ao encontro dele, lutou e foi derrotado, fugindo depois com uns poucos acompanhantes e encerrando-se na cidade de Borsipa [a cidade gémea de Babilônia]. Ciro tomou Babilônia, e depois de dar ordens para a demolição das muralhas externas da cidade, porque ela apresentava uma aparência temível e enorme, passou para Borsipa, para sitiar Nabonedo. Este rendeu-se, sem esperar a investida, foi tratado humanitariamente por Ciro, que o mandou embora de Babilônia, mas deu-lhe Carmânia como residência. Ali, Nabonedo passou o resto da sua vida, e ali morreu.” (Against Apion [Contra Apião], I, 150-153 [20])
Na noite do sítio de Ciro, ele matou o regente da época de nome Belsazar, filho de Nabonido.
Deste modo, Ciro pôs fim ao domínio mesopotâmio do mundo e iniciou o seu próprio domínio. O Cilindro de Ciro, que se acredita ter sido escrito para publicar em Babilónia, tem cunho fortemente religioso e oferece crédito a Marduque como responsável pela vitória de Ciro. Ele diz:
“Ele [Marduque] vistoriou e inspecionou todos os países, à procura dum governante justo, disposto a liderá-lo . . . (na procissão anual). (Daí) pronunciou o nome de Ciro (Ku-ra-as), rei de Anzã, declarou-o (lit.: pronunciou [seu] nome) para se (tornar) o governante de todo o mundo. . . . Marduque, o grande senhor, um protetor de seu povo/adoradores, viu com prazer suas boas ações (i.e., as de Ciro) e sua mente (lit.: coração) reta, (e assim) ordenou-lhe que marchasse contra sua cidade, Babilónia
(Ká.dingir.ra). Fez com que se pusesse na estrada para Babilônia, seguindo ao seu lado como verdadeiro amigo. Suas tropas espalhadas — seu número, como o da água dum rio, não podia ser determinado — caminhavam junto dele, com as armas guardadas. Sem nenhuma batalha, ele o fez entrar na sua cidade, Babilónia (Su.an.na), poupando Babilínia (Ká.dingir.raki) de qualquer calamidade.”
Ciro, seguia uma política tolerante e humanitária para com os povos no seu domínio. De acordo com o Cilindro de Ciro:
“Devolvi a certas (anteriormente mencionadas) cidades sagradas, do outro lado do Tigre, cujos santuários ficaram arruinados por longo tempo, as imagens que (costumavam) viver neles, e estabeleci para elas santuários permanentes. Eu reuni todos os seus (anteriores) habitantes e devolvi-lhes suas habitações.”
Acredita-se que Ciro morreu em Batalha em 530 AC, mas os pormenores são obscuros. Foi seu filho, à data co-regente, Cambises II que o sucedeu no trono.
Ciro na Bíblia
– O livro de Isaías profetiza e antecipa a vitória e a tática de Ciro, como enviado e ungido de Jeová (o Deus dos hebreus). Escrito cerca de 200 anos antes do nascimento de Ciro.
– O livro de Esdras refere a libertação dos judeus por meio de Ciro, em 537 AC.
– O livro de Daniel refere a conquista de Ciro e morte de Belsazar em 539 AC.
– O Livro de Segundo das Crónicas apresenta uma versão do édito de Ciro.