O desenho de cenários é uma arte que requer imaginação e/ou intuição, sendo por isso um procedimento metodológico importante no âmbito do Ordenamento do Território (exemplo: na elaboração de figuras de planos estratégicos como os PROT).
Antes de mais o conceito de cenário está relacionado com descrições do futuro, baseadas em pressupostos coerentes sobre as diferentes combinações plausíveis que as mudanças sociais, políticas, económicas e tecnológicas podem adotar.
Uma das técnicas mais utilizadas para o desenho de cenários (ordenamento do território) é a elaboração imaginária de histórias plausíveis em que se narram sequências futuras de ações e as consequências das mesmas. O método de desenho dos cenários surgiu no início da década de 70 em França com a DATAR e a partir daí houve múltiplas aplicações em vários campos de ação e quase sempre a construção de cenários é baseada em reuniões de peritos adotando diferentes metodologias e/ou métodos (exemplo: o método de Delphi, impactes cruzados).
O desenho de cenários (ordenamento do território) compreende etapas muito precisas que se encadeiam de forma lógica: a análise do sistema territorial, o diagnóstico, a identificação das variáveis chave, a estratégia de atores, o desenvolvimento de cenários, a eleição e/ou a seleção dos cenários finais e a avaliação dos impactes.
Os cenários poderão ser tantos como quantas as combinações possíveis entre as variáveis do sistema e são retidos os cenários mais plausíveis, recorrendo-se a peritos conhecedores do processo. Por isso, os cenários no âmbito do ordenamento do território podem ser classificados de acordo diferentes tipos, nomeadamente, os cenários possíveis (tudo o que se pode imaginar), os cenários realizáveis (tudo o que é possível tendo em conta os condicionalismos: orçamentais, físicos, técnicos, legais) e os cenários desejáveis (dentro dos possíveis são aqueles que mais nos agradam, mas podem não ser realizáveis).
Os cenários também podem ser classificados por outras tipologias: o cenário tendencial (corresponde à extrapolação das tendências, por vezes confunde-se com o cenário mais provável, mas pode não ser o mesmo; quando o ritmo das mudanças era menor e mais lento, o cenário mais provável era, de facto, a manutenção das tendências, mas hoje já não é assim), o cenário referência (é o cenário mais provável, seja tendencial ou não) e o cenário contrastado e/ou voluntarista (é a exploração de um tema geralmente extremado, corresponde à construção de um caminho que se pretende forçar; em regra geral fixa-se um cenário contrastado como a situação futura ambicionada e depois estuda-se o caminho para lá chegar).
O desenho de cenários (ordenamento do território) acarreta diversas vantagens: os cenários ilustram a complexidade das evoluções, assinalam os problemas identificáveis, de forma a perceber os contextos em que ocorrem; os cenários demonstram o desenvolvimento hipotético de contingências associadas a combinações particulares de objetivos e às suas prioridades; os cenários fornecem uma base para a consideração explícita de hipóteses diversas sobre futuros desenvolvimentos.
Os cenários também trazem consigo limitações na medida em que representam apenas uma probabilidade, isto é, um cenário não pode projetar os parâmetros de comportamento de grupos críticos da população, consumidores, o cenário não consegue antecipar o conjunto de entidades que entrará no processo de implementação e é relativamente fácil prever a ocorrência de determinados fenómenos, mas é difícil prever a sua dimensão.
Apesar das limitações, um bom cenário não é tanto aquele que retrata acertadamente o futuro, mas aquele que ajuda e prepara uma comunidade de um determinado território para se adaptar à mudança. Porém, importa esclarecer que numa reflexão prospetiva é necessário elaborar cenários completos e pormenorizados, por isso, nem todas as combinações de hipóteses, por mais atrativas e/ou mediáticas que sejam, têm credibilidade prospetiva. Para tal é preciso que reúnam quatro requisitos: pertinência, credibilidade, verosimilhança e transparência.
References:
Referências Bibliográficas:
- Gabina, J. (1998). Prospectiva y Ordenación del territorio, Barcelona, Marcombo.
- Godet, M. (1993). Manual de Prospectiva Estratégica, Lisboa, Publicações D. Quixote.
- Guëll, J. M. (1997). Planificación Estratégica de Ciudades, Barcelona, Gustavo Gili (UR24/10.359).