Conceito de Microalgas Tóxicas
As microalgas tóxicas, maioritariamente micro-organismos unicelulares, ou alguns coloniais, são geralmente pertencentes ao fitoplâncton e afectam virtualmente todas as regiões costeiras do mundo. Quando as condições são propícias, certas espécies de microalgas podem crescer em grande quantidade repentinamente formando o que se chama de proliferações ou bloom. Estes são afloramentos tóxicos, mais conhecidos pelo acrónimo em inglês de HABs, Harmful Algae Blooms.
As espécies de microalgas são consideradas perigosas ou tóxicas quando produzem um impacto negativo nas atividades humanas. Entre estas entram também espécies que apesar de não produzirem toxinas, quando formam afloramentos podem causar a morte da fauna marinha devido a falta de oxigénio, particularmente em águas estratificadas. Outras espécies podem provocar apenas a descoloração da água e apesar de não provocarem consequências graves também entram neste grupo. E por último temos as espécies que produzem toxinas que irão entrar na cadeia alimentar e podem provocar danos na saúde humana. Algumas destas ultimas não necessitam de causar afloramentos ou de chegar a grandes concentrações para serem chamados de blooms. Apesar de as microalgas tóxicas constituírem apenas 2% do fitoplâncton (60 a 80 espécies dos estimados 5000 espécies existentes de fitoplâncton) podem causar sérias ameaças à saúde humana com uma consequência enorme de perca económica na industria pesqueira e turismo. Os registos de HABs têm aumentado durante as últimas décadas na sua frequência e distribuição, provavelmente devido a mudanças climáticas, impactos antropogénicos e transferência de água de lastro. Este aumento nos registos de HABs é interpretado por vezes pelo aumento de programas de monotorização globais que aumentaram e que se têm tornado mais frequentes nos últimos anos.
Várias espécies de microalgas produzem toxinas que afectam negativamente a saúde humana e sabe-se que cerca de 75% destas espécies pertencem ao grupo dos dinoflagelados. Moluscos bivalves e outros organismos filtradores, zooplâncton, e peixes herbívoros ingerem estas algas e agem como vectores para os humanos. O consumo de marisco ou peixe contaminado com biotoxinas provenientes de microalgas pode resultar em pelo menos cinco diferentes sintomas de envenenamento:
- PSP – (Paralytic Shellfish Poisoning) Toxina paralisante dos moluscos derivada do géneros Alexandrium spp., Gymnodinium spp. e Pyrodinium spp. Causada por um grupo de biotoxinas marinhas representadas principalmente pela saxitoxina (STX) e pelos seus derivados. Estas são neurotoxinas hidrossolúveis e termo-estáveis que afectam o sistema nervoso central provocando paralisia muscular. Depois da ingestão de moluscos contaminados, os sintomas costumam aparecer dentro dos primeiros 30 minutos.
- NSP – (Neurotoxic Shellfish Poisoning) Causada por Gymnodinium breve. O consumo de brevetoxins e derivados provoca vómitos e náuseas e uma variedade de sintomas neurológicos tal como falhas na fala.
- ASP – (Amnesic Shellfish Poisoning) Toxina amnésica dos moluscos derivada do género Pseudo-nitzschia spp. Este grupo de biotoxinas são representadas principalmente pelo ácido domoico e pelos seus isómeros. Provoca uma variedade de sintomas que em casos leves, aparecem nas primeiras 24 horas: náuseas, vómitos, dores abdominais e diarreia. Em casos mais graves pode se observar a perda de memória, debilidade, confusão, sonolência e vertigens. Os danos neurológicos podem ser permanentes.
- DSP – (Diarrheic Shellfish Poisoning) Toxina diarreica dos moluscos derivada de géneros como Dinophysis spp. e Prorocentrum spp. Uma doença gastrointestinal que causa enormes percas económicas para a industria de moluscos bivalves. DSP designa a acumulação da biotoxina marinha produzida pelas microalgas, susceptível de ser bio-acumulada pelos animais filtradores e de causar intoxicações alimentares, mesmo depois do marisco ser cozido, já que estas toxinas não se degradam com o calor. Este síndrome causa diarreia, náuseas, vómitos. As cãibras são também comuns. Estes sintomas aparecem dentro de meia hora da ingestão do molusco contaminado e duram à volta de um dia. O ácido ocadáico é a principal toxina.
- CFP – (Ciguatera Fish Poisoning) Doença da ciguatera causada por Gambierdiscus toxicus. Esta espécie produz grandes quantidades de ciguatoxina e compostos similares, e não apresenta nem sabor nem odor sendo também termo-resistente. Estas toxinas quando bio-acumuladas causam perturbações gastrointestinais, cardiovasculares ou neurológicas. Estes sintomas raramente são fatais mas podem persistir por semanas ou até anos. Muitas vezes os pacientes recuperam, mas os sintomas podem voltar a aparecer. Esta doença é mais comum em zonas tropicais e subtropicais.
Todas as toxinas descritas previamente são termo-estáveis e cozinhar a altas temperaturas não as degrada. Algumas delas tornam-se voláteis e os aerossóis muitas vezes provocam problemas respiratórios e outras alergias. Estas toxinas parecem ser inofensivas para as espécies que competem ou são os seus predadores, mas são bastante tóxicas para outras formas de vida como os vertebrados. Algumas podem causar a morte de peixes e de outra fauna marinha.
Talvez um dos fenómenos mais conhecido de microalgas tóxico seja o das marés vermelhas. Estas são causadas pelo rápido crescimento de microalgas portadores de toxinas que faz com que se note uma mudança de cor na água para um vermelho-tijolo ou amarela ou alaranjada. Este fenómeno pode acontecer tanto em água doce como em água salgada e tem sido responsável pela destruição de muitas instalações de aquacultura marinha.