Sociobiologia

Introdução

A aplicabilidade do conceito de sociobiologia é tanto ampla como restrita. Como Ernst Mayr (1982) decretou, a sociobiologia lida com o comportamento social dos organismos à luz da evolução. Segundo esta definição, incluir-se-ia a etologia, biopolítica, primatologia, zoologia behaviourista, eugenia, genética populacional, antropologia biosocial, a ecologia evolucionista, e todas as disciplinas que subscrevam ao paradigma neo-darwinista.

Numa aceitação restrita, e de acordo com a linha de pensamento de E.o. Wilson seguida no livro Sociobiology: The New Synthesis (1975),  a sociobologia associa-se à aplicação das teorias da genética evolucionista, derivadas dos trabalhos da moderna síntese consagrada na década de 30 e 40 do século XX, e modificada por figuras como Hamilton, Williams, Maynard Smith e Trivers nas décadas de 60 e 70.

Exposição

Todas as disciplinas sociobiológicas resultam em última análise da teoria de Darwin conhecida como selecção natural (e na forma assumida graças às descobertas posteriores no campo da genética), diferindo apenas pelas diferentes interpretações. Deste modo, as teorias em questão não devem ser confundidas com o movimento denominado de darwinismo social, que é sobretudo um produto das teorias progressistas de Herbert Spencer, e não um aprofundamento da teoria essencialmente não progressiva de Darwin conhecida por descendência com modificação.

A par da abordagem de Darwin, especialmente nas obras The Descent of Man (1871), e The Expression in Man and Animals (1872), a sociobiologia postula que a humanidade é uma dimensão do mundo natural, pelo que as manifestações comportamentais estão sujeitas à análise regida pelos princípios das ciências naturais. Consequentemente, esta disciplina alia-se tanto às humanidades como às ciências duras, contrariamente a pressupor as primeiras como ciências puramente culturais: tal antagonismo foi criado com o debate tradicional desencadeado por Dilthey na década de 80 do século XIX, especificamente a dicotomia entre as naturwissenschaft e as geisteswissenschaft.

Naturalmente que tal perspectiva igualmente embate firmemente contra as tendências anti-positivistas da filosofia, e das ciências sociais e humanidades. Independentemente das diferenças entre estes saberes, e por vezes as disparidades são deveras abissais, as ciências sociobiológicas tramitam teorias cuja meta é a sua aplicabilidade ao comportamento social em geral, quer seja humano ou não-humano. O que não é negar as qualidades únicas do humano, uma vez que a selecção natural controla os indivíduos, estando assim essas qualidades sujeitas aos postulados da teoria.

Existem inúmeras tradições que preservaram o legado darwiniano: a primeira é história natural, a observação minuciosa do comportamento dos animais domésticos e selvagens, pássaros e peixes, desde os organismos situados na base da pirâmide animal aos mamíferos situados no topo, tendo esta tarefa sido prosseguida fora da academia por amadores dedicados; e no plano académico esta actividade tornou-se conhecida como etologia, acabando complementada após a Segunda Guerra Mundial pelos desenvolvimentos notáveis da primatologia.

Outra tradição categórica deriva da redescoberta dos escritos de Mendel e da ascensão da genética. Este desenvolvimento foi independente na sua origem, mas uma vez fundida com a teoria darwiniana da selecção natural, progrediu como o impressionante campo conhecido como genética populacional, cuja fundamento principal cingiu-se à variação genética das populações em termos cronológicos. Estas ideias convergiram com grande destaque na síntese moderna, que uniu a pesquisa naturalista com a investigação matemática.

Constata-se frequentemente que a sociobiologia nasceu quando E.O. Wilson aproveitou os conceitos discutidos acima, e os reuniu com os dados fornecidos pela entomologia, etologia e primatologia, produzindo a nova síntese que substituiu a síntese prévia de Huxley.

A ambição de Wilson prendia-se com o ordenamento comportamental das diversas espécies, desde os insectos, e passando pelos primatas, até culminar no humano. A influência desta síntese maciça foi profunda não só nas ciências focadas no estudo do comportamento humano, mas também nas ciências biológicas em geral.

Conclusão

Consequentemente, tanto em termos latos como restritos, a sociobiologia prossegue um caminho que tem influenciado todas as ciências sociais assim como a filosofia ou a literatura. Deste modo, a tentativa de conceptualizar a relação entre o genético e o cultural permanece como a contenda mais volátil das últimas décadas.

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References:

Barkow, J., Cosmides, L. and Tooby, J. (eds) (1992) The Adapted Mind: Evolutionary Psychology and the Generation of Culture, New York.

Chagnon, N. and Irons, W. (1979) Evolutionary Biology and Human Social Behavior, North Scituate, MA.

Wilson, E.O. (1975) Sociobiology: The New Synthesis, Cambridge, MA.

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