Introdução
O conceito de grupos étnicos é correntemente compreendido como unidades fundamentais da organização social, cuja ordem consiste na definição outorgada pelos seus membros, ou por outros, e sobretudo, pelo sentido em que partilham uma génese histórica comum, onde são incluídas as crenças religiosas, uma linguagem semelhante, e uma tradição cultural partilhada. A continuidade dos grupos étnicos como “átomos” distintos no decurso do tempo é alcançada através da chamada “transmissão intergeracional” de cultura, tradições, e instituições. Acrescente-se que os grupos étnicos distinguem-se dos grupos organizados pelo parentesco, na medida em que os laços de parentesco derivam largamente da herança biológica. O termo de grupo étnico deriva da palavra grega ethnos, que pode ser traduzida como “comunidade” ou “nação”. Foi o sociólogo Max Weber quem produziu uma das definições modernas mais notáveis sobre os grupos étnicos, que são nas suas palavras, “grupos humanos que partilham a crença de uma origem histórica comum, e cuja força apresenta tal dimensão, que disponibiliza a base para a criação de uma comunidade”.
Problemática
Existem atualmente duas visões contrastantes relativamente à temática em torno dos grupos étnicos: por um lado o prisma objetivista, e por outro lado, a perspetiva subjetivista. Por seu turno, os objetivistas primam pela definição ética, isto é, afirma que os grupos étnicos são entidades socioculturais por inerência distintas, e que possuem fronteiras que delimitam a sua interação e socialização com os outros grupos. Por sua vez, os subjetivistas aceitam uma perspetiva émica, e consideram os grupos étnicos como categorizações próprias que determinam o seu comportamento social dentro e fora do grupo. Subjetivistas como Frederik Barth argumentaram que os grupos étnicos devem ser definidos com recurso a uma identificação e atribuição própria, e tal ponto de vista conduziu mesmo à criação de legislação, tal como a medida política australiana de 1970 que reconheceu o direito à autodeterminação por parte da população aborígene, o que ia de encontro à autoidentificação individual e a respetiva aceitação pela comunidade aborígene. Já os objetivistas adotaram a ideia de que os grupos étnicos são caracterizados por traços culturais e históricos que passaram de geração em geração, ao invés de possuírem um conceito puro definitório. Apesar da falta de consenso no esclarecimento quanto à “matéria-prima” que compõe um grupo étnico, é seguro assumir que tais grupos são entidades distintas com limites, sejam estes reais ou construídos.
As fronteiras indissociáveis dos grupos étnicos coincidem frequentemente com categorias semelhantes ou relacionadas, tal como os conceitos de “raça” ou “nação”. Existe entre os investigadores um consenso de que a “raça” é uma categoria social sem significância biológica, apesar de sustentar-se em crenças populares que consideram as “raças” como entidades biológicas constituídas por pessoas detentoras de uma herança genética distinta. Ressalve-se, no entanto, que não existe evidência científica para suportar esse imaginário persistente. Pode-se, por outro lado, atender à “raça” como uma variante de um ou mais grupos étnicos, uma vez que os grupos raciais são percecionados como fisiologicamente diferentes de grupos exteriores a esse mesmo círculo. O termo nação implica uma consciência própria do grupo étnico, que é mobilizada com o objetivo de se criar ou preservar uma unidade política cuja força política exclusiva ou predominante seja esse mesmo grupo. De acordo com Max Weber, as nações são comunidades étnicas politicamente mobilizadas na qual os membros e os seus líderes tentam criar uma estrutura política especial com a forma de um estado independente. Os grupos étnicos podem também aceitar a solidariedade e o fechamento grupal, para desse modo obterem vantagens em comparação a outros grupos. Tal fechamento pode assumir inúmeras formas, como o casamento endógamo, ou seja, o casamento dentro do mesmo grupo, ou práticas negociais tal como a dominância dos judeus na indústria diamantífera da Antuérpia.
References:
Weber, M. (1978 [1922]) Economy and Society: An Outline of Interpretive Sociology. Ed. G. Roth & C. Wittich. University of California Press, Berkeley.