Um desastre é um evento imprevisível, repentino, localizado e “raro”, que perturba o ambiente e uma estrutura social, infligindo danos substanciais aos indivíduos, grupos e propriedades. Um desastre difere de um acidente atentando que a sua ampla escala provoca profundos impactos individuais e coletivos. Normalmente, um desastre implica, grosso modo, mais de cem mortes num período de tempo relativamente curto.
O estudo sociológico dos desastres remonta ao término da década de 40 do século XX, quando os governos tentaram compreender os prejuízos provocados pela 2ª Guerra Mundial, e começaram a preparar-se para o eventual cenário do Holocausto Nuclear. Primeiramente no “Centro de Pesquisa da Opinião Nacional” (National Opinion Research Center), e posteriormente no “Centro de Pesquisas de Desastres” (Disaster Research Center) no estado de Ohio, os sociólogos basearam-se na experiência com os desastres naturais para criarem o seu próprio modelo disciplinar, pegando aqui e acolá, em variados recursos de subcampos da disciplina.
Desde 1990 que o número de desastres tem aumentado, e Ulrich Bech argumentou que, contrariamente à sociedade moderna industrial baseada na distribuição de bens, a sociedade de risco contemporânea é fundada não só na distribuição de bens como na também na distribuição de perigos: a ciência e a indústria estão a criar cada vez mais riscos com um impacto menos limitado no tempo e espaço. Estes riscos físicos estão situados nos sistemas sociais que almejam controlá-los. Contudo, inúmeras atividades técnicas de risco requerem a confiança cega da sociedade em organizações e instituições inacessíveis e ininteligíveis: o realismo científico deve ser temperado com os pontos de vista do cidadão ordinário, que pode ser afetado pelos descuidos dos sistemas racionais. Por conseguinte, a modernização deve ser “reflexiva”.
Estas observações servem heuristicamente para a problematização de maior parte dos desastres, independentemente da causa. No entanto, para certos propósitos, os sociólogos classificam os desastres segundo uma tipologia, distinguindo frequentemente entre desastres tecnológicos e naturais. Crescentemente, os desastres políticos têm adquirido o seu estatuto como uma terceira categoria de estudo sociológico.
Se antes os desastres naturais eram compreendidos como um ato divino, os numerosos estudos contemporâneos sobre o impacto social das inundações, terramotos, tornados, furacões, incêndios, erupções, fome, pragas e pandemias, demonstraram a importância da estrutura social e contexto cultural na determinação da incidência e desfecho destes eventos. Por exemplo, na obra Ecology of Fear (1998) de Mike Davis, argumenta-se que a sede de lucro no Sudeste californiano sem sensibilidade para com o frágil ecossistema contribui para o despoletar de desastres naturais em cadeia.
Já os desastres tecnológicos são sempre atribuídos ao erro humano. Assim, é dito que produzem mais impactos debilitantes e deveras duradouros – como a raiva, o medo, a incerteza, o stress e desconfiança -, em comparação aos desastres naturais. Na esteira deste pensamento, alguns sociólogos estudaram explosões, quebras de diques, apagões, derramamentos de óleos tóxicos, incêndios, incidentes genéticos, a doença das vacas loucas etc.
Quer sejam naturais ou humanos, os desastres acabam por evidenciar consequências sociais acentuadamente semelhantes: grande parte da perda de propriedade nos desastres urbanos deve-se aos danos provocados, e as vítimas de tais desastres tendem a consistir desproporcionalmente em idosos, indivíduos isolados ou destituídos.
Os desastres tendem a ter um ciclo de vida segundo Drabek (1986), progredindo através dos seguintes estágios: preparação, resposta, recuperação e mitigação. A atenção académica concentrou-se no segundo estágio, uma vez que existe o mito recorrente de que em cado de emergência, dada população entrará em pânico e loucura, respondendo pelo abandono dos seus postos, o que requereria o recurso a uma estrutura controlada de comando para imposição da ordem. Contrariamente a esta visão, alguns estudos demonstram que na eminência de um desastre, os indivíduos convergem no local de desastre, auxiliando quem mais necessita: esta “comunidade terapêutica” é típica em caso de desastre mas não de conflito, defende Freudenberg (1997).
References:
Drabek, T. (1986) Human System Responses to Disaster: An Inventory of Sociological Findings. Springer, New York.
Freudenberg, W. (1997) Contamination, Corrosion, and the Social Order: An Overview. Current Sociology 45:19 39.