Evolução da Terapia de Casal
A terapia de casal desenvolveu-se após a segunda metade do século XX, paralelamente à terapia familiar e em alguns casos de forma independente a esta.
Numa altura em que as teorias psicodinâmicas estavam no seu auge, os problemas conjugais eram vistos como consequências das dificuldades intrapsíquicas dos parceiros. A intervenção tendia então a centrar-se na terapia individual de um ou de ambos (Lopes, 2004).
Com o desenvolvimento da terapia de casal começou-se a dar mais ênfase aos processos interactivos que ocorriam no casal, modificando-se desta forma o enfoque do tratamento para a relação, numa perspectiva em que as mudanças nos parceiros individuais se vão dando enquanto a relação se modifica e vice-versa. Entende-se desta forma que as mudanças individuais e relacionais fazem parte do mesmo processo (Lopes, 2004).
Mais recentemente e segundo diversos autores, a terapia de casal representa uma das modalidades mais difíceis de fazer e a que requer uma ampla experiência e prática clínica. Sampaio e Gameiro (2002) referem que trabalhar relacionalmente sentimentos que são profundamente irracionais é complexo. A construção de uma relação marital começa pelo sentimento de amor inexplicável.
Segundo Lopes (2004) apesar da terapia de casal se centrar nos problemas que surgem a partir da interacção entre dois elementos que mantêm uma relação de intimidade, esta díade marital não pode ser vista isolada. O sistema conjugal encontra-se relacionado com os sistemas familiares anteriores, podendo-se considerar a terapia de casal como uma forma particular de terapia familiar.
Osório e Valle (2002) referem que a dinâmica das relações conjugais se altera em função de factores socioeconómicos e culturais, e do momento do processo civilizatório em que a consideramos. Sem dúvida alguma, as profundas transformações ocorridas na relação conjugal no século XX foram em grande parte determinadas pelos avanços científicos e tecnológicos que mudaram significativamente o perfil das necessidades e dos desejos bem como das expectativas de vida dos seres humanos em geral.
Terapia de Casal
Muitas mulheres procuram combinar a satisfação de uma carreira com o ter filhos. Por sua vez os homens tentam responder cada vez mais ao desafio de partilharem uma casa e as responsabilidades da família, mas ainda existem muitos conflitos em muitos casais no que respeita à divisão equitativa de tarefas e deveres, e ainda, há mais mulheres a optar pela monoparentalidade (Crowe, 1999).
Segundo Barker (2000) com o aumento do número de divórcios e problemas associados ao mesmo, os terapeutas são cada vez mais consultados por casais que pretendem ajuda durante este processo, tanto para evitar maiores danos psicológicos, como para mediação de disputas relativas à guarda dos filhos, problemas financeiros entre outros.
A terapia de casal tem-se centrado cada vez mais nos processos interactivos entre o casal e não nos processos intrapsíquicos dos parceiros, sendo que pode aplicar-se a casais qualquer dos métodos terapêuticos descritos para uso em grupos familiares mais alargados (Barker, 2000).
A terapia de casal é vista como um subsistema da terapia familiar, pelo que perante o pedido de intervenção de um dos elementos do casal, ainda que centrado na problemática da relação, devemos procurar redefini-lo em termos de um conjunto familiar mais amplo, relacionando-o também com outros sistemas familiares nomeadamente a família de origem.
Lopes (2004) refere que seja qual for o pedido ou queixa apresentado pelo casal para iniciar um processo de terapia, é um dos primeiros requisitos para a mesma, a definição de um pedido em conjunto para melhorar a relação, devendo esse mesmo pedido constituir desejo real de ambos.
Assim, e segundo o autor acima referido, numa primeira sessão para a continuidade ou não do processo terapêutico devemos ter como objectivos: permitir que cada um dos elementos do casal exprima de forma clara, concreta e individual o pedido do casal; explorar a história da relação, desde o momento que se iniciou até ao presente; as expectativas que cada um levou para a relação; o grau de diferenciação de cada elemento do casal face à sua família de origem; direccionar a atenção do casal para períodos positivos de vivência conjunta no passado; responsabilizar cada um dos elementos pelos seus próprios sentimentos e desejos através da utilização do substantivo próprio e por fim, estabelecer um contacto com o casal, no qual se podem definir mudanças específicas.
Lopes (2004) conclui que o principal objectivo da terapia de casal é desenvolver um espaço relacional, no qual os elementos do casal possam reencontrar-se com o “nós” que por vários motivos e circunstâncias se perdeu ou diluiu.
Bibliografia:
Barker, P. (2000). Fundamentos da terapia familiar. Lisboa: Climepsi Editores.
Berger, M. (2003). A criança e o sofrimento da separação. Lisboa: Climepsi Editores.
Crowe, M. (1999). Terapia de Casal. In: Bloch, S. Uma introdução às psicoterapias, Lisboa, Climepsi Editores, pp.201-219.
Lopes, S. (2003,2004). Terapia conjugal: uma intervenção com três pacientes em simultâneo. Boletim psicologia, 9 (V), 14-15.
Osório, L. C. (2002). Terapia de famílias: Novas tendências. Porto Alegre: Artmed Editora.
Sampaio, D., Gameiro, J. (2002). Terapia Familiar (5.ºed.). Porto: Edições Afrontamento.
Sani, A. (2004). O discurso de crianças expostas à violência interparental: Estudo qualitativo. Psychologica, 36,109-130.
Relvas, A. P. (2004). O ciclo vital da família: Perspectiva sistémica (3.ºed.). Porto: Edições Afrontamento.
Relvas, A.P. (2003). Por detrás do Espelho. Da teoria à Terapia com a Família (2.ºed.). Coimbra: Edições Quarteto.