O stresse pós-traumático diz respeito a situações que geram ameaça à integridade física e/ou psíquica do indivíduo. Pode ser vivido na primeira pessoa ou o paciente ser testemunha do ocorrido e viver os sintomas associados à perturbação.
De acordo com estudos levados a cabo por Figueira e Mendlowicz (2003) grande parte dos cenários de stresse pós-traumático encontrados na história, são vividos por sobreviventes de grandes guerras. Verifica-se quadros clínicos desta natureza em vítimas da Segunda Grande Guerra Mundial, da Guerra Civil Americana, da Guerra do Vietnam e até mesmo de atentados, como é o caso do 11 de setembro no World Trade Center e no Pentágono (Figueira, & Mendlowicz, 2003).
É importante compreender que os pacientes não reagem todos da mesma forma, segundo os estudos elaborados por Margis (2003). Se alguns pacientes tendem para desenvolver reação aguda ao stresse, outros podem desenvolver perturbação de pânico ou depressão (Margis, 2003).
Em alguns países latinos, verifica-se que o mesmo está mais associado a acidentes de viação, tendo chegado a traduzir-se com contornos de saúde pública e com maior incidência nas faixas etárias entre os 15 e os 24 anos (Figueira, & Mendlowicz, 2003).
Os estudos evidenciam que o stresse pós-traumático está associado a características específicas tais como “… a exposição a um evento que envolva a ocorrência ou a ameaça consistente de morte ou ferimentos graves para si ou para outros, associada a uma resposta intensa de medo, desamparo, ou horror…” (Figueira, & Mendlowicz, 2003, p. 12).
Corroborando estes estudos, outros levados a cabo por Margis (2003) evidenciam respostas de revivência do ocorrido e comportamentos de fuga com medo de voltar a passar pela mesma situação.
Aliadas a estas características encontramos consequências associadas ao evitar de situações que possam lembrar o evento que gerou o trauma ou estímulos que se possam relacionar com o mesmo e que geram respostas automáticas de stresse (Figueira, & Mendlowicz, 2003; Margis, 2003).
Este tipo de evento, segundo Figueira e Mendlowicz (2003) passa pelo registo de situações vividas ou testemunhadas pela pessoa, nas quais existe risco de morte ou de graves ferimentos físicos e que possam ameaçar a sua integridade física ou a de terceiros (Figueira, & Mendlowicz, 2003).
É comum que indivíduos que se encontrem em situação de stresse pós-traumático tenham comportamentos evitativos em relação a vários cenários como afastamento das outras pessoas, evitar participar em determinados eventos e ter respostas de hiperexitabilidade e sintomas de alteração do sono, surtos de raiva, problemas de concentração, assustar-se cim facilidade, entre outros (Margis, 2003).
Além disto a pessoa tem uma reação de medo intenso, impotência ou horror (Figueira, & Mendlowicz, 2003).
Para ser possível diagnosticar um quadro de stresse pós traumático é também importante fazer uma correta avaliação sendo que o paciente tem de preencher alguns requisitos como a dificuldade em falar do assunto, o medo, a vergonha e a tentativa de manter a situação em segredo (Figueira, & Mendlowicz, 2003).
Podemos observar este quadro em muitos pacientes com experiência de abuso sexual na infância (Figueira, & Mendlowicz, 2003).
Devido à dificuldade em falar do acontecimento, é importante que o clínico seja capaz de abordar a situação com sensibilidade face ao mesmo para que o paciente se sinta confortável para falar sobre o assunto (Figueira, & Mendlowicz, 2003).
Conclusão
O stresse pós-traumático diz respeito a um determinado conjunto de sintomas e comportamentos vividos pelo paciente e originados por uma situação que possa ter sido geradora de ameaça e ferimento/morte. O indivíduo pode ou não viver a situação na primeira pessoa, ou seja, também é possível que os sintomas sejam vividos por alguém que não viveu o cenário na primeira pessoa mas tenha sido testemunha do mesmo. É importante compreender que os sintomas e comportamentos não são vividos sempre da mesma forma de indivíduo para indivíduo e que o clínico esteja preparado para ser capaz de criar uma relação de confiança que o permita fazer o devido acompanhamento.
References:
- Figueira, I., & Mendlowicz, M. (2003). Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático. Revista Brasileira de Psiquiatria 2003; 25 (Supl I): 12-6;
- Margis, R. (2003). Comorbilidade no transorno de estresse pós-trumático: regra ou exceção? Revista Brasileira de Psiquiatria 2003; 25 (SuplI): 17-20.