Perturbação de conduta

Conceito de Perturbação de conduta

A perturbação de conduta é uma perturbação disruptiva do comportamento que se caracteriza por comportamentos repetitivos e persistentes de agressão a outras pessoas (e.g. bullying) ou animais, degradação ou destruição de propriedade (e.g. vandalismo de propriedade alheia), roubo ou furto e violação de regras (e.g. fugir de casa). Neste sentido, a perturbação de conduta manifesta-se pelo desrespeito dos direitos dos outros, pela escassa preocupação e empatia por estes, assim como pela dissimulação ou mentira.

Os comportamentos manifestam-se nos diferentes contextos de vida da criança ou adolescente, destacando-se assim os contextos familiar e escolar. As crianças ou adolescentes com perturbação de conduta apresentam dificuldades no relacionamento interpessoal, pela sua impulsividade e agressividade, frequentemente despoletada pela crença negativa sobre os outros, interpretando o comportamento destes como hostil ou injusto. Esta interpretação dá lugar à culpabilização dos outros e consequente vitimização de si mesmo, associada a baixa tolerância à frustração, dificuldades na resolução de problemas sociais (e.g. dificuldade no pensar antes de agir, ao nível consequencial), na asserção social e na autorregulação (e.g. automonitorização das respostas e comportamentos em geral; autoavaliação ou reflexão).

Frequentemente verifica-se a incidência de comportamentos sexuais de risco, bem como o consumo de substâncias psicoativas (e.g. álcool e substâncias ilícitas), contribuindo para manter o ciclo de comportamentos disfuncionais, quer a nível interpessoal/social, quer a nível intrapessoal. Neste último nível, destaca-se a experiência não adaptativa de emoções disfóricas como a raiva, expressa nos comportamentos de agressividade.

A experiência escolar é caracterizada pelo desinvestimento (e.g. faltas sucessivas), com aparente desinteresse pelas matérias e tarefas, resultando não raras vezes em reprovações do ano escolar e suspensões por comportamentos violentos. O desinvestimento escolar, por sua vez, encontra-se relacionado com a baixa perceção de autoeficácia e pela ausência de objetivos orientadores.

A perturbação de conduta é considerada uma perturbação específica dos estádios da infância e adolescência, tendo início habitualmente entre o término da infância (pelos 10/12 anos) e a adolescência (pelos 16 anos). Após a adolescência, ou remite ou evolui para a idade adulta sob a forma de perturbação antissocial da personalidade.

Ainda na adolescência, pode apresentar comorbilidade com a perturbação de oposição e desafio, assim como com a perturbação de hiperatividade e défice de atenção, sendo estas últimas muitas vezes consideradas precursoras da primeira.

Neste sentido, revela-se crucial o acompanhamento psicológico de crianças e adolescentes com perturbação de conduta tendo em vista a promoção de competências socioemocionais e de resolução de problemas, nomeadamente ao nível da regulação emocional, do pensamento alternativo e consequencial, assim como da assertividade (ao invés da agressividade). Neste âmbito, a reestruturação de crenças não adaptativas é igualmente importante, permitindo a estimulação da flexibilidade cognitiva e consequentemente a substituição de interpretações distorcidas por outras mais funcionais. A mudança a este nível facilitará, por sua vez, a mudança de respostas emocionais desproporcionais por outras mais adaptativas.

É importante que a intervenção realizada se estenda também aos contextos familiar e escolar, na implementação de regras consistentes, mas também pela implementação de reforços positivos face a comportamentos adequados, por vezes desvalorizados no âmbito dos comportamentos desadequados da criança ou adolescente. Para que se verifique uma mais eficiente resolução de problemas, é crucial a colaboração dos pais e professores no sentido de providenciarem modelos de comunicação positiva (e.g. comunicação assertiva ao invés de agressiva), que contribuam para relacionamentos interpessoais mais funcionais.

Palavras-chave: Perturbação de conduta; agressividade; tolerância à frustração; resolução de problemas

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References:

DiGiuseppe, R. & Kelter, J. (2006). Treating Aggressive Children: A Rational-Emotive Behavior Systems Approach. In Ellis, A. & Bernard, M. (Eds.), Rational Emotive Behavioral Approaches to Childhood Disorders. New York: Springer Publications.

Lochman, J., Powell, N., Whidry, J., & Fitzgerald, D. (2006). Agressive Children: Cognitive-Behavioral Assessment and Treatment. In Kendall, P. (Ed.), Child and Adolescent Therapy – Cognitive-Behavioral Procedures. New York: The Guilford Press.

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