Depressão pós-parto

A depressão pós-parto (dpp) é uma perturbação mental frequentemente negligenciada tanto pela mulher como pela família e pelos profissionais de saúde.

Depressão pós-parto

A depressão pós-parto (dpp) é uma perturbação mental frequentemente negligenciada tanto pela mulher como pela família e pelos profissionais de saúde. Isto acontece devido ao facto de poder ser verificada em diferentes graus, sendo que, dependendo de cada um, pode ser vista como patológica ou não patológica. No entanto, ela deve ser alvo de intervenção precoce e adequada o mais rapidamente possível no sentido de não causar danos nem à mãe, nem ao bebé.

Para Moraes, Pinheiro, Silva, Horta, Sousa e Faria (2006) a dpp deve ser tratada como sendo um problema de saúde pública, uma vez que afecta tanto a mãe como o filho, maioritariamente no primeiro mês de vida.

Higuti e Capocci (2003) quando falam de depressão pós-parto (dpp), começam por ressalvar a importância do período puerperal que se insere na fase em que a mulher dá à luz, cuida do bebé e ao mesmo tempo passa por várias mudanças físicas e emocionais.

É uma fase em que a mulher precisa de maiores cuidados por parte da família e dos profissionais de saúde e que vai desde que o bebé nasce até ao momento em que o organismo volta ao estado anterior ao estado gravídico (Higuti, & Capocci, 2003).

Esta fase é caracterizada por vários acontecimentos tais como as mudanças do corpo, as hormonais, a adaptação ao filho, a amamentação, as noites mal dormidas, a carência afectiva, etc e podem ter como consequência o desenvolvimento de uma perturbação mental devido à vulnerabilidade a que a mulher está exposta (Higuti, & Capocci, 2003).

As perturbações mentais que despoletam aquando do parto, diferem de gravidade e podem passar por diferentes graus tais como:

  • Tristeza pós-parto: conjunto de alterações transitórias e auto-limitadas do estado mental materno no puerpério imediato que acontecem nos dez primeiros dias de vida pós parto. Pode ocorrer choro fácil, irritabilidade, alterações de humor, tristeza, fadiga, dificuldade de concentração, insónia e ansiedade (Higuti, & Capocci, 2003). É importante referir que é um quadro clínico normal e que pretende aliviar a ansiedade pós-parto, quando leve (Higuti, & Capocci, 2003).
  • Psicose pós-parto: estado psiquiátrico mais grave e dramático e que acontece em um a dois partos a cada mil, começando nas três primeiras semanas do puerpério, começando por ser agudo e com traços psicóticos (Higuti, & Capocci, 2003).
  • DPP: apresenta-se sem traços psicóticos e pode começar por ser menos agressiva, chegando mesmo a ser ignorada pela equipa médica (Cruz, Simões, & Faisal-Cury, 2005; Higuti, & Capocci, 2003) e pode trazer consequências para a criança e para a mãe (Higuti, & Capocci, 2003). Pode ter sintomas de neurose, ansiedade e irritabilidade, atingindo o pico ao fim do dia e provocar insónia inicial, principalmente em idades mais precoces (Higuti, & Capocci, 2003).

Segundo o DSM-IV, a dpp é definida como um transtorno de humor depressivo com início no pós-parto e iniciada dentro do primeiro mês após o parto (Higuti, & Capocci, 2003).

Não podemos deixar de referir que, segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders da American Psychiatric Associacion (DSM-IV-APA) a dpp maior caracteriza-se por humor depressivo e perda de gosto em realizar actividades anteriormente agradáveis para a puérpera, além das mudanças já referidas ao nível do apetite, insónia, hipersónia, fadiga, culpa, ideias suicidas, obsessivas ou supervalorizadas etc (Cruz, Simões, & Faisal-Cury, 2005; Moraes et al, 2006).

Como em qualquer perturbação mental, a dpp também acarreta factores de maior risco tais como vida stressante, histórico de depressão, falta de apoio familiar, ansiedade, humor deprimido durante a gravidez, gravidez não desejada, gravidez na adolescência, mães solteiras, pobreza, etc (Higuti, & Capocci, 2003).

As causas são essencialmente psicossociais embora possam ter influencias biológicas e sociais (Higuti, & Capocci, 2003).

Cruz, Simões e Faisal-Cury (2005) referem de igual modo a importância do apoio social, uma vez que as mulheres com o apoio social adequado, principalmente por parte da mãe e do marido, entre os parentes, demonstram menor tendência para desenvolver dpp, uma vez que se sentem mais protegidas.

De acordo com os estudos de Moraes et al (2006) o baixo nível sócio económico, a baixa escolaridade, doenças psiquiátricas associadas, baixa auto-estima, entre outros factores já referidos, são também algumas das condicionantes mais propícias ao desenvolvimento da dpp.

No que concerne ao tratamento psicoterapêutico da dpp, deve ser feito aquando do estado de puerpéria, permitindo que a mãe verbalize os seus sentimentos, bem como incluir a família no tratamento, informando devidamente sobre a doença, para que possam apoiar a recente mãe além da medicação adequada (Higuti, & Capocci, 2003).

Conclusão

De acordo com os dados acima referidos podemos compreender a dpp como uma perturbação mental desenvolvida durante as primeiras semanas de vida do bebé, em que a mãe se encontra em profundas alterações físicas e emocionais, desde a volta do corpo ao estado pré gravídico, até à adaptação a uma nova vida e a uma nova forma de viver. Além disso podemos verificar que a dpp despoleta mais facilmente em mulheres com condições de vida mais desfavoráveis, desde o baixo nível sócio económico até à falta de apoio por parte dos entes queridos, principalmente da mãe e do marido. No entanto é necessário compreender a perturbação como uma doença mental que precisa dos devidos cuidados e que deve ser alvo de intervenção por parte de todos os profissionais de saúde associados (médicos, enfermeiros, psicólogos).

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References:

  • Cruz, E.B.S., Simões, G.L., & Faisal-Cury, A. (2005). Rastreamento da depressão pós-parto em mulheres atendidas pelo Programa de Saúde da Família. Post-partum depression screening among women attended by the Family Health Program. Bras. Ginecol 27(4): 181-8. Acedido a 8 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v27n4/a04v27n4
  • Higuti, P.C.L., & Capocci, P.O. (2003). Depressão pós-parto. Enferm UNISA, 4: 46-50. Acedida a 7 de Fevereiro de 2016 em http://www.unisa.br/graduacao/biologicas/enfer/revista/arquivos/2003-11.pdf
  • Moraes, I.G.S., Pinheiro, R.T., Silv. R.A., Horta, B.L., Sousa, P.L. & Faria, A.D. (2006). Prevalência da depressão pós-parto e fatores associados. Prevalence of postpartum depression and associated factors. Rev Saúde Pública. 40(1): 65-70. Acedido a 8 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/rsp/v40n1/27117.pdf/

 

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