Deficiência mental grave
A deficiência mental grave é definida como a profunda incapacidade do indivíduo de desempenhar tarefas do foro intelectual. A mesma pode estar ligada a diferentes causas, sejam elas cromossomáticas, associadas a traumatismos ou a síndromes.
Vasconcelos (2004) baseia-se na definição métrica do quociente de inteligência (QI) para definir o atraso mental, e, consequentemente, um quadro de deficiência mental, na medida em que se verifica a presença do mesmo quando a capacidade intelectual do indivíduo se encontra, claramente, abaixo da média esperada. Nesse sentido, o autor interpreta um qi igual ou inferior a 70% como atraso ou deficiência mental (Vasconcelos, 2004).
De acordo com os estudos, sabemos que a deficiência mental traz bastante sofrimento à família e ao doente, levando toda a dinâmica familiar a sofrer uma grande transformação para se poder adaptar, especialmente em situações cuja alternativa seria internar o indivíduo num hospital psiquiátrico (Pereira, Barbieri, Paula, & Franco, 2007).
A deficiência mental grave pode ser diagnosticada na infância quando a criança não é capaz de desenvolver uma comunicação normal, quando não desenvolve a capacidade de autocuidado, as habilidades sociais e interpessoais, a capacidade de orientação, entre outros (Vasconcelos, 2004).
Na maioria dos casos de deficiência mental grave, observa-se a tendência para ver o doente como um louco sem capacidade de raciocínio lógico e sem limites, e com a total necessidade de proteção por parte de outrem, especialmente nos casos de internamento (Pereira, Barbieri, Paula, & Franco, 2007).
Os estudos das autoras, em contexto real, junto de indivíduos com deficiência mental grave, demonstram, precisamente, através dos relatos de caso, que os mesmos são tendencialmente excluídos do resto da sociedade por medo, por parte dos técnicos de saúde, que estes afetem o mundo e a sociedade (Pereira, Barbieri, Paula, & Franco, 2007).
As causas podem ser diferentes tais como a genética, ambiental ou congénita, proveniente de alterações nos cromossomas, ou ainda adquirida, como por exemplo, por infeção no sistema nervoso central, traumatismo craniano, ou causada por diferentes síndromes (Vasconcelos, 2004).
Assiste-se, desta forma, à constante exclusão destes doentes, em relação à sociedade, o que os impede de ter o mesmo acesso aos estímulos do meio como informações, lazer, saúde ou até mesmo trabalho, mesmo que não estejam internados em casas de saúde mental (Pereira, Barbieri, Paula, & Franco, 2007).
Desta forma acabam por não beneficiar de uma qualidade de vida inclusiva, tal como qualquer outro cidadão (Pereira, Barbieri, Paula, & Franco, 2007).
Um outro obstáculo que se encontra no quotidiano de pessoas com deficiência mental grave, é o facto de se ver, na maioria das vezes, a deficiência como uma condição crónica, que se traduz no facto de lhes ser vedada qualquer tentativa de possível autonomia (Pereira, Barbieri, Paula, & Franco, 2007).
Nas suas pesquisas, Pereira, Barbieri, Paula e Franco (2007) puderam compreender, precisamente isso, uma vez que os doentes junto dos quais trabalharam, demonstraram, claramente, a forma como se sentiam aprisionados à sua condição. Desta forma viam-se impossibilitados de atingir qualquer tipo de desenvolvimento, realizar um desejo, descobrir capacidades, entre outras vontades naturalmente inerentes à condição humana.
“…os doentes mentais vivem presos no seu mundo por causa do seu problema… sempre tendo que lutar contra esse problema (S2)” (Pereira, Barbieri, Paula, & Franco, 2007, p. 570).
No caso das crianças a dificuldade ou atraso na fala, linguagem, comportamentos menos adequados ou problemas de aprendizagem que trazem, consequentemente, baixo rendimento escolar, estes sinais são entendidos como sinais de deficiência mental (Vasconcelos, 2004).
Conclusão
Na maioria das vezes, verificam-se imensos obstáculos para com indivíduos portadores de deficiência mental grave, pelo que os mesmos são vistos como totalmente dependentes e acaba por lhes ser vedado o acesso à possibilidade de testar e desenvolver diversas capacidades. As causas da deficiência podem ser de diferentes origens, mas todas elas levam, quase invariavelmente à exclusão dos indivíduos, principalmente no caso dos que são internados em casas de saúde mental, sem acesso ao quotidiano de vida social.
References:
- Pereira, M.A.O., Barbieri, L., Paula, V.P.P., & Franco, M.S.P. (2007). Saúde mental no Programa de Saúde da Família: conceitos dos agentes comunitários sobre o transtorno mental. Revista Escola de Enfermagem USP 2007; 41(4): 567-72. Recuperado em 30 de outubro de 2017 de http://www.jped.com.br/conteudo/04-80-S71/port_print.htm
- Vasconcelos, M. (2004). Retardo Mental. Jornal Pediátrico (Rio de Janeiro). 2004; 80(2supl): S71-82. Recuperado em 30 de outubro de 2017 de http://www.jped.com.br/conteudo/04-80-S71/port_print.htm