Adultícia
A adultícia é marcada pelo processo de transição da adolescência para a vida adulta. Este processo varia de cultura para cultura e é influenciado por diferentes aspetos da vida do indivíduo.
Mota e Rocha (2012) observaram que, nas últimas décadas, cada vez se nota mais a noção de transição da adolescência para a adultícia, passando pelo processo de iniciação da independência e estabelecimento da autonomia.
Vários autores de estudos feitos por Mota e Rocha (2012) demonstram, no entanto, algumas especificidades que demonstram o fato de a adultícia ter influência dos contextos socioculturais, principalmente entre os Estados Unidos da América (EUA) e a Europa.
Uma das coisas mais importantes a ter em conta no que concerne à fase adulta, é que o indivíduo tenha a capacidade para a preparar ao longo do tempo, como vários estudos indicam, começando pela aceitação da nova fase de desenvolvimento enquanto adulto e constituindo uma família distinta da nuclear (Kagan, s.d.; Mota, & Rocha, 2012).
A adultícia saudável é aquela em que o jovem adulto se sente seguro junto das figuras parentais, mas que, ao mesmo tempo, não o impede de seguir o seu próprio caminho de forma autónoma, o que vale também em relação aos irmãos, tornando a relação familiar nuclear mais alargada e não mais distante (Mota, & Rocha, 2012).
Este processo de afastamento e de proximidade em simultâneo, aquando do ingresso na vida adulta, não é algo exclusivamente físico, mas sim uma necessidade de partilha de acontecimentos de vida, principalmente quando o indivíduo se encontra na faz de transição da adolescência para a adultícia (Mota, & Rocha, 2012).
A respeito dos acontecimentos de vida, Kagan (s.d.) relaciona a personalidade com as alterações inerentes à vida adulta devido a estes, tais como tornar-se pais ou as consequências provenientes da progressão na carreira.
Mudanças ao longo do tempo, foram acontecendo, como indicam os estudos de Mota e Rocha (2012), principalmente até à década de 70 e após a mesma em que, a princípio, a adultícia plena dizia respeito à entrada no mercado de trabalho e constituição de família. A partir da mesma década, tanto ao nível cultural como económico, a entrada na vida adulta passou a acarretar a influência de fatos de vida e necessidades pessoais, que variam de pessoa para pessoa e que, devido às mudanças relacionadas com a própria entrada no mercado de trabalho, começou a acontecer em fases mais tardias (Kagan, s.d.; Mota, & Rocha, 2012).
Estas mudanças começam logo pelo fato de o tempo de estudo dos indivíduos ser mais prolongado, nomeadamente porque há mais investimento ao nível académico, além da realização profissional e posterior constituição de família própria, em que, cada vez mais há a necessidade da presença constante dos pais (Mota, & Rocha, 2012).
A própria iniciativa dos jovens em procurar a sua autonomia fora do seio parental, mostra-se diferente do que era há anos atrás, mais tardia, uma vez que também faz parte do processo de constituição de independência pelos jovens (Mota, & Rocha, 2012).
Podemos ver ainda, no que concerne às diferenças de género, que as mulheres se mostram mais focadas em investir na carreira, aquando do processo de entrada na fase da adultícia, além de adiarem um pouco mais o nascimento do primeiro filho (Mota, & Rocha, 2012).
Características inerentes à adultícia
- Responsabilidade pelas próprias escolhas
- Decisões independentes
- Consideração por terceiros
- Independência económica
- Maior complexidade no que concerne ao campo emocional
(Kagan, s.d.; Mota, & Rocha, 2012).
Segundo Mota e Rocha (2012) a transição para a adultícia pressupõe a alteração da dependência em relação aos pais para uma relação mútua, de forma mais moderada, que, por vezes, pode provocar conflitos devido às mudanças nos papéis.
Pode dizer-se, assim, que a relação entre pais e filhos deixa de ser marcada pela dependência ou independência, para se tornar interdependente (Mota, & Rocha, 2012).
Por vezes, surgem obstáculos a este tipo de relação familiar, quando os pais assumem um papel de “pais helicóptero” em que a relação é pautada por uma hiperproteção em relação ao jovem adulto e reagindo imediatamente através de controlo excessivo, cada vez que sentem algum sinal como ameaça (Mota, & Rocha, 2012). Exemplo típico deste tipo de comportamento, é no campo académico, quando os pais procuram resolver diretamente com os docentes, os problemas académicos dos seus filhos já adultos, tirando-lhes a capacidade para defenderem os seus próprios pontos de vista (Mota, & Rocha, 2012).
Conclusão
A adultícia acarreta um conjunto de mudanças na vida do indivíduo que são fruto das suas vivências anteriores e adaptação a várias novidades, tais como a entrada no mercado de trabalho, a saída da casa dos pais e a constituição de família própria. Todas estas alterações passam por um processo de adaptação que, em outros tempos não existia, uma vez que as diferenças estavam bem delineadas. Com as novas condições de vida e a importância cada vez maior da participação dos pais na vida dos filhos, ainda que de forma interdependente, é necessário que haja responsabilidades de ambas as partes para saber lidar com todo o processo de mudança inerente.
References:
- Kagan, J.S. (s.d.). Personality Development in Adulthood;
- Mota, C.P., & Rocha, M. (2012). Adolescência e Jovem Adultícia: Crescimento Pessoal, Separação-Individualização e o Jogo das Relações. Adolescence and Emerging Adulthood: Personal Growth, Separation-Individuation and the Relational Game. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Jul-Set 2012, Vol.28 n.3, pp.357-366. Acedido a 28 de junho de 2016 em scielo.br/pdf/ptp/v28n3/a11v28n3.pdf.