Epistemologia Social

Abordagem da noção de epistemologia social.

Introdução

A epistemologia social aplica os recursos da história e das ciências sociais no embate com as questões centradas na organização do conhecimento e seus respectivos processos. A disciplina procura assim disponibilizar uma matriz que conceda as coordenadas aos sujeitos quanto ao que devem conhecer, e ao que realmente conhecem. Relativamente às outras disciplinas, a epistemologia social avança em maior profundidade do que outras teorias do conhecimento, posto que assume como motivo principal a produção de conhecimento por agentes sempre engajados em dado contexto.

A necessidade da epistemologia social é capturada na compaginação entre a filosofia e a sociologia: isto uma vez que as teorias filosóficas do conhecimento tenderam a acentuar as abordagens normativas sem considerarem as consequências em termos políticos e de aplicabilidade. Por seu turno, as teorias sociológicas sofrem o problema reverso de capturarem as características empíricas e ideológicas do conhecimento, sem oferecerem um guia para o acompanhamento devido das políticas do conhecimento. Deste modo, a epistemologia social pretende consolidar os potenciais das duas abordagens, eliminando respectivamente as debilidades.

 

História

 O conceito de epistemologia social foi cunhado na década de 60 do século XX pelo cientista e bibliotecário Jesse Shera, que assim nomeou, tanto para fins teóricos como práticos, um campo preocupado com a “arquitectura do conhecimento”, que abrangeria tanto a organização das ciências como a projecção de bibliotecas e sistemas de recuperação de informação. Por volta da década de 70, como resposta à cumplicidade da academia com a emergência do complexo industrial militar, a epistemologia social tornou-se conhecida por outro epíteto, nomeadamente o de “ciência crítica”.

Contudo, 1987 assinala a introdução da epistemologia social à filosofia, materializando-se a resposta com a fundação de uma revista académica especializada no campo, iniciativa esta assumida por Steve Fuller. O facto da filosofia analítica anglo-americana ter introduzido formalmente a epistemologia social é relevante, na medida em que a tradição filosófica europeia já tinha enunciado a dimensão social do conhecimento, o que tornaria a “epistemologia social”, na sua vertente analítica, supérflua.

Partindo do século XIX em diante, as epistemologias cujo legado acusam a influência do positivismo francês e do idealismo alemão, reiteraram frequentemente a característica sistemática e coletiva do conhecimento. Por contraste, a filosofia analítica anglo-americana permaneceu fiel ao individual – na sua concomitante cartesiana ou darwiniana –, concebido como o conhecedor. Neste contexto, a epistemologia social foi explicitamente desenhada para equilibrar as discrepâncias inerentes às duas tradições filosóficas.

 

As epistemologias sociais podem ser comparadas em termos das respostas presumíveis que tentam dar às seguintes questões:

 

            – São as normas das investigações autónomas face às normas que governam o resto da sociedade?

            – Existirá uma dimensão da investigação que não reflita a forma como os investigadores são dispostos?

            – Será a verdade, entre outros objetivos normativos da ciência, um campo que resiste às formas particulares e efémeras da investigação?

            – Será o carácter do conhecimento redutível às crenças agregadas de um determinado grupo de sujeitos?

            – Estará o alcance da epistemologia social limitado à identificação dos mecanismos e instituições que obedecem a definições do conhecimento conceptualmente satisfatórias?

Os epistemólogos inclinados para as respostas positivistas permanecem próximos do ponto de vista cartesiano da epistemologia clássica, que se concentra na orientação individual do indivíduo para a verdade. Contrariamente, os epistemólogos inclinados a respostas negativas, indicam uma maior propensão para as abordagens interdisciplinares e empíricas, obedecendo deste modo à intenção de tornarem os indivíduos o suficientemente conscientes dos múltiplos contextos de produção do conhecimento.

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References:

Collins, R. (1998) The Sociology of Philosophies. Harvard University Press, Cambridge, MA.

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