Totemismo

Em sentido amplo, o termo totemismo denota o complexo de crenças concernentes à existência de uma espécie de parentesco entre um grupo humano, ou um indivíduo singular, e um animal ou planta, que constitui o emblema dessa ligação.

Em sentido amplo, o termo totemismo denota o complexo de crenças concernentes à existência de uma espécie de parentesco entre um grupo humano, ou um indivíduo singular, e um animal ou planta, que constitui o emblema dessa ligação. Esta relação implica práticas rituais e tabus, especialmente alimentares e sexuais, que vinculam os membros que se reconhecem enquanto pertencentes ao mesmo totem.

A própria palavra totem, na variante totam, foi usada em 1791 pelo explorador inglês J. Long, servindo para adereçar as amarras do parentesco relativamente à devoção das plantas e animais por parte da tribo indiana Ojibwa. Embora o termo tenha sido aplicado para referir o totem do clã, Long utilizou o termo para descrever o totemismo individualístico, isto é, a crença na existência de um laço pessoal entre uma pessoa e um animal (mais raramente com uma planta).

Na antropologia, a aceitação do termo totemismo iniciou-se por volta de finais do século XIX, tendo diminuído no início do século XX. Durante este período, as pesquisas conduzidas foram especialmente centradas nos aspectos religiosos do totemismo, sendo estas expressões teorizadas como modos arcaicos de adoração dos deuses. Deste modo concebida, a ideia de totemismo alcançou fama generalizada, e foi mesmo analisada por várias disciplinas. A introdução do conceito no debate antropológico deve-se a McLennan, que acentuou a tripartição do totemismo nos seguintes elementos: fetichismo, exogamia, e descendência matrilinear. Adicionalmente a estes traços, Rivers acrescentaria a proibição de um grupo comer a planta ou o animal considerado como totem do grupo, excepto em certos eventos rituais.

Se por um lado, o crescente conjunto de dados etnográficos referentes ao totemismo promoveu a inclusão desses mesmos dados nos grandes esquemas evolucionistas sugeridos por vários autores, por outro lado, esses dados seriam a via da superação dessas construções evolucionárias.

A primeira exposição comparativa de relevo, com recurso aos dados etnográficos, encontra-se na obra Totemismo e Exogamia (Totemism and Exogamy, 1910) de Sir James Frazer, na qual são sugeridas três origens diferentes para o totemismo: a primeira hipótese afirma que a primeira forma de totemismo é a expressão individual, e envolve a ideia de que existe uma alma externa que reside nos animais ou plantas; a segunda hipótese sublinha o elemento mágico do totemismo, particularmente presente na variante australiana; a terceira hipótese coloca a tónica na incompreensão dos humanos primitivos perante a existência de um laço entre a sexualidade e a concepção, com a ideia consequente de que o último fenómeno depende da acção de um espírito animal ou vegetal.

No trabalho monumental de Frazer, a organização dos dados etnográficos sobre o totemismo foi condicionada de modo a contrastar-se a racionalidade ocidental moderna com o pensamento primitivo. Um dos resultados da abordagem consistiu na ocultação de diferenças existentes nos materiais etnográficos. Com o decrescimento contínuo desta preocupação, os investigadores acentuaram a variedade dos fenómenos totémicos por oposição às tipologias redutoras.

Assim, começam a sugerir analogias com maior rigor e sensibilidade, e com consideração pelas continuidades e descontinuidades históricas e geográficas. Subsequentemente, o período de maior difusão da noção de totemismo coincidiu com o período de maior decadência. No ano em que apareceu o trabalho de Frazer, outro autor, Goldenweiser, salientou que não obstante a classificação de um determinado clã segundo uma planta ou animal, era incorrecto incluir dados diferentes como as organizações sociais segundo esse mesmo rótulo; e também que a crença numa relação mística entre os membros de um clã e uma espécie totémica, não deveria ser subsumida numa instituição singular.

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References:

Frazer, J. G. (1910) Totemism and Exogamy: A Treatise on Certain Early Forms of Superstition and Society. Macmillan, London.

Goldenweiser, A. (1910) Totemism: An Analytical Study. Journal of American Folklore 23: 179 293.

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