O enriquecimento ambiental é um processo que tem como objetivo garantir o bem-estar animal e evitar o aparecimento de comportamentos anormais os comportamentos naturais de cada espécie. Estes comportamentos anormais, que incluem as estereotipias (comportamentos repetitivos, como balançar a cabeça e andar em círculos), automutilação, cropofagia (ingestão de fezes), entre outros, surgem devido às restrições às quais os animais em cativeiro estão sujeitos como, por exemplo, menos espaço e uma menor interação social, podendo ser evitados através de diversas técnicas de enriquecimento ambiental, algumas de implementação bastante simples.
São várias as técnicas disponíveis, tendo todas o objetivo de inserir estímulos no ambiente, aproximando-o ao máximo do habitat natural de cada animal. Deste modo, a implementação de um programa de enriquecimento ambiental exige o conhecimento dos comportamentos naturais de cada espécie, de forma a que o estímulo introduzido seja o adequado.
Tipos
Existem diversos tipos de enriquecimento ambiental (Bloomsmith et al., 1991), nomeadamente:
– social: contacto indireto ou direto com indivíduos da mesma espécie ou de outras espécies com as quais existe interação na natureza;
– ocupacional: estímulos psicológicos (por exemplo, quebra-cabeças) e estímulos que encorajem o exercício;
– físico: alterações no espaço que o animal habita, tornando-o mais semelhante ao seu habitat natural;
– sensorial: estimulação dos sentidos – estímulos auditivos, visuais, olfativos e tácteis;
– nutricional: variabilidade alimentar ou alterações na introdução dos alimentos, promovendo a sua procura.
Exemplos
O enriquecimento ambiental é uma ferramenta essencial que deve ser utilizada não só em animais de companhia e espécies zoológicas, como também em espécies pecuárias e nos biotérios (animais de laboratório).
Como exemplo de uma espécie pecuária que beneficia de medidas de enriquecimento ambiental, temos os suínos. Segundo o nº 6 do Artigo 5º da Secção II do Decreto Lei nº 135/2003: “todos os suínos devem ter acesso permanente a uma quantidade suficiente de material, como palha, madeira, aparas de papel, serradura, composto de cogumelos ou turfa, ou uma mistura destes materiais que não tenha um efeito nocivo na saúde dos animais” (Decreto Lei nº 135/2003 de 28 de junho do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, 2003, p. 3723). O manual de Recomendações de Bem-Estar Animal, da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), refere ainda que os suínos depressa perdem o interesse em objetos como bolas e que estes devem ser utilizados em conjunto com os referidos no DL nº 135/2003, ou trocados com alguma frequência (CAP, 2005/2006).
Os animais de laboratório, nomeadamente os pequenos roedores e coelhos, também beneficiam de medidas como a divisão das suas gaiolas em locais para alimentação, descanso e excreção, utilizando para isso diversas estratégias, incluindo a introdução de abrigos, plataformas, caixas para ninho e tubos (Baumans, 2005). Também é benéfica a introdução de objetos para roer e locais para cavar, assim como a interação social, direta ou através das grades, e os estímulos auditivos, como a música ambiente (Baumans, 2005).
Quanto aos animais de companhia, os gatos são exemplo de uma espécie para o qual o enriquecimento ambiental é de extrema importância. As áreas de descanso, alimentação e excreção (caixas de areia) dever ser calmas e livres de ruído; locais elevados, onde os gatos se sentem seguros e podem observar o ambiente que os rodeia são também aconselháveis (Herron, Buffington, 2010). Em casas com vários gatos, recomenda-se uma caixa de areia para cada um, mais uma adicional, colocadas em locais distintos; alguns gatos também se sentem mais confortáveis com a sua própria taça de comida, sendo estas colocadas em local distinto e fora da vista uma da outra (Herron, Buffington, 2010). A interação com os donos é importante, mas deve ser o gato a determinar a altura e duração do contacto (Herron, Buffington, 2010). Os brinquedos apropriados são essenciais para redirecionar comportamentos como o arranhar e o mastigar, sendo aconselhável a utilização de brinquedos que os donos possam manipular mantendo uma distância segura das mãos, de modo a não encorajar comportamentos agressivos (como morder e arranhar) (Herron, Buffington, 2010). Existem também brinquedos que dispensam alimento quando manipulados pelos gatos, sendo uma boa opção para evitar que se aborreçam.
Palavras chave
Bem-estar animal
Referências bibliográficas
Baumans, V. (2005). Environmental Enrichment for Laboratory Rodents and Rabbits: Requirements of Rodents, Rabbits, and Research. ILAR Journal, 46(2), 162-170. doi:10.1093/ilar.46.2.162
Bloomsmith, M., Brent, L., & Schapiro, S. (1991). Guidelines for developing and managing an environmental enrichment program for nonhuman primates. Laboratory Animal Science, 41(4), 372-377.
Confederação dos Agricultores de Portugal,. (2005). Recomendações de Bem-Estar Animal (1st ed., p. 102). Retrieved from http://www.cap.pt/0_users/file/Agricultura%20Portuguesa/Pecuaria/Bem-Estar%20Animal/Manual/codigo%20recomendacoes%20crop.pdf.
Decreto Lei nº 135/2003 de 28 de Junho do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas. Diário da República: Série I-A, No 147 (2003). Acedido a 7 agosto. 2015. Disponível em: http://publicos.pt/documento/id693250/decreto-lei-135/2003.
Herron, M., & Buffington, C. (2010). Environmental enrichment for indoor cats. Compendium: Continuing Education For Veterinarians, 32(12), 1-6. Retrieved from http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3922041/