Dermatofitose

Definição e breve descrição de dermatofitose, incluindo sinais clínicos e tratamento, em espécies domésticas, principalmente no cão e e gato.

A dermatofitose, vulgarmente designada por tinha, é um infeção fúngica altamente contagiosa que afeta quase todos os animais de sangue quente, incluindo cães, gatos, coelhos, espécies pecuárias e espécies silvestres. Como também afeta o Homem é considerada uma zoonose.
Transmite-se através do contacto direto com o animal infetado ou através de fomites (roupas, trelas, coleiras, escovas, e outros objetos).

Etiologia

Estes fungos, denominados dermatófitos, provocam infeções superficiais, decompondo a queratina presente na pele, pelo, penas e unhas. Conforme o seu habitat natural, os dermatófitos são classificados em três grupos diferentes (Beale, 2006):

– zoofílicos – associados aos animais;
– antropofílicos – associados ao ser humano;
– geofílicos – encontrados no solo.

Algumas espécies comummente encontradas nos animais domésticos são:

Microsporum canis – responsável pela maioria dos casos de dermatofitose em cães e por 98% dos casos em felinos (Beale, 2006). Também pode afetar outras espécies (Nweze, 2011);
Microsporum gypseum – espécie geofílica que afeta cães, gatos, ovinos, bovinos, suínos, equinos e galinhas (Nweze, 2011);
Microsporum nanum – comum em suínos (Nweze, 2011);
Trichophyton mentagrophytes – pode afetar todos os animais domésticos (Nweze, 2011), sendo a terceira espécie mais comum no cão e a principal espécie em roedores e coelhos (Beale, 2006);
Trichophyton verrucosum – identificado em diversas espécies, é o dermatófito mais comum em ovinos, caprinos e bovinos (Nweze, 2011);
Trichophyton gallinae – afeta aves, principalmente galinhas, mas foi identificado em outras espécies (Nweze, 2011);
Trichophyton equinium – identificado em diversas espécies, afeta principalmente equinos (Nweze, 2011).
Todas estas espécies podem infetar animais de companhia, mas algumas como o M. verrucosum, o M. nanum , o M. gallinae e o M. equinium apenas afetam cães e gatos que contactem com espécies pecuárias (Beale, 2006).

Epidemiologia

A incidência é mais elevada em climas quentes e húmidos e mais baixa em climas frios e secos (Miller, Griffin & Campbell, 2012). A infeção é mais comum em animais mais jovens e animais imunodeprimidos (Miller, Griffin & Campbell, 2012).

Sinais clínicos

A decomposição do tecido queratinizado provoca a quebra e queda dos pelos e penas, com aparecimento de zonas circularas de alopécia. Pode ainda haver formação de crostas pápulas, pústulas, seborreia e hiperpigmentação (Beale, 2006). Nos gatos adultos as lesões podem ser difíceis de identificar, tornando-se visíveis lesões punctiformes apenas após tosquia integral, o que faz destes portadores inaparentes.
As lesões localizam-se com maior frequência na cabeça (ao redor dos olhos e comissuras labiais), orelhas, pescoço, dorso e extremidades. As unhas podem também ser atingidas (onicomicoses) e o prurido é variável. Quando existe prurido, este é sugestivo de infeção com ectoparasitas ou alergia; a infeção bacteriana secundária também pode ocorrer (Miller, Griffin & Campbell, 2012).

Diagnóstico

A utilização de radiação ultravioleta, com a lâmpada de Wood, é útil para o diagnóstico de infeções por M. canis. Esta espécie possui uma substância, a pteridina, fluorescente sob luz ultravioleta. A utilização de álcool, cremes e pomadas, tal como a foliculite bacteriana (Bele, 2006), podem produzir falsos positivos; falsos negativos ocorrem com a utilização de iodo ou caso se trate de outra espécie de dermatófito.
O exame microscópico direto, com observação dos esporos, podem ser bastante útil. Para tal, é necessária a colheita de pelos e escamas das áreas mais afetadas.
No entanto, o diagnóstico definitivo faz-se apenas através do exame micológico, realizado em laboratório, com colheita de pelos e escamas da periferia e centro das lesões para cultura. A recolha deve ser realizado com luvas e material esterilizado, de forma a impedir contaminações. Como os resultados podem demorar de 1 a 4 semanas é aconselhável começar o tratamento previamente.

Tratamento

A dermatofitose em cães e gatos saudáveis pode ter cura espontânea, no entanto, animais com lesões generalizadas necessitam de terapia agressiva (Miller, Griffin & Campbell, 2012).
É aconselhável que os pelos em volta das lesões sejam cortados e que os animais de pelo comprido sejam tosquiados integralmente (Miller, Griffin & Campbell, 2012), de forma a diminuir a transmissão (Beale, 2006). É de notar que a tosquia poderá levar à exacerbação temporária das lesões (Beale, 2006).
A terapia tópica consiste na aplicação de champôs, pomadas e cremes antifúgicos. O tratamento sistémico com antifúgicos e fungistáticos está indicada nos felinos e cães com lesões generalizadas, em animais de pelo longo e quando diversos animais partilham o mesmo espaço (Miller, Griffin & Campbell, 2012). Os animais que recebem terapia sistémica devem ser monitorizados devido a possíveis efeitos secundários, como vómito e anorexia, e mesmo com o desaparecimento das lesões o tratamento só deve ser terminado após duas culturas negativas (Beale, 2006). Como terapia adjuvante podem ser necessário protetores hepáticos e renais.
Nas espécies pecuárias as lesões são piores durante o inverno, época na qual os animais se encontram estabulados, e a recuperação espontânea ocorre na primavera/verão (Morter & Callahan, 2015). O tratamento consiste na aplicação tópica de produtos legalmente autorizados para utilização em espécies pecuárias.
Nos equinos também são os tratamentos tópicos os mais utilizados, havendo igualmente a possibilidade de recuperação espontânea (Rendle, 2015).

Os esporos (formas de resistência que propagam a infeção) de M. canis podem ficar viáveis no ambiente por um período de até 18 meses (Miller, Griffin & Campbell, 2012), o que faz a higienização dos locais habitados por animais infetados essencial. Os espaços devem ser aspirados diariamente de forma a remover todos os pelos contaminados e as superfícies desinfetadas com uma solução de lixívia (1:10) (Miller, Griffin & Campbell, 2012). Roupas devem ser lavadas a pelo menos 43,3ºC, carpetes devem ser limpas a esta temperatura ou, caso não seja possível, com um desinfetante antifúngico (Miller, Griffin & Campbell, 2012). Os animais infetados devem permanecer isolados de modo a evitar a transmissão a animais saudáveis.

Prevenção

Evitar o contacto com animais infetados, uma boa higiene, escovagem regular e uma dieta equilibrada são essenciais.
Para os bovinos existe uma vacina contra o T. verrucosum.

 

 

 

Referências bibliográficas

Beale, KL. (2006). Dermatophytosis. In SJ. Birchard & RG. Saunders manual of small animal practice (3rd ed., pp. 451-458). St. Louis, Mo.: Saunders Elsevier.

Miller, W., Griffin, C., & Campbell, K. (2012). Fungal and Algal Skin Diseases. In Muller and Kirk’s Small Animal Dermatology (7th ed., pp. 231-243). St. Louis, Missouri: Saunders.

Morter, R., & Callahan, C. (2015). Ringworm of Cattle. School of Veterinary Medicine, Purdue University. Retrieved 23 September 2015, from https://www.extension.purdue.edu/extmedia/VY/VY-56.html

Nweze, E. (2011). Dermatophytoses in domesticated animals. Revista Do Instituto De Medicina Tropical De São Paulo, 53(2), 94-99. Retrieved from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0036-46652011000200007&lng=en&nrm=iso&tlng=en

Rendle, D. (2015). Dermatophytosis – “Ringworm”. NADIS – National Animal Disease Information Service. Retrieved 23 September 2015, from http://www.nadis.org.uk/bulletins/dermatophytosis-%E2%80%9Cringworm%E2%80%9D

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