Ortotanásia
A ortotanásia pretende proporcionar uma morte digna aos doentes terminais, acabando com o sofrimento do tratamento invasivo e ineficaz.
Segundo Santos, Menezes e Gradvohl (2013), a ortotanásia diz respeito ao pedido, por parte de um doente terminal, e dos seus familiares, para que a equipa médica suspenda a medicação, deixando que a morte ocorra de forma natural.
É importante esclarecer que os cuidados paliativos continuam a ser efetuados, contudo, aquilo que se suspende é o conjunto de procedimentos que prolongam a vida do paciente de forma dolorosa, isto é, a distanásia (Biondo, Siva, & Secco, 2009; Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
Pretende a ortotanásia permitir que o doente tenha uma morte digna, dando-lhe o direito de escolher como quer morrer, no entanto, são poucas as pessoas que optam por esta decisão, tanto no caso dos doentes, como das famílias ou mesmo das equipas médicas (Biondo, Silva, & Secco, 2009; Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
A ortotanásia é, por isso, a arte de morrer tranquilamente sem recorrer à distanásia ou à eutanásia, isto é, como já foi mencionado, o direito a morrer com dignidade (Biondo, Silva, & Secco, 2009).
Evitar a morte acontece devido à sensação de fracasso, de impotência e de vergonha que o homem tem, embora seja um processo natural e inevitável, o que faz com que a mesma seja associada ao medo, à culpa, à dúvida, ao sofrimento, etc (Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
Algumas teorias defendem que tal como a vida deve ser encarada com dignidade, a morte deve ser tratada da mesma forma, o que, muitas vezes, em quadros clínicos terminais, implica o cessar com tratamentos excessivos, sendo os profissionais de saúde os principais responsáveis por acompanhar cada caso da forma mais justa (Biondo, Silva, & Secco, 2009).
Pensando em todo este processo, os cuidados paliativos pretendem diminuir a dor do paciente no final da sua vida, sem o expor a tratamentos invasivos e inúteis, embora ainda sejam esquecidos em muitos países (Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
O que acontece frequentemente é a opção por não informar o paciente de todo o seu quadro clinico, o que não lhe permite decidir conscientemente sobre como gostaria de ser tratado no fim da sua vida, ou seja, tirando-lhe a autonomia sobre si mesmo (Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
Biondo, Silva e Secco (2009) referem ainda, além do direito à autonomia, também o ato de fazer bem ao paciente, sendo justo, ou seja, seguindo os princípios da bioética profissional.
Esta atitude vem por parte de médicos, enfermeiros, psicólogos, e outros técnicos de saúde que lidam diretamente com doentes terminais, uma vez que entram no campo das emoções dos pacientes, provocando-lhes insegurança (Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
É por todos estes motivos que Santos, Menezes e Gradvohl (2013) consideram imprescindível que se compreenda melhor a forma como estes profissionais operam quando se trata de enfrentar um quadro clinico terminal, no sentido de os capacitar de formação adequada para lidarem da forma mais adequada e saudável com esta situação.
Alguns dos pontos fundamentais em que estes programas assentam, prendem-se com a capacidade dos profissionais para dialogarem não só entre si mas com a família do paciente e com o próprio paciente, na procura de um acompanhamento mais humanizado e respeitando, quando necessário, os princípios da ortotanásia (Biondo, Silva, & Secco, 2009).
Assim, investir na formação destes profissionais ao nível da relação com doentes terminais, implica compreender que as atitudes de insegurança que eles tomam, está associada à constante negação do processo de morte, o que remete para a necessidade de a ortotanásia fazer parte do programa de formação em questão (Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
Estudos realizados junto de um grupo de alunos de medicina, de enfermagem e de psicologia, mostraram que os mesmos, embora tenham conhecimentos sobre ortotanásia, não estão seguros ao falar dela, mas consideram os cuidados paliativos como meios adequados para o tratamento de doentes terminais, evitando a distanásia e indo ao encontro de uma morte digna como se pretende através da ortotanásia (Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
Vale referir que a importância do tema se estende ao fato de que ao lidar com estes quadros clínicos, muitos estudantes vêm a sua saúde mental afetada (Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
Convem perceber ainda que esta falha no sistema de saúde mostra a importância da comunicação dos profissionais de saúde porque esse processo é fundamental para dar a assistência adequada a cada paciente, além de evitar uma enorme carga de stresse, quadro depressivo e insegurança (Santos, Menezes, & Gradvohl, 2013).
Conclusão
Verificamos, com esta revisão da literatura, que a ortotanásia é um tema tabu nos serviços de saúde. Isto acontece devido à procura incessante do ser humano de procurar uma espécie de “imortalidade” devido ao medo da morte a que a ortotanásia está anexada. Por esse motivo, muitas vezes, doentes terminais acabam por ficar sujeitos a condições de distanásia, uma vez que se procura a todo o custo fugir às sensações de medo, angústia, sofrimento, dor, etc, que estão implícitas na ideia de morte.
É fundamental capacitar os técnicos de saúde de formação adequada acerca do tema da ortotanásia, promovendo os cuidados paliativos, no sentido de evitar o prolongar do sofrimento que tantas vezes vive um doente em fase terminal devido a tratamentos inúteis a que fica sujeito.
References:
- Biondo, C.A., Silva, M.J.P., & Secco, L.M.D. (2009). Distanásia, eutanásia e ortotanásia: percepções dos enfermeiros de unidades de terapia intensiva e implicações na assistência. [em linha] SCIELO Brasil – scielo.br/scielo. Revista Latino-Americana de Enfermagem vol.17 no.5. Acedido a 27 de maio de 2016 em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692009000500003&script=sci_arttext&tlng=pt
- Santos, L.R.G., Menezes, M.P., & Gradvohl, S.M.O. (2013). Conhecimento, envolvimento e sentimentos de concluintes dos cursos de medicina, enfermagem e psicologia sobre ortotanásia. The knowledge, involvement and feelings of students graduating in medicine, nursing and psychology about orthothanasia. [em linha] SCIELO – www.scielo.br. Ciência & Saúde Coletiva vol.18 no.9. Acedido a 27 de maio de 2016 em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232013000900019