Nascimento | 1 de Junho de 1804, Novospasskove, Rússia |
Morte | 15 de Fevereiro e 1857, Berlim, Alemanha |
Ocupação | Compositor |
Principais Obras |
«Uma Vida pelo Czar»; «Ruslan e Lyudmila»;«Jota Aragonesa»; «Uma Noite em Madrid»; «Kamarinskaya»; «Zapiski»; «Festival Polonaise» |
Primeiros anos
Mikhail Glinka nasceu no dia 1 de Junho de 1804, em Novospasskove, na Rússia. Filho de um capitão das forças armadas já reformado, a sua família tinha um longo histórico de lealdade e serviço aos czares. Mikhail foi essencialmente criado pela avó paterna (que era exageradamente protectora, autoritária e manipuladora) até aos 6 anos de idade, altura em que esta faleceu.
Glinka mudou-se, então, para a propriedade do seu tio materno, a 10 quilómetros da sua casa, onde se viria a interessar por música ao ouvir a orquestra privada do tio, cujo repertório incluía Haydn, Mozart e Beethoven. O próprio pediu para receber aulas de música ao mesmo tempo que estudava russo, francês, alemão e geografia.
Com 13 anos de idade foi enviado para São Petersburgo com o objectivo de prosseguir estudos numa escola de crianças para a nobreza. Ali o compositor teve a oportunidade de aprender latim, inglês, persa, matemática, zoologia, ao mesmo tempo que continuava a estudar música. Alguns dos seus professores de músicas foram John Field e Charles Meyer.
Em 1824, começou a trabalhar para o Ministério das Comunicações, onde se manteve até 1828. Embora já tivesse decidido que queria ser músico, Glinka cedeu às pressões do pai para trabalhar no serviço público. A profissão de músico não sofria de boa reputação entre a nobreza. Ainda assim, não abandonou a música e dedicou-se à composição nesse período.
Início da carreira
Em 1830, Glinka viajou para Itália com o tenor Nikolay Ivanov. Em Milão estudou com Francesco Basili, famoso compositor e maestro italiano. Permaneceu em Itália durante três anos, passados a ouvir música, a galantear mulheres e a conhecer pessoas conhecidas como Mendelssohn e Berlioz. As suas composições adquiriram maturidade e dedicou-se, principalmente, a escrever peças com base em temas de óperas, além de prestar uma atenção especial a pequenos ensambles instrumentais. Apesar de gostar de Itália, as saudades da Rússia levaram-no a tomar a decisão de escrever uma obra de carácter verdadeiramente nacional.
O compositor iniciou a viagem de regresso a casa, parando em Viena, onde teve a oportunidade de ouvir Franz Liszt, e em Berlim, onde permaneceu durante cinco meses. Nesta cidade estudou composição com Siegfried Dehn. Ao receber a notícia da morte do pai, regressou apressadamente à sua cidade natal, Novospasskove, em 1834.
Uma Vida Pelo Czar
Depois de regressar à Rússia, Glinka dedicou-se de imediato à composição de uma ópera, para a qual ainda não tinha enredo, mas com o objectivo de criar uma ópera verdadeiramente russa. Convidado regular para os encontros que o poeta Vasily Zhukovsky organizava em sua casa com as principais figuras do cenário literário e musical da Rússia (Pushkin, Gogol, Pletnev, por exemplo), encontrou aqui o enredo que necessitava. Zhukovsky não só incentivou o músico como lhe sugeriu a história do camponês Ivan Susanin, que sacrificou a vida em prol do czar.
O compositor concluiu a ópera mas o Teatro de São Petersburgo recusou-se a levá-la a palco. Acabou por concordar sob as seguintes condições: o nome da ópera foi alterado para «Uma Vida pelo Czar» e Glinka teve de recusar todos os royalties. A estreia aconteceu no Outono de 1836, com um sucesso estrondoso. O próprio Czar agradeceu a Glinka no final.
Com esta ópera, Mikhail Glinka pretendia glorificar, através do camponês, a grandeza do carácter nacional russo, a sua coragem e resistência. «Uma Vida pelo Czar» foi a primeira ópera russa escrita sem diálogos falados e, também pela primeira vez na história da música da Rússia, um camponês foi elevado a uma personagem heróica.
Mikhail Glinka
Ruslan e Lyudmila
Em 1837, o músico foi nomeado mestre da Capela Imperial. No ano seguinte, por sugestão do Czar, viajou até à Ucrânia para recrutar novas vozes para o coro.
Neste período compôs algumas das suas melhores canções e dedicou-se à escrita de uma nova ópera, com base num conto de Alexander Puskin, «Ruslan e Lyudmila». A estreia aconteceu exactamente seis anos depois da estreia da sua ópera anterior mas não foi tão bem recebida, pelo contrário: a ópera foi muito criticada por um jornalista influente da época, Faddey Bulgarin, o público geral também não a apreciou e o Czar Nicolau I abandonou a estreia antes da conclusão da obra.
Retirada do repertório, só voltaria a ser encenada na Rússia 13 anos depois da morte de Glinka.
França e Espanha
As críticas duras levaram o compositor a abandonar a Rússia em 1844 e a encetar uma viagem por França e Espanha para se recompor.
Em Paris, teve a satisfação de ouvir excertos das suas duas óperas, regidos por Berlioz (a primeira apresentação de música russa no ocidente) e outros maestros. Berlioz escreveu até uma crítica muito favorável a Glinka. Seguiu, depois, para Espanha, onde em 1845 escreveu a abertura «Jota Aragonesa». Decidiu voltar a fazer outra pausa para estudar a música folclórica espanhola e só em 1848, depois de regressar à Rússia, compôs outra ópera, com base no carácter e estilo espanhol, «Uma Noite em Madrid».
Ainda enquanto viajava, inspirado pelas saudades de casa, escreveu a fantasia para orquestra sobre duas canções tradicionais «Kamarinskaya». O título faz referência a uma dança russa.
Últimos anos
Entre 1852 e 1854 voltou a viajar pelo estrangeiro, passando a maior parte do tempo em Paris, mas a Guerra da Crimeira fê-lo regressar a casa. Compôs, então, «Zapiski» e, em 1855, surgiu a sua última composição notável «Festival Polonaise» para o baile de coroação do Czar Alexandre II.
Passou os últimos cinco meses de vida em Berlim, onde viria a falecer no dia 15 de Fevereiro de 1857. Foi enterrado em Berlim mas passados alguns meses o seu corpo foi levado para São Petersburgo.
Legado musical
Mikhail Glinka marcou o início de uma nova direcção de desenvolvimento da música russa. A cultura musical, à semelhança da literatura e da moda, chegava à Rússia da Europa, mas, com Glinka, assistiu-se pela primeira vez ao aparecimento de música originalmente russa em obras musicais e muitos acontecimentos históricos começaram a ser utilizados na música, apresentados de uma forma realista. As primeiras pedras para o movimento nacionalista russo tinham sido lançadas.
O crítico de música russo Viktor Korshikov sintetizou esta ideia afirmando que o desenvolvimento da música russa seria inexistente sem três óperas, «Uma Vida Pelo Czar», «Ruslan e Ludmila» e «Convidado de Pedra». As primeiras duas são da autoria de Glinka e a terceira da autoria do seu primeiro discípulo, Aleksandr Dargomijski.
A mensagem de Glinka foi determinante para os compositores das gerações posteriores. De então por diante, todos – com a excepção de Tchaikovsky – abandonaram a tradição ítalo-franco-alemã para procurar inspiração nas fontes populares nacionais. Glinka terá dito: “Quem cria a música é o povo; nós, os artistas, só fazemos os arranjos”.
References:
Massin, J. & Massin, B. (1983). História da Música Ocidental. Editora Nova Fronteira, S.A: Rio de Janeiro.
The Editors of Encyclopædia Britannica (nd). Mikhail Glinka. Em http://www.britannica.com/biography/Mikhail-Glinka
Yudina, A. (nd). Prominent Russians: Mikhail Glinka. Em http://russiapedia.rt.com/prominent-russians/music/mikhail-glinka/