Elis Regina

Biografia da cantora brasileira Elis Regina (1945-1982), conhecida pela sua voz, presença em palco e personalidade. É considerada por muitos críticos e músicos como a maior cantora brasileira de todos os tempos.

Nascimento 17 de Março de 1945, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Morte 19 de Janeiro de 1982, São Paulo, Brasil
Família Cônjuges: Ronaldo Bôscoli; César Camargo Mariano

Filhos: João Marcelo Bôscoli, Pedro Camargo Mariano e Maria Rita Camargo Mariano

Ocupação Cantora
Principais Êxitos «Como os nossos pais», «Madalena», «Casa no Campo», «Águas de Março»; «Atrás da porta», «O bêbado e a equilibrista»
Principais Álbuns «Em Pleno Verão» (1970), «Elis» (1972), «Elis» (1973), «Elis & Tom» (1974), «Elis» (1974), «Falso Brilhante» (1976), «Transversal do Tempo» (1978), «Elis, essa mulher» (1979), «Saudade do Brasil» (1980), «Elis» (1980)

Primeiros anos

Elis Regina nasceu no dia 17 de Março de 1945, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O seu primeiro nome tem origem no nome de uma personagem de um romance que a sua mãe, Ercy Carvalho, lia na altura do seu nascimento, «Miss Elis». Já o segundo deriva de uma exigência civil segundo a qual o nome não clarificaria o género da criança. O pai, Romeu Costa, decidiu então nomeá-la de Regina, segundo nome de uma prima  nascida na semana anterior.

Elis começou a cantar com onze anos de idade, no programa “No Clube do Guri”, na Rádio Farroupilha, apresentada por Ari Rego. Em Dezembro de 1958, com 13 anos de idade, foi contratada pela Rádio Gaúcha, passando a ser nomeada de “a estrelinha da Rádio Gaúcha”. Em 1961 viajou até ao Rio Janeiro, onde gravou o seu primeiro álbum, «Viva a Brotolândia». Ainda a viver no Rio Grande do Sul, lançou três novos álbuns: «Poema de Amor», «Eliis Regina» e «O bem do amor». Em todos eles empregou diversos estilos musicais populares à época.

O surgimento de uma estrela

Em  1964, através de Dom Um Romão, percussionista e compositor associado ao surgimento da bossa nova, começou a apresentar-se no Beco das Garrafas, reduto do movimento no Rio de Janeiro, sob a direcção de Luís Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli, com quem viria a casar em 1967. Aqui conheceu, também, o coreógrafo norte-americano Lennie Dale, que a ensinou a usar o corpo enquanto cantava, influenciando permanentemente o seu estar em palco.

No ano de 1965, Elis Regina venceu o primeiro Festival de Música Popular Brasileira, interpretando a canção «Arrastão» de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. Esta vitória pode ser analisada de dois modos: lançada como single, a canção transformou Elis na artista com o maior recorde de vendas desde Cármen Miranda, permitindo-lhe atingir uma audiência nacional (o festival foi transmitido na rádio e na televisão); ao mesmo tempo, a sua actuação no festival marcou a história da música brasileira definindo o início de um novo estilo de músico, conhecido como MPB (música popular brasileira), diferente da bossa-nova e de outros estilos precedentes.

Entre 1965 e 1967, com Jair Rodrigues, apresentou o programa “O Fino da Bossa”, na TV Record, em São Paulo. O programa originou três discos, entre os quais, «Dois na Bossa», que vendeu um milhão de cópias. Em 1968, apresentou-se duas vezes no Olympia de Paris.

Anos 70

Durante os anos 70, Elis Regina melhorou constantemente a técnica e o domínio vocal, gravando discos de grande qualidade.

Ao lado de artistas como Gal Costa, Caetano Veloso ou Gilberto Gil, a cantora ajudou a popularizar o movimento musical conhecido como tropicalismo, interpretando canções de músicos como o próprio Gilberto. Ao longo da sua carreira viria a interpretar canções de muitos outros importantes músicos brasileiros como Milton Nascimento, João Bosco, Aldir Blanc, Chico Buarque, Guinga, Jorge Ben, Baden Powel, Caetano Veloso e Rita Lee.

Em 1974, foi lançado o álbum «Elis & Tom», uma colaboração com Tom Jobim, com arranjos do pianista César Camargo Mariano, então marido de Elis. Embora a gravação do disco não tenha sido um processo simples, porque num primeiro momento Elis e Tom não estavam de acordo relativamente à direcção a seguir, o resultado é considerado um dos melhores álbuns de bossa-nova de todos os tempos.

Com o espectáculo «Falso Brilhante», em 1975, que mais tarde originou um disco com o mesmo nome, Elis Regina atingiu novamente uma enorme sucesso. Repetiu o feito com o espectáculo «Transversal do Tempo», em 1978, num clima extremamente político e tenso. Seguiram-se os espectáculos, e respectivos álbuns, «Elis, essa Mulher», de 1979 e «Saudades do Brasil», de 1980. Elis Regina revolucionou o próprio conceito de espectáculo musical ao vivo no Brasil, elaborando apresentações complexas e repletas de significados.

Elis Regina e a ditadura militar

A cantora criticou muitas vezes a ditadura brasileira, que tinha perseguido e conduzido ao exílio muitos artistas da sua geração. Em 1969, numa entrevista na Europa, afirmou que o Brasil era governado por gorilas. A sua popularidade permitiu-lhe evitar a prisão mas, eventualmente, foi obrigada pelas autoridades a cantar o hino nacional durante um espectáculo num estádio. Esta actuação valeu-lhe a ira da esquerda brasileira que, mais tarde, a perdoou, tendo em consideração que a cantora tinha de proteger a sua família.

As suas gravações, relativamente neutras até metade dos anos 70, adquiriram depois um tom politicamente consciente. Elis começou, então, a estruturar os seus complexos espectáculos ao vivo de modo a criticar o governo militar, o capitalismo e as diferentes formas de desigualdade social. O despertar desta nova postura é patente em interpretações consagradas como a de «O bêbado e a equilibrista» de João Bosco e Aldir Blanc. Este tema viria a coroar o regresso de muitas personalidades no exílio, depois da amnistia.

Elis Regina – «O bêbado e a equilibrista»

Morte

Elis Regina faleceu no dia 19 de Janeiro de 1982, com 36 anos de idade, devido a complicações decorrentes de uma overdose de cocaína, álcool e temazepam. O sucedido causou uma grande comoção nacional: mais de 100 000 pessoas acompanharam a procissão que levou o corpo da cantora até ao Cemitério do Morumbi, em São Paulo.

A cantora, apelidada de “furacão” ou “pimentinha”, foi a primeira grande artista a surgir dos festivais de música na década de 60, afastando-se da estética da bossa-nova pelo uso da sua extensão vocal e dramatismo. É certo, no entanto, que apesar de associada ao surgimento da música popular brasileira, interpretou vários géneros de música, incluindo a própria bossa-nova, o samba, o rock e o jazz.

Ao longo da sua carreira, Elis Regina impulsionou a carreira de vários músicos à época pouco conhecidos – Milton Nascimento, Ivan Lins, Belchior, Renato Teixeira, Aldir Blanc e João Bosco – divulgando as suas canções. Entre outras parcerias, são célebres os duetos com Jair Rodrigues, Tom Jobim, Wilson Simonal, Rita Lee, Milton Nascimento e Gilberto Gil. A parceria com o seu segundo marido, César Camargo Mariano, é igualmente notável.

Elis Regina é considerada por muitos críticos e músicos como a maior cantora brasileira de todos os tempos, a par de intérpretes como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holiday.

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