Cage, John

Biografia do compositor norte-americano John Cage (1912-1992), cuja música inventiva e controversa influenciou profundamente metade do século XX.

Nascimento 5 de Setembro de 1912, Los Angeles,  Estados Unidos da América
Morte 12 de Agosto de 1992, Nova Iorque, Estados Unidos da América
Ocupação Compositor, escritor e artista visual
Principais obras «Construction I in Metal»; «4’33»; «Imaginary Landscape IV«; «Imaginary Landscape V»; «Concerto para piano»; «Variations»; «Cheap Imitation»

Primeiros anos

John Cage nasceu no dia 5 de Setembro de 1912, em Los Angeles, na Califórnia. O pai, John Milton Cage, era inventor e a mãe, Lucretia Harvey, trabalhava de forma intermitente como jornalista para o Los Angeles Times.

As primeiras experiências com música aconteceram através do piano mas, embora gostasse da música, em 1928, ano em que concluiu o secundário, estava interessado em ser escritor. Frequentou, brevemente, a universidade, que abandonou dois anos depois, por acreditar que os estudos universitários não eram úteis para um escritor.

Viajou pela Europa, onde teve a oportunidade de estudar com Lazare Lévy. Por essa altura descobriu Scriabin, Stravinsky, Satie e Hindemith. Regressou aos Estados Unidos em 1931 e estudou música com Richard Buhlig, Arnold Schönberg, Adolph Weiss e Henry Cowell.

Schönberg foi uma influência fundamental para Cage, que admirava particularmente pela forma como vivia enquanto compositor. Cage não tinha dinheiro para pagar as aulas de Schönberg mas este aceitou-o mediante a promessa de Cage se dedicar à música durante o resto da vida. Esta promessa, quarenta anos mais tarde, era uma das razões pela qual Cage compunha, apesar de já não ter necessidade de tal.

Depois de dois anos a estudar com Schönberg este censurou-o pelo facto de Cage não apreciar a harmonia e assegurou-lhe que compor sem conhecer as leis da composição era o mesmo que investir com cabeçadas contra a parede. Cage replicou que passaria, então, o resto da vida a dar cabeçadas na parede, mais decidido que nunca a compor. Embora continuasse a admirar o seu professor, acabou por abandonar as suas aulas. Mais tarde, Schönberg, numa entrevista, afirmou que nenhum dos seus alunos norte-americanos era interessante, acabando, depois, por falar de Cage, admitindo que era interessante mas não era um compositor, era um inventor. O próprio Cage adoptaria mais tarde essa denominação.

As primeiras experiências

As primeiras composições de Cage foram escritas de acordo com o método dodecafónico de Schönberg mas entre 1938 e 1939 começou a fazer experiências com instrumentos ortodoxos como o “piano preparado”, inventado pelo próprio. O “piano preparado” consiste na introdução de vários objectos, desde tiras de borracha até alfinetes de chapéu, entre as cordas, com o objectivo de criar novos efeitos. Também fez experiências com diferentes gravadores e rádios de forma a afastar-se das fronteiras convencionais da música ocidental

Fixou-se em Nova Iorque em 1942, começando uma longa associação com a companhia de dança de de Merce Cunningham como director artístico.

Em 1943, apresentou-se em concerto com o seu ensamble de percussão no Museu de Arte Moderna em Nova Iorque. Foi o primeiro grande passo para a sua afirmação enquanto líder do movimento musical de avant-garde norte-americano.

O acaso musical

O trabalho de percussão desprendeu Cage das estruturas schönbergianas: o som e ritmo passaram a assumir uma posição privilegiada e o conceito de tonalidade ou atonalidade perdeu hegemonia porque, para o compositor, representava uma obstrução. A noção de tempo musical tornou-se essencial, especialmente a duração: “o sentimento da durée (duração) veio-me de uma consideração da natureza do som; sentia-o como tendo quatro dimensões: altura, intensidade, timbre e duração”.

Esta reflexão foi desenvolvida com lógica e alimentada pelos novos conhecimentos obtidos a partir da sabedoria oriental, nomeadamente, o budismo zen e o taoísmo chinês. A partir destas considerações, Cage concedeu uma nova importância ao silêncio, que considerou um elemento constituinte da própria música.

Mas, dada a inexistência do silêncio absoluto (que o próprio Cage verificou em 1951, numa câmara surda em que experimentou a revelação de todos os ruídos do seu corpo), conclui-se que o silêncio é uma percepção e pressupõe autodeterminação. Seguindo este raciocínio, Cage compreendeu que a problemática do silêncio ia dar ao acaso.

Mais do que um jogo à volta do tempo, Cage preferia considerar que estava em causa a celebração do tempo. É nesta lógica que determinadas obras que causaram escândalo aquando da sua apresentação, e que ainda causam, como o conhecido «4’33», na qual o intérprete não produz nenhum som, ou outras do mesmo tipo, que Cage chamava de “obras silenciosas”, devem ser entendidas.

John Cage

Cage submetia à elaboração do intérprete um “processo” que cada músico, independentemente de ser profissional ou não, realizava, de acordo com as suas aptidões e faculdades imaginativas. O papel do do compositor era ser catalisador, ao invés de controlar minuciosamente o impacto da sua obra no público. O compositor é, sem sombra de dúvida, o maior representante da música aleatória.

Em «Imaginary Landscape IV» (1951) utilizou doze aparelhos de rádio, com 24 executantes e um maestro. Em «Imaginary Landscape V» (1952) fez uso de 42 discos de jazz. O acaso, introduzido nessas obras, tem um papel primordial em «84 Peças para piano», compostas entre 1955 e 1956. No «Concerto para piano» (1957-1958), o procedimento é levado ainda mais longe: as treze vozes instrumentais são independentes umas das outras, podem ser utilizadas, ou não, não são coordenadas entre si, e o tempo de seu desenrolar é livre etc. Cage considerou esta obra como um trabalho sempre em progresso, não lhe passando pela cabeça dá-la como terminada, mesmo que cada execução lhe parecesse definitiva. Em «Variations» (1958-1966), o compositor fez uso de poucos sinais gráficos, colocados sobre folhas transparentes superpostas.

Nos anos 70, Cage deu seguimento a este trabalho, frequentemente com recursos mais consideráveis: «Bird Cage» (1972), «Music Circus» (1970-1973); «Lecture on the weather» (1976); «Empty words» (1973-1976); «Études australes» (1976), «Roatorio» (1980).

Último anos

«Cheap Imitation», tornou-se na última obra que o compositor apresentou publicamente, no início dos anos 70. Por essa altura, devido a uma artrite que o incomodava desde os anos 60, as suas mãos estavam demasiado inchadas, incapacitando-o de tocar em público.

Embora tenha continuado a compor, a partir dos anos 80 a sua saúde foi-se deteriorando progressivamente. Além da artrite, sofria de ciática e arteriosclerose. Sofreu, também, um acidente vascular cerebral que restringiu os movimentos da sua perna esquerda e, em 1985, partiu um braço. No dia 11 de Agosto de 1992 sofreu outro acidente vascular cerebral e, levado para o hospital, só sobreviveu até à manhã do dia seguinte.

A música de Cage foi tão controversa durante o seu tempo de vida, como o é agora. No entanto, a sua influência estendeu-se a compositores como Earle Brown, Lejaren Hiller, Morton Feldan, Christian Wolff, entre muitos outros.

Além do seu trabalho como compositor, escreveu vários livros (por exemplo, «Silence» (1961), «A Year from Monday» (1967) ou «For the birds» (1981)) e produziu várias obras de arte visuais (como «Not Wanting to Say Anything About Marcel» ou «Score Without Words»).

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References:

Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.

Massin, J. & Massin, B. (1983). História da Música Ocidental. Editora Nova Fronteira, S.A: Rio de Janeiro.

The Editors of Encyclopædia Britannica. (2014). John Cage. Em http://www.britannica.com/biography/John-Cage

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