Introdução
O nascimento do bebop nos anos 40 é frequentemente considerado o marco inicial do jazz moderno. O estilo cresceu a partir das pequenas bandas de swing mas colocou uma maior ênfase na técnica e na complexidade harmónica, portanto, no virtuosismo do solista. Entre os maiores expoentes do movimento encontram-se o saxofonista alto Charlie “Bird” Parker, o trompetista Dizzy Gillespie, o guitarrista Charlie Christian, os pianista Thelonious Monk e Bud Powell e os bateristas Kenny Clarke e Max Roach.
Bebop vs. Swing
Era difícil imaginar um estilo tão contrário ao espírito convencional e comercial do swing que o bebop. O primeiro representava o conformismo – com maior ou menor flexibilidade, os músicos da era do swing seguiam as fórmulas previamente estudadas. O bebop surgiu, precisamente, como uma espécie de contra-revolução, trazendo consigo uma maior liberdade musical que resultou numa sonoridade completamente diversa daquela sentida na época.
“Compared to the relatively simple music of the swing era, the increase in complexity and musical freedom was a very significant change that would result in very different sounding music that had a significantly greater focus upon improvisation, technical skill, and individual achievement.” (Messinger, 2013, p.6)
É necessário, contudo, fazer aqui um pequeno parêntesis e avaliar de modo justo o swing dado que se no mínimo o próprio nome representa uma qualidade muito valorizada no jazz – independentemente do género – existe, por força, algo de muito válido no estilo. Depois, “o swing foi um celeiro de talentos” porque “muitos músicos que depois desenvolveriam estilos próprios e viriam mesmo a inaugurar novas correntes no jazz são oriundos das orquestras da era do swing” (Bezerra, 2001, p. 4).
Este último factor acabou por ser determinante para o desenvolvimento do bebop porque muitos dos músicos que abandonaram os grandes conjuntos swing buscavam maior notoriedade individual e encontraram-na, precisamente, no bebop. Os grupos pequenos deste novo estilo abriam espaço aos talentos individuais dado que os músicos só tocavam realmente juntos no início e no fim, de modo a mostrar o tema principal da música. O intermédio era reservado para os solos, muito mais exigentes do ponto de vista técnico: alta densidade de notas e tempo; harmonias complexas; acordes frequentemente alterados, com a adição ou cancelamento de notas, que criavam dissonâncias estranhas aos ouvidos da época. As improvisações no bebop eram mesmo baseadas nas escalas indicadas por esses acordos, independentemente das alterações que pudessem conter.
Recepção
O bebop tornou-se muito popular entre os músicos mas não foi bem recebido pelo público geral, habituado ao swing, uma música popular, fácil ao ouvido e dançante, com a qual se podiam divertir. O novo estilo tinha como objectivo satisfazer os próprios músicos, com a sua complexidade técnica e foco na improvisação.
A costa oeste dos Estados Unidos foi particularmente não receptiva ao bebop. Na costa contrária, as gravadoras só produziam os álbuns, geralmente, se estivessem envolvidos artistas brancos. Além de tudo isto, o estilo era muito associado ao mundo das drogas, tornando difícil a sua promoção junto do grande público.
No entanto, o bebop conseguiu encontrar seguidores não só dentro da comunidade jazzística e daqueles directamente envolvidos com o movimento, mas também na música clássica moderna, que apreciava a aborgadagem única do estilo em termos melódicos.
O desaparecimento do bebop
No final dos anos 40, apesar de se ter desenvolvido o suficiente para ser aceite como um dos estilos primários do jazz, o bebop começou a desaparecer da cena musical. Por um lado, o efeito da familiaridade levou a que as qualidades inovadoras que tinham marcado a fase inicial do género deixassem de o parecer tanto, porque cada vez mais músicos conseguiam tocar dentro do género. Depois, e como frequentemente acontece na música, os próprios artistas começaram a cansar-se da exigência técnica que era, no fundo, a base de todo o estilo.
Deste modo, e como resposta a esta familiaridade e cansaço, criaram-se as condições para o desenvolvimento de novos estilos, em particular dois: o cool jazz e o hard bebop. Ambos, a seu modo, evitariam as dificuldades técnicas do bebop mas manteriam as inovações que o estilo tinha trazido ao género, como por exemplo, a ênfase no virtuosismo do solista.
O facto é que o bebop não durou mais do que quatro anos como estilo principal de jazz mas influenciou todos os estilos que se lhe seguiram: “its impact upon ideas ideas such as improvisation and melody would serve as the foundation upon which future styles were built upon” (Messinger, 2013, p.14). É algo notável se pensarmos às dificuldades sofridas pelo género no seu estadio inicial, com quase nenhuma aceitação pelo público geral e com poucas oportunidades de gravação, o que resultava em nenhum lucro para os seus artistas. Não obstante, se o jazz é hoje um género tão único e variado, deve-o em grande parte ao legado deixado pelo bebop:
“Despite the general trend away from bebop’s technical and melodic complexity, the style’s influence would continue to be felt for many years after bebop’s time as jazz’s foremost style had come and gone, and jazz has only become a more unique and varied style of music for it.” (Messinger, 2013, p. 14).
References:
Bezerra, V.A. (2001). Jazz: história, estilos. Universidade do Estado de Santa Catarina. Em http://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Bezerra-Jazz-historia_estilos.pdf
Jazz Quotations (nd). Brief History of Jazz. Em http://www.jazzquotations.com/2010/05/brief-history-of-bebop.html
Messinger, C.M. (2013). How Bebop Came to Be: The Early History of Modern Jazz. Gettysburg College. Em http://cupola.gettysburg.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1263&context=student_scholarship