Introdução
Zorba o Grego (Bios kai politeia tou Alexi Zorba, 1946), E.U.A./Grécia, dirigido e adaptado por Michael Cacoyannis; International Classics – Twentieth Century-Fox.
O Livro
Publicado primeiramente em inglês em 1952, Zorba o Grego é uma obra popular e bastante conhecida do escritor grego Nikos Kazantzakis. Como outros tantos romances do autor, este foi escrito numa fase tardia da vida do escritor, após vários anos a viajar, a escrever, e a estudar religião e filosofia. O narrador do livro é modelado conforme o rigor intelectual de Kazantzakis, ao passo que a personagem Zorba parece ser uma personificação do élan vital encontrado na filosofia de Henri Bergson, a cujas palestras Kazantzakis assistiu em Paris.
O romance é narrado por um escritor e intelectual cuja vida se cingiu aos livros e às ideias, ao invés da vida concreta. Para mergulhar numa vida de ação, decide reabrir uma mina abandonada na ilha de Creta. Zorba, um homem grande cheio de paixão e entusiasmo pela vida, encontra o narrado à espera do barco para Creta, e impulsivamente pede-lhe para partir com ele. Pressentindo que Zorba personifica a vida que procura, o narrador aceita Zorba como companheiro e capataz da mina.
São dadas as boas-vindas aos dois na ilha, sendo que Zorba prontamente desenvolve uma relação com a Madame Hortense, uma cortesã francesa envelhecida que recorda ter sido a amante de vários almirantes entre outros. Ao passo que o narrador permanece introspetivo e reservado, Zorba é tempestuoso e persegue cada tarefa e oportunidade como ocasiões para uma possível celebração. E assim, deseja possuir várias mulheres, canta, dança, luta, come e bem sem comedimento, e trabalho – e todas estas atividades são cometidas com o mesmo deleite e espírito de afirmação. Sem ilusões, acredita que tanto o homem como a mulher são animais, e que as igrejas e os governos são antros de corrupção. Recusa-se a aceitar o envelhecimento e a morte, mas continua a saborear aquilo de mau e bom que a vida tem para oferecer.
Poucos eventos acontecem na lírica e longa obra de Kazantzakis. Zorba insiste que o narrador persiga a viúva da vila, que é odiada pelos habitantes pela sua beleza inacessível. Logo depois de o narrador passar uma noite com ela, o cadáver de um jovem que foi recusado pela viúva é encontrado. Apesar de Zorba lutar para a salvar, os habitantes acabam por a atacar e matar num sacrífico ritual sexualizado. Após o narrador prometer a mão de Zorba em casamento à Madame Hortense, Zorba, com grande cortesia, aceita devido à felicidade de Hortense. Contudo, antes de a cerimónia ser consumada, esta morre de pneumonia. O livro termina com a separação do narrador e de Zorba.
O Filme
O realizador grego Michael Cacoyannis escreveu o guião e dirigiu Zorba o Grego. Com Alan Bates como narrador e Anthony Quinn como Zorba, Cacoyannis encontrou o par perfeito para representar as personagens principais do romance. A interpretação de Quinn de Zorba é de louvar desde o início, quando encontra o narrador a ignorar a vida ao seu redor por estar a ler um livro enquanto aguarda a chegada da embarcação pra Creta. Quinn é maior do que a vida, cheio de experiência e humor, respondendo tanto cordialmente como com uma honestidade crua ao seu patrão.
O filme permanece fiel aos eventos e disposições do livro, eliminado a amizade do narrador com Stavridaki e enfatizando ao invés a vibrante e apaixonante vida da vila de Creta. Zorba e o narrador são acolhidos com calor pelos habitantes e a Madame Hortense entretém-nos com as reminiscências dos antigos amores.
Embora grande parte do diálogo seja em inglês, o filme evidencia um sentir autêntico, sobretudo graças às sequências em que os habitantes da vila de Creta são gravados, e também às belíssimas paisagens da ilha. Cacoyannis é notável na interpretação que faz de Zorba como velho homem apaixonado e entusiasmado, e que não é nem herói nem hedonista, mas sim um ser humano cheio de felicidade.
References:
- Bien, Peter, Kazantzakis: The Politics of the Spirit (Princeton University Press, 1990);———, Nikos Kazantzakis Novelist (Caratzas Publishers, 1989); Beaton, Roderick, An Introduction to Modern Greek Literature (Oxford University Press, 1994).