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A palavra auto provém do latim actu e significa ação, ato. Trata-se, pois, de uma composição teatral, de criação essencialmente popular, que integra a Literatura Dramática, tendo surgido por volta do século XII, em Espanha, durante a Idade Média. Para além do auto, que integra a área do Drama, enumere-se, ainda, a Comédia, a Tragédia, a Tragicomédia e a Farsa.
O auto utiliza uma linguagem simples, é por norma curto, detendo elementos cómicos, onde não há narrador e as personagens representam figuras tais como anjos, demónios ou santos, simbolizando, assim, as virtudes ou mesmo os pecados do Homem e apresentado, desta forma, um carácter profano.
Realizado desde a Antiguidade, o género dramático, deve a sua origem aos gregos, que já nas suas festas homenageavam o deus Dionísio (deus do vinho, das festas, do teatro, dos ritos religiosos), destacando-se, aqui, os dramaturgos: Ésquilo (Prometeu acorrentado), Sófocles (Édipo – rei, Electra), Eurípedes (Medeia, As bacantes), Aristófanes (A paz, Assembleia de mulheres) e Antífanes (Menandro).
Gil Vicente (c. 1465 — c. 1536), dramaturgo português, foi o grande propulsor dos autos. A sua obra, foi desta forma, ao encontro de um teatro mais popular e religioso, apesar de uma forma mais ligeira. É na escrita de Juan del Encina e nos temas que aborda, nomeadamente, os temas pastoris, que se vai inspirar, influenciando, portanto, a sua primeira fase artística, no campo do teatro, temáticas que permanecerão, posteriormente, para além de muitas outras. Uma escrita que retrata,de forma cómica, a sociedade portuguesa do século XVI, numa análise crítica dos seus costumes.
Enuncie-se que a sua obra é detentora de várias formas. São elas: o auto pastoril, as narrativas bíblicas, a alegoria religiosa, as farsas episódicas e os autos narrativos.
Seriam os seus filhos, Luís e Paula Vicente, a compilar o seu trabalho, nomeadamente, classificando-as em autos e mistérios (assumindo estes um cariz sagrado e devocionário) e em comédias, bem como farsas, ou ainda, tragicomédias (de carácter profano). Muitas passagens foram censuradas pela Inquisição, de forma que apenas no século XIX, sairia uma terceira edição, encetada por Barreto Feio, já em Hamburgo.
A primeira compilação, datada de 1562, integrava vários livros. No livro primeiro, encontravam-se as Obras de Devoção: Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação (1502); Auto Pastoril Castelhano (1502); Auto dos Reis Magos (1503); Auto da Sibila Cassandra; Auto da Fé (1510); Auto dos Quatro Tempos; Auto de Mofina Mendes (1534); Auto Pastoril Português (1523); Auto da Feira (1527); Auto da Alma (1508) ; Auto da Barca do Inferno (1516); Auto da Barca do Purgatório (1518); Auto da Barca da Glória (1519); Auto da História de Deus (1527); Diálogo de uns Judeus e Centúrios sobre a Ressurreição de Cristo; Auto da Cananea (1534); Auto de São Martinho (1504). No segundo livro, apresentavam-se as Comédias. Integravam aqui: a Comédia de Rubena (1521); a Comédia do Viúvo (1514); a Comédia sobre a Divisa da Cidade de Coimbra (1527); a Floresta de Enganos (1536). Já o livro terceiro era palco de Tragicomédias: Tragicomédia de Dom Duardos; Auto de Amadis de Gaula (1533); Auto da Nau de Amores (1527); Frágua de Amor (1524); Exortação da Guerra (1513); Farsa do Templo de Apolo (1526); Cortes de Júpiter (1521); Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela (1527); Auto do Triunfo do Inverno (1529); Romagem dos Agravados (1533). O livro quarto compilou as Farsas: Quem Tem Farelos? (1505); Auto da Índia (1509); Auto da Fama (1516); O Velho da Horta (1512); Auto das Fadas; Farsa de Inês Pereira (1523); Farsa do Juiz da Beira (1525); Farsa das Ciganas (1521); Farsa dos Almocreves (1527); Farsa do Clérigo da Beira (1529); Auto da Lusitânia, intercalado com o entremez Todo-o-Mundo e Ninguém (1532). O Livro quinto integrava Obras miúdas tais como Pranto de Maria Parda (1522).
Como curiosidade, o trabalho e a obra de Gil Vicente foi estudada por Erasmo de Roterdão (Roterdão, 28 de outubro de 1466 – Basileia, 12 de julho de 1536), que se dedicara a perceber a língua portuguesa, por forma a poder apreciar o seu trabalho no seu contexto original.
References:
https://www.priberam.pt/dlpo/auto
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente
Vicente, Gil (1562). Copilaçam de toda las obras de Gil Vicente. a qual se reparte em cinco livros 1 ed. Lisboa: Casa de Joam Alvarez