As fases do luto dizem respeito ao processo pelo qual passa um indivíduo que vive a dor da perda de alguém querido que partiu. Trata-se de uma situação extremamente complexa que nunca é vivida da mesma forma de um indivíduo para o outro.
De acordo com os trabalhos de Marinho, Marinonio e Rodrigues (2007) o conceito de luto que remonta ao ano de 1917 diz respeito a uma multiplicidade de reações que o indivíduo apresenta face à perda de um ente querido ou mesmo um objeto querido. A atitude face ao luto provém do investimento afetivo que a pessoa enlutada coloca no ente querido (Freud, 2004, cit in Marinho, Marinonio, & Rodrigues, 2007).
Segundo Basso e Wainer (2011), Bowlby concebeu o luto dividido em quatro fases, sendo elas o entorpecimento, o anseio, a desorganização e o desespero, e a reorganização.
Os autores descrevem as mesmas de acordo com as características de cada uma delas (Basso, & Wainer, 2011). Assim, verifica-se que, na primeira fase, o entorpecimento, a reação imediata do indivíduo é entrar em choque e negar-se a aceitar a realidade, situações que, juntas, levam o mesmo a ficar desesperado e aflito durante, aproximadamente, uma semana (Basso, & Wainer, 2011). Tendo em conta estas características que o indivíduo usa como mecanismos de defesa, alguns autores definem esta fase também como negação e isolamento (Marinho, Marinónio, & Rodrigues, 2007).
Posteriormente segue-se o anseio, que leva a pessoa enlutada a procurar recuperar a pessoa falecida de forma desesperada e a querer traze-la de volta (Basso, & Wainer, 2011). A pessoa exerce mesmo rituais de procura da aparição de quem partiu, sonhando com o ente querido e ficando extremamente inquieta (Basso, & Wainer, 2011).
Quando verifica que a pessoa falecida não vai voltar, nasce um sentimento de culpa e ansiedade que trazem a realidade junto, fazendo com que o enlutado compreenda a morte e levando-o à terceira fase em que começa o desespero e a desorganização (Basso, & Wainer, 2011). Sentimentos de raiva e de tristeza apoderam-se do indivíduo enlutado por desenvolver uma sensação de abandono por parte que quem faleceu, aliados a sentimento de impotência por não poder trazer o ente querido de volta (Basso, & Wainer, 2011).
Nesta fase, alguns autores entendem também que a mesma pode ser vista como raiva, altura em que a pessoa começa a ter atitudes de revolta, ressentimento e até mesmo inveja, para com as pessoas mais próximas (Marinho, Marinónio, & Rodrigues, 2007). O enlutado pergunta-se muitas vezes “Porquê eu?” (Marinho, Marinónio, & Rodrigues, 2007).
Apesar de serem fases muito complexas são necessárias sendo que a tristeza, a raiva, o choque e o entorpecimento, são as reações e sentimentos naturais que fazem parte do processo que permite que a pessoa consiga voltar a restabelecer-se (Basso, & Wainer, 2011).
A saudade e as modificações que a perda acarreta, fazem com que a pessoa parta para a última fase que Bowlby (1990, cit in Basso, & Wainer, 2011) define como a reorganização.
Os autores chamam a atenção para as diferenças entre o luto repentino e o luto antecipado, uma vez que o primeiro invade a pessoa enlutada de sentimentos e mudanças que não estavam previstas e que geram maior dificuldade para lidar com (Basso, & Wainer, 2011).
Numa situação de perda repentina, o indivíduo poderá mesmo tornar-se disfuncional ao ponto de não conseguir viver as fases do luto e complicando todo o processo (Basso, & Wainer, 2011).
Pelos estudos de Marinho, Marinonio e Rodrigues (2007) é importante, contudo, referir que cada pessoa é diferente e que, por isso, todos vivemos as fases do luto de forma individual, o que significa que elas poderão manifestar-se em maior ou menor intensidade, dependendo de cada pessoa.
Conclusão
De acordo com os estudos levados a cabo por diversos autores podemos compreender que as fases do luto são de extrema complexidade e que, por isso, variam de pessoa para pessoa. A experiência de cada uma delas depende do grau de intensidade com que é vivida, da relação que existia entre a pessoa que partiu e a pessoa enlutada e das características internas da última. É ainda importante compreender que o processo de luto não se desenrola da mesma forma em situações de perda repentina ou de perda preparada, isto é, quando a morte já era esperada.
References:
- Basso, L.A., &Wainer, R. (2011). Luto e perdas repetinas: Contribuições da Terapia Cognitivo-Comportamental. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. 2011. 7(1). Pp. 35-43. Recuperado em 25 de março de 2018 de bvsalud.org/pdf/rbtc/v7n1/v7n1a07.pdf;
- Marinho, A.H.R., Marinonio, C.C.R., & Rodrigues, L.C.A. (2007). O PROCESSO DE LUTO NA VIDA ADULTA DECORRENTE DE MORTE DE UM ENTE QUERIDO. Rio de Janeiro: Universidade Estácio de Sá.