História
O Clube de Regatas do Flamengo, como seu nome sugere, foi fundado originariamente para a prática do remo, então o esporte mais popular do Rio de Janeiro em fins do século XIX. O surgimento do clube encerra uma curiosidade: embora tenha sido criado no dia 17 de novembro de 1895, adotou-se o dia 15, feriado nacional da Proclamação da República – ocorrida apenas seis anos antes – como a data oficial do aniversário do Flamengo.
Outras mudanças viriam marcar os primeiros anos do novo clube carioca. As primeiras cores, por exemplo, eram o azul e o dourado, mas duraram apenas um ano. Era difícil encontrar tecidos naqueles tons, e para piorar os uniformes desbotavam facilmente com a água salgada. Em pouco tempo, decidiram trocar pelo vermelho e preto. Também a sede mudou. Fundado em uma casa na Praia do Flamengo, o clube iria se transferir depois para o bairro da Gávea, também na Zona Sul carioca, a cerca de 6 km de distância, graças à cessão de um terreno da Prefeitura do Rio, em 1931, para a construção do estádio e da sede social do clube. E o remo, razão primeira do surgimento do Flamengo, logo daria lugar ao futebol como esporte principal do clube.
O Rio de Janeiro já tinha um campeonato de futebol desde 1906, dominado inicialmente por Fluminense e Botafogo. No início, porém, o Flamengo sequer possuía um departamento de futebol. O primeiro time rubro-negro surgiu em 1912, quando boa parte da equipa do Fluminense, liderado por Alberto Borgerth, decidiu abandonar o clube, migrando para o rival. O primeiro jogo oficial do Flamengo aconteceu no dia 3 de maio de 1912, uma vitória por 15 a 2 sobre o Mangueira.
Para muitos, uma da razões da grande popularidade do Flamengo deriva do fato de o time, sem um estádio próprio no início, ter de treinar na Praia do Russel, diante da população, o que acabou atraindo a simpatia dos cariocas. O Flamengo é o time com maior número de adeptos no Brasil, tendo sua maioria concentrada no Rio de Janeiro, naturalmente, porém com representação em todos os estados brasileiros. O mais recente levantamento censitário de adeptos no Brasil (Lance!/Ibope), feito em 2014, apontou o rubro-negro com 16,2% da preferência, o que corresponde a cerca de 32 milhões de torcedores.
A primeira conquista do futebol rubro-negro veio em 1914, quando o time venceu o Campeonato Carioca, como é chamado o campeonato estadual do Rio de Janeiro – no Brasil, durante quase todo o século XX os estaduais foram os campeonatos mais importantes, e ainda hoje são muito comemorados pelos adeptos. O Flamengo levaria quase um século para superar o Fluminense como o recordista de troféus no Campeonato Carioca, o que só ocorreu em 2009, com a 31ª conquista rubro-negra. Hoje, o Flamengo soma 34 títulos estaduais, contra 31 do Fluminense.
Alguns dos principais jogadores do futebol brasileiro defenderam o Flamengo, como Leônidas da Silva, o Diamante Negro, goleador máximo do Campeonato Mundial de 1938, com sete golos; Zizinho, um dos craques do selecionado brasileiro vice-campeão mundial em 1950; Evaristo de Macedo e Mario Zagallo. Até mesmo Pelé já vestiu-se de rubro-negro em um amigável contra o Atlético Mineiro, em 1979, diante de 139 mil adeptos no Maracanã, para arrecadar fundos para vítimas de enchentes que assolaram o estado de Minas Gerais na época.
Ainda que seja um estádio público – hoje administrado por uma concessionária privada -, o Maracanã foi adotado desde sempre pela torcida do Flamengo como sua casa. O pequeno estádio da Gávea, com capacidade inferior a cinco mil pessoas, deixou de ser usado em 1997. Mas bem antes disso já era relegado a segundo plano no coração dos adeptos. Foi no Maracanã que o Flamengo alcançou suas maiores glórias no futebol em quase dois mil jogos desde a inauguração do estádio, em 1950. O recorde extraoficial de público em partidas entre clubes foi marcado em 15 de dezembro de 1963, com 177.656 adeptos no Flamengo 0 x 0 Fluminense que decidiu o Campeonato Carioca em favor do rubro-negro.
Na década de 70 foi forjada na Gávea a geração mais vitoriosa do futebol do Flamengo. Um time formado por craques como Leandro, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio e Tita, liderados por aquele que se tornaria o maior ídolo e o maior goleador de. sempre do clube, Arthur Antunes Coimbra, ou simplesmente Zico (508 golos em 732 jogos, incluindo amigáveis). No período de seis anos, o Flamengo conquistou quatro Campeonatos Cariocas (1978, 1979 – duas vezes – e 1981), seu três primeiros Campeonatos Brasileiros (1980, 1982 e 1983), a Copa Libertadores da América e o Mundial Interclubes (ambos em 1981).
Depois de dois anos na Udinese, da Itália, Zico voltou ao Flamengo em 1985 para ganhar mais um título nacional, em 1987, junto a outra geração de jogadores de renome internacional: Jorginho, Aldair, Leonardo, Zinho e Bebeto, revelados na Gávea, além do avançado Renato Gaúcho, contratado ao Grêmio de Porto Alegre. Aquela conquista, no entanto, até hoje é razão de debate. Organizada pela primeira vez fora do âmbito da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a Copa União foi criada sem seguir critérios técnicos, ainda que reunisse de fato os principais clubes do país. Durante o torneio, a CBF decidiu retomar o controle, determinando que os dois finalistas da primeira divisão – Flamengo e Internacional – deveriam jogar um cruzamento com os da segunda divisão – Sport e Guarani. Os primeiros recusaram-se a participar, e o Sport foi declarado campeão brasileiro. Flamengo e Sport consideram-se legítimos donos do título nacional de 1987.
O Flamengo venceu a Copa do Brasil de 1989 e novamente o Brasileiro, em 1992, nos dois casos tendo à frente outro craque do passado, Júnior, então com 38 anos na última conquista. Em 1999, o clube levantou outra taça internacional, a Copa Mercosul, precursora da atual Copa Sul-Americana. No século XXI, o Flamengo esmerou-se em vencer o Campeonato Carioca – sete vezes – mas não conseguiu o mesmo sucesso fora do âmbito do Rio de Janeiro. Foram apenas três conquistas de relevo: duas Copas do Brasil (2006 e 2013) e um Campeonato Brasileiro, em 2009, quando os rubro-negros ganharam dois novos ídolos, o sérvio Petkovic, de volta ao clube pelo qual marcou época na primeira passagem, com um gol histórico que valeu o tricampeonato carioca de 2001, contra o Vasco, e o atacante Adriano, o Imperador, em seu último momento de glória, depois de abandonar a Inter de Milão por depressão. Formado no Flamengo no início do século, Adriano conseguiu em seu breve retorno ao clube o sucesso que outros craques internacionais não obtiveram, como Romário, que jogou no Flamengo entre 1995 e 1999, e Ronaldinho Gaúcho, em 2011.
Fora de campo, porém, o Flamengo alcançou duas metas importantes neste século: a construção do sonhado centro de treinamentos, o Ninho do Urubu, em referência ao animal símbolo do clube, e a reorganização financeira promovida pela gestão iniciada em 2013, que saneou dívidas fiscais e trabalhistas ao mesmo tempo em que promoveu um incremento de receitas que faz do Flamengo um dos clubes mais fortes economicamente do futebol brasileiro na atualidade.