Introdução
A Antropologia Americana (precisamente estadunidense) é um vasto empreendimento profissional e académico. É ensinada em inúmeras escolas secundárias, e na maior parte das Universidades. Cerca de 90 Universidades concedem anualmente cerca de 400 doutoramentos em Antropologia. Acentua-se o contraste significante entre a percentagem de antropólogos aplicados e antropólogos académicos, excedendo o primeiro grupo o segundo grupo, ao que se acrescenta ainda o tipo de profissões imprevisíveis que exercem os primeiros: funções relacionadas com o Direito, Medicina, Relações Públicas, e Serviços Governamentais.
Mais de 370 departamentos académicos de Antropologia, 64 museus, 42 institutos de investigação, e 11 organizações governamentais, estão filiados à Associação Americana de Antropologia, cujos membros (cerca de 11 000) representam uma pequena fatia da profissão. As associações de estudos regionais e de área atendem a reuniões periódicas, subsequentemente produzindo os frutos desses encontros sob a forma de jornais académicos.
Tradicionalmente, o modelo assumido pela Antropologia Americana destaca-se pelos quatro campos, figurados pela arqueologia, linguística, biologia e antropologia cultural. Esta ênfase desenvolveu-se por volta do século XIX, sendo parte do movimento de substituição dos interesses amadores representados em diversas instituições por antropólogos academicamente treinados.
Tendências Passadas e Presentes na Antropologia Americana
Em termos temáticos, a Antropologia Americana pode ser encapsulada na história intelectual da descoberta e passagem da Modernidade. Todavia, este período apresenta três fases: um período de “desenvolvimentalismo”, outro de “estruturalismo”, e outro de “especialização diferenciadora”.
A primeira fase, durando entre 1851 e 1889, foi um período caracterizado pela prática do exercício etnológico por parte do Gabinete de Etnologia Americana. O trabalho de campo era frequentemente longo, habitualmente realizado entre os americanos nativos, e com recurso às linguagens indígenas. Recolhiam-se artefactos e textos, adicionalmente fotografando-se o momento. Acreditava-se que as condições demográficas e materiais das reservas índias, em constante deterioração, necessitavam urgentemente de uma forma de “antropologia salvífica”, uma vez que estas formas de vida estavam rapidamente a desaparecer.
A segunda fase, decorrida entre 1890 e 1940, foi um período formativo em que se estabeleceu a Antropologia Académica, prosseguida por um processo de profissionalização por parte dos departamentos universitários. Articulou-se também o conceito de cultura segundo o entendimento de Franz Boas, sendo posteriormente desenvolvido pelos seus discípulos e estudantes, que dominaram a Antropologia profissional, e substituíram a ênfase precoce no factor “sociedade”. Advogou-se a pesquisa sustentada nos quatro campos, uma vez que só o recurso a este manancial disciplinar auxiliaria a reconstrução das culturas americanas nativas em extinção.
A terceira fase, prolongada entre 1940 e 1964, foi uma fase de supremacia científico-social, que se pode descrever pela dominação académica de disciplinas como a Economia, a Sociologia, e a Ciência Política. Mantendo apenas uma aliança parcial com as ciências sociais, a Antropologia Americana resistiu às definições sociológicas paupérrimas do campo. No entanto, a metodologia da pesquisa transformou-se, e os antropólogos iniciaram o estudo das condições contemporâneas das reservas. Os antropólogos que observaram as comunidades americanas rurais e urbanas começaram a questionar as generalizações dos sociólogos e cientistas políticos sobre a sociedade dos Estados Unidos da América.
Já o trabalho além-mar expandiu significativamente este mesmo ponto de vista, conduzindo ao questionamento aprofundado de noções como tradição, modernização, continuidade, e mudança. Atribui-se ao estruturalismo, iniciado com Claude Lévi-Strauss, uma tremenda proeminência, uma vez que abriu novamente as portas da etnologia europeia. Deste modo, o pensamento francófono começou a ganhar relevância na Antropologia Americana.
História Disciplinar
Uma faceta distinta da Antropologia Americana é o grande interesse pela história da disciplina. Este interesse tornou-se virtualmente num subcampo da disciplina principal em 1962, altura em que uma conferência promovida pelo Conselho de Investigação em Ciências Sociais abordou o tópico. Embora existam relatos limitados da Antropologia Americana e seus praticantes principais, existem casos de investigações notáveis, como a de Leslie White nos arquivos de Lewis Morgan.
Já a pesquisa e ensino de A.I.Hallowell na Universidade de Pensilvânia, e posteriormente o trabalho de Dell Hymes, forneceram as bases para o novo interesse disciplinar. Eis algumas das temáticas mais investigadas neste âmbito disciplinar: a Antropologia Americana entre 1850 e 1930, a Antropologia Alemã praticada no século XIX, a Antropologia Canadiana, e a Antropologia Vitoriana.
References:
Stocking, Jr. G.W., (1993) The Ethnographer’s Magic and other Essays in the History of Anthropology, Madison: University of Wisconsin Press.