Escola dos Annales

Os historiadores da Escola dos Annales são reconhecidos pela metodologia eclética e pelos tópicos explorados: a sua perspetiva partilhada subordinou a história tradicional narrativa centrada nas elites políticas, militares, e religiosas, englobando um vasto conjunto de fontes e metodologias e teorias das ciências sociais.

Introdução

O grupo de historiadores interdisciplinares que emergiu na França no primeiro quarte do século XX, tornou-se conhecido pelo jornal que Marc Bloch e Lucien Febvre iniciaram em 1929: Annales de l’histoire économique et sociale; agora denominado Annales: Histoire, Sciences Sociales. Os historiadores da Escola dos Annales são reconhecidos pela metodologia eclética e pelos tópicos explorados: a sua perspetiva partilhada subordinou a história tradicional narrativa centrada nas elites políticas, militares, e religiosas, englobando um vasto conjunto de fontes e metodologias e teorias das ciências sociais. Os resultados diversos das suas investigações são o testemunho do poder da camaradagem, dos mentores, e do encorajamento entre os estudantes nas inquirições interdisciplinares.

Eruditos como Tocqueville, Marx, e Weber, foram pioneiros pela visão sociológica ampla que propuseram da história. Mas a Escola dos Annales consolidou esta tendência para a disciplina histórica com a fundação do jornal, e a rede informal colegial centrada na École Pratique des Hautes Études. Peter Burke descreveu três gerações dos Annales: a geração fundadora, iniciada por Bloch e Febvre; a geração liderada por Fernand Braudel; uma terceira geração, sendo muitos dos seus elementos apontados por Fernand Braudel aquando serviu como diretor da Maison des sciences de l’homme.

Repensar a História

Os académicos fundadores escreveram estudos imponentes que desafiaram os pressupostos centrais relativamente à matéria da história. Marc Bloch percorreu inúmeros tópicos, analisando a persistência da superstição, como a habilidade do Rei em curar com o toque, e explorando o feudalismo, instituição social que resistiu durante séculos.

Analogamente, Lucien Fevbre estudou temáticas que abordavam ora a geografia ora a biografia. Contudo, o académico clássico da Escola dos Annales continua a ser Fernand Braudel, sobretudo pelo tremendo trabalho intitulado The Mediterranean World in the Age of Philip II, escrito em blocos de notas enquanto Braudel era prisioneiro de guerra na Alemanha, vindo a publicar esse livro em 1949. O livro em questão mapeia a região mediterrânea à luz do seu ambiente, ecologia humana, e formações sociais duradouras, oferecendo uma história narrativa convencional de Felipe somente no final.

A partir de 1960, Braudel teorizou sobre três camadas temporais: a história ecológica (la longue durée); a história institucional; a história dos eventos. Para elucidar a ligação entres as três camadas, invocou uma metáfora orquestral: as temporalidades históricas múltiplas compõem a grande sinfonia da História.

A Escola dos Annales é melhor compreendida como um movimento académico do que propriamente um paradigma, uma vez que aplica metodologicamente abordagens radicalmente diferentes, como a geografia, a economia, a sociologia, e a antropologia social e cultural. Apesar das falências sistémicas do modelo de Braudel, os académicos dos Annales evitaram constantemente o termo de “sistema” nos seus trabalhos. De acordo com Georg Iggers (1997: 53-5), o movimento pediu de empréstimo o que se estava a realizar em termos teóricos no estruturalismo francês, e mais amplamente, o que se estava a consolidar no estruturalismo linguístico e antropológico. Ou seja, o historicismo dos Annales é um historicismo estruturalista, quer dizer, que entende as estruturas como sendo arranjos persistentes na história.

Desde 1960 que os académicos dos Annales têm vindo a participar num diálogo internacional que orientou a agenda da história cultural relativamente à história social, a história “de baixo” (from below). Em 1970 a Escola dos Annales viria a adquirir proeminência na sociologia histórica, devido à teoria do sistema-mundo de Wallerstein.

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References:

Burke, P. (1990) The French Historical Revolution: The Annales School, 1929 89. Cambridge, Polity Press.

 

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