Emirados Árabes Unidos: um país de diversão e de cultura
A literatura dos Emirados Árabes Unidos (EAU) é bastante recente, assim como o é o seu reconhecimento. O país é imediatamente associado à riqueza, ao consumo e ao turismo, mas pouco se conhece acerca da sua produção cultural e, particularmente, literária.
O desenvolvimento da literatura dos Emirados Árabes Unidos
A literatura contemporânea dos Emirados tem início nos anos 70 (altura da unificação e independência do país), excetuando o caso da poesia moderna que data de inícios do século XX. O progresso ao nível da educação nacional e a abertura, em Abu Dhabi, da primeira universidade do país, United Arab Emirates University, foram importantes impulsionadores da produção literária dos Emirados. Outros fatores deram a sua contribuição: a realização dos majlis, reuniões socioculturais em que as atividades literárias eram frequentes; a abertura de livrarias, bibliotecas, clubes literários e a inauguração de diversas iniciativas culturais; o desenvolvimento da imprensa, cujo papel foi imprescindível na divulgação de criações literárias locais e ainda as visitas aos Emirados por parte de vários intelectuais árabes e muçulmanos que encorajaram a produção cultural nacional.
A literatura dos Emirados Árabes Unidos encerra uma forte tradição oral, o que explica a forte presença, em termos literários, da poesia e da short story. A poesia Nabati, transmitida de geração em geração e caracterizada por um estilo espontâneo e acessível (sem que isso lhe retire riqueza literária), mantém a sua força precisamente por ser fácil de memorizar e transmitir pela via oral.
Poesia dos EAU
A poesia contemporânea dos EAU pode dividir-se em três diferentes movimentos: a poesia clássica, assente no pilar da unidade entre métrica e rima e na qual se destacam nomes como Shihab Ghanim, Ahmad Muhammad ‘Ubayd, ‘Abd Allah al-Hadiya ash-Shahhi, Rahaf al-Mubarak e Jawriyya al-Khaja; a poesia moderna, que trouxe a novidade do verso livre, escrito por poetas como Ibrahim Muhammad Ibrahim, Saliha Ghabish, Ibrahim al-Hashimi, Karim Ma’tuq, Ahmad Rashid Thani, Khulud al-Mu’alla, Nasir Jubran e Ali al-Sha’ali; e, finalmente, a poesia contemporânea, ou nova poesia, muito representada pela ausência de ritmo na escrita de autores como Zabiyya Khamis, Thani as-Suwaydi, Khalid al-Baddur, Asma’ az-Zar’uni, Khalid ar-Rashid, Nujum al-Ghanim, Muhammad al-Mazru’i, al-Hanuf Muhammad, Harib az-Zahiri, Maysun Saqr, Ahmad al-Asam, Wafa’ Khazandar, Jamila ar-Ruwayhi e ‘Abd Allah ‘Abd al-Wahab.
Todas apresentam uma constante: o conteúdo patriota, em que o amor à pátria, o sacrifício pela nação, os valores familiares e questões do foro social predominam.
Short story dos EAU
A short story é um género narrativo bastante popular nos Emirados. Entre as décadas de 60 e 70 do século XX, alguns autores locais começam a escrever short stories. Destacam-se dois nomes pioneiros: Abdullah Saqr e Shaikha Mubarak na-Nakhi. A Piece of Wood, de Abdullah Saqr, foi a primeira coleção de short stories a ser publicada, embora imediatamente censurada, pois continha uma crítica mordaz à ocupação britânica. Mais tarde, em 1975, volta a ser publicada sem qualquer alteração ao título. Shaikha Mubarak an-Nakhi é autora de The Departure, escrita em 1970, mas apenas publicada em 1992.
A primeira geração de autores de short stories dos Emirados Árabes Unidos está compreendida entre 1970 e 1990 e alguns dos nomes mais sonantes são: Abddul Hamid Ahmed , Ali Abdul Aziz al-Shrihan, Leila Ahmad, Nasser Jubran, Salma Mater Saief, Amina Abdullah e Mohammad Al Murr. Por esta altura, a escrita é nostálgica e evoca um passado tribal, vivido em comunidade, altura em que o mar e o deserto eram elementos essenciais nas vidas dos locais; escreve-se também sobre a procura de um sentido comum, principalmente após o boom da exploração do petróleo e consequentes transformações sociais, económicas e culturas.
A segunda geração de autores de short stories, compreendida entre 1990 e 2010, tem como principais tópicos literários a relação com o presente, numa sociedade que está agora altamente globalizada e que, neste contexto, tenta equilibrar elementos de modernidade e tradição. A influência ocidental e a urbanização do estilo de vida levantam determinadas inquietações sociais como, por exemplo, as questões de género e a preocupação com as condições em que se dá o fluxo de imigração, fenómeno tão presente no país.
A definição da identidade de uma sociedade que, em poucas décadas, passa de uma estrutura assente em comunidades tribais para um meio totalmente cosmopolita é uma preocupação constante e transversal na literatura dos Emirados Árabes Unidos.