Conceito de Ciclo cardíaco
O ciclo cardíaco resulta das modificações rítmicas da atividade elétrica do coração e é dividido em dois períodos principais: uma fase na qual ocorre a contração do ventrículo e a ejeção do sangue, chamada sístole, que alterna com uma fase de relaxamento e enchimento do ventrículo, designada diástole.
Um ciclo cardíaco começa no final de uma sístole ventricular e termina no final da sístole seguinte, corresponde ao tempo entre dois batimentos cardíacos e tem a duração aproximada de 0,8 segundos quando a frequência cardíaca é de 75 batimentos ou ciclos por minuto.
Atividade elétrica do coração
O impulso inicia com a autoexcitação das fibras do nódulo sinusal ou sinoauricular (SA) pela despolarização das células e distribui-se por toda a massa muscular das aurículas provocando a sua contração. Há uma demora na transmissão do impulso para os ventrículos no nódulo auriculoventricular, o que permite que a excitação total, e consequente contração das aurículas, ocorra antes que inicie a excitação dos ventrículos. A seguir, o impulso é conduzido pelo feixe de His, que se divide em dois ramos, esquerdo e direito, que conduzem o impulso até ao ápice do coração. Nos ventrículos, estes feixes subdividem-se em numerosas fibras, as fibras de Purkinje, que conduzem a excitação por toda a massa muscular dos ventrículos levando à sua contração rápida e com grande força.
Esta atividade elétrica do coração é registada no eletrocardiograma – ECG (Fig.1A) no qual cada onda registada representa a transmissão de um impulso que estimula a contração de uma porção específica do coração: a onda P reflete a despolarização das aurículas a partir do nódulo SA, o complexo QRS reflete a despolarização dos ventrículos e a onda T resulta da repolarização, ou seja da recuperação do potencial de repouso, dos ventrículos. Num ECG normal, a repolarização das aurículas não aparece de forma evidente porque acontece ao mesmo tempo que o complexo QRS.
Fig.1. Resumo dos acontecimentos no ciclo cardíaco (A – ECG; B – Fonocardiograma; C – Volume e pressão na aurícula esquerda, ventrículo esquerdo e aorta; D – Fases do ciclo cardíaco)
Fases do ciclo cardíaco
1 – Fase de enchimento passivo: Corresponde ao momento entre a onda T e a onda P (Intervalo TP) do ECG, entre o fim da repolarização do ventrículo e a despolarização da aurícula. Inicia com a abertura da válvula auriculoventricular. Devido à entrada de sangue de forma contínua na aurícula, a pressão existente no ventrículo é inferior à pressão na aurícula e o ventrículo enche de forma passiva (o sangue flui de alta para baixa pressão);
2 – Fase de contração auricular: Corresponde ao fim da diástole ventricular. O impulso chega à aurícula ocorrendo uma despolarização (onda P) que causa a contração da aurícula que expulsa uma quantidade adicional de sangue para o ventrículo que acaba de encher. O volume diastólico final no ventrículo é de cerca de 140 ml (Fig.1C – ponto α).
3 – Fase de contração isovolumétrica do ventrículo: O impulso chega ao ventrículo onde se dá a despolarização (complexo QRS) . A seguir, a pressão ventricular sobe muito rapidamente ocorrendo o início da sístole. A válvula auriculoventricular fecha, o sangue bate na válvula fechada provocando o 1º som que se ouve no fonocardiograma (Fig.1B).
A valva aórtica continua fechada e a pressão arterial mínima ou diastólica é de 70 mmHg.
4 – Fase de ejeção: A valva aórtica abre e o sangue é expulso do ventrículo. A pressão arterial máxima ou sistólica é de 120 mmHg (Fig.1C).
O volume sistólico final no ventrículo é de cerca de 70 ml (Fig.1C – ponto β). O débito sistólico, correspondente ao volume de sangue que sai do ventrículo é então de 70 ml (Débito sistólico = Volume diastólico final – Volume sistólico final).
5 – Relaxamento isovolumétrico do ventrículo: O início desta fase corresponde ao aparecimento da onda T no ECG que corresponde à repolarização ventricular. A diástole ventricular inicia. A valva aórtica fecha e causa o 2º som que se ouve no fonocardiograma (Fig.1B). A válvula auriculoventricular continua fechada.
References:
- Sherwood, L. (2006). Physiologie cardiaque. In: Sherwood, L.Physiologie Humaine. 2nd ed. Bruxelles: De Boeck Supérieur. p241-270.
- Zorn, T.M. (2004). Sistema circulatório. In: Junqueira, L.C. & Carneiro, J. Histologia básica. 10th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. p206-222.
- Widmaier, E.P., Raff, H. & Strang, K.T.. (2004). Cardiovascular physiology. In: Widmaier, E.P. et al. Vander, Sherman & Luciano’s Human Physiology: The Mechanisms of Body Function . 9th ed. Boston: Mcgraw-Hill. p375-466.