A apraxia verbal diz respeito à dificuldade em produzir fala de forma consistente entre os movimentos da mesma e a forma como é articulada ao produzir a palavra.
Gubiani, Pagliarin e Keske-Soares (2015) referem-se à apraxia verbal, segundo o conceito da American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) que define a mesma como uma perturbação de origem neurológica que leva à falta de consistência entre os movimentos da fala e a sua articulação, uma vez que os músculos articulatórios da mesma estão comprometidos.
Segundo os estudos de outros autores como Payão, Lavra-Pinto, Wolff e Carvalho (2012) a apraxia verbal pode começar a ser notada ainda na infância e diz respeito a alterações ao nível da fala. Ela pode ser definida como apraxia da fala desenvolvimental, dispraxia verbal desenvolvimental ou apraxia da fala na infância (Payão, Lavra-Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
Ao contrário de muitas perturbações da infância, no caso da apraxia verbal, as características não são observadas em erros comuns aos das crianças com atraso no desenvolvimento da fala, mas sim assemelham-se mais a erros comumente encontrados em adultos com apraxia adquirida (Payão, Lavra-Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
No que concerne ao género, é mais comum encontramos um quadro de apraxia verbal em meninos do que em meninas, no entanto, em contraposição, quando encontrado em meninas, é mais severo (Payão, Lavra-Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
A maior dificuldade nestas crianças é a falta de estrutura e de organização quando a criança vai produzir fala (Payão, Lavra-Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
Payão, Lavra-Pinto, Wolff e Carvalho (2012) consideram ainda importante distinguir o que podemos entender como apraxia verbal na infância e apraxia verbal adquirida, pelo que no caso dos adultos, em que se trata de apraxia verbal adquirida, a apraxia verbal resulta de uma lesão focal na Área de Broca ou córtex sensoriomotor do hemisfério esquerdo. A partir daqui vão surgir dificuldades em articular os movimentos musculatórios que dão origem à capacidade de produzir fala (Payão, Lavra-Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
Ou seja, podemos dizer que, no caso dos adultos, a apraxia verbal é um dado adquirido (Payão, Lavra-Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012). No caso das crianças, quando encontramos um quadro de apraxia verbal, apesar de o mesmo provir de um dano cerebral, trata-se de uma fase de desenvolvimento pelo a mesma ainda está a adquirir estas funções, e por esse motivo se trata de apraxia verbal infantil e não, adquirida (Payão, Lavra-Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
Assim, e tratando-se de uma perturbação do foro neurológico, ela pode ser causada ainda no ventre materno, através de infeções ou de traumas, bem como pode estar ligada a uma perturbação do foro neurocomportamental complexo ou ser neurogénica idiopática (Payão, Lavra-Pinto, Wolff, & Carvalho, 2012).
As autoras recorreram aos estudos de alguns investigadores no que diz respeito aos sinais de apraxia verbal na infância, nos quais se identificaram algumas evidencias como:
- Dificuldades em tarefas que implicam coordenação motora fina;
- Movimentos alterados nas extremidades corporais e na língua,
- Articulação de palavras de forma distorcida, prolongada, repetições, adições e omissões.
Outros estudos realizados no mesmo sentido, referem ainda a presença de erros na produção de consoantes e vogais, na produção repetitiva de sílabas e palavras e na dificuldade na transição entre sons e sílabas das palavras, principalmente quando as mesmas têm acentos (Gubiani, Pagliarin, & Keske-Soares, 2015).
São sinais característicos, algumas dificuldades como:
- Erros de substituição;
- Trocas de fala inconsistentes;
- Maior número de erros em vogais;
(Gubiani, Pagliarin, & Keske-Soares, 2015).
Conclusão
A apraxia verbal diz sempre respeito a dificuldades em produzir fala de forma articulada e organizada, pelo que a pessoa tende para produzir as palavras com erros, repetições e sons inconsistentes. Verifica-se que ela pode acontecer ainda durante o período de desenvolvimento infantil, quando diz respeito à apraxia verbal na infância, ou pode ainda ser adquirida, já na vida adulta, quando acontece uma lesão na Área de Broca, no hemisfério esquerdo, que irá levar ao comprometimento da musculatura oratória e, consequentemente, à dificuldade em produzir fala articulada.
References:
- Gubiani, Marileda Barichello, Pagliarin, Karina Carlesso, Keske-Soares, Marcia. Instrumentos para avaliação de apraxia de fala infantil. CoDAS [Internet], 2015 Dec [cited 2018 Feb 25]; 27 (6): 610-615. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2317-17822015000600610&script=sci_arttext;
- Payão, L.M.C., Lavra-Pinto, B., Wolff, C.L., & Carvalho, Q. (2012). Características clínicas da apraxia de fala na infância: revisão da literatura. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 47, n.1,p.24-29, jan/mar, 2012.