Revolução Científica

É hábito que a seguinte frase sumarie as transformações ocorridas durante a Revolução Científica: um período em que surgiu um novo modo de se estudar a natureza, e em que uma nova conceção do mundo físico se tornou aceite por uma pequena comunidade de escolásticos, embora não necessariamente pelo leigo.

É hábito que a seguinte frase sumarie as transformações ocorridas durante a Revolução Científica: um período em que surgiu um novo modo de se estudar a natureza, e em que uma nova conceção do mundo físico se tornou aceite por uma pequena comunidade de escolásticos, embora não necessariamente pelo leigo. O estatuto específico desse “novo modo”, porém, é ardentemente disputado, e precisamente os passos históricos concretos envolvidos nesta transformação são demasiadamente complexos. As histórias mais comuns sobre o tópico pertencem a Dampier (1966) e Cohen (2001). Cohen acentua os estágios implicados do ponto de vista criativo inicial à disseminação (oralmente ou por escrito), até à ampla aceitação. Por exemplo, a teoria da inércia de Descartes manteve-se oculta após a condenação da interpretação teológica de Galileu por parte da Inquisição, pelo que Descartes achou não ser esse um bom momento para publicar a sua teoria.

 

Breve Sumário

Durante o século XVII houve uma importantíssima transformação qualitativa na abordagem ao estudo da filosofia natural, e essa grande mutação é frequentemente denominada como Revolução Científica, sendo que é claro que outras revoluções de pequeno cariz ocorreram antes, e continuam a ocorrer contemporaneamente. Por esta altura aconteceu uma tremenda transição, na medida em que se demarcaram a astronomia da astrologia, e a química da alquimia. No mesmo contexto, novos avanços conquistaram-se no campo da matemática. No entanto, a história do despertar da ciência moderna começa mais cedo, nomeadamente a partir do contato dos árabes com a ciência grega; por seu turno, a ciência moderna culminará com a filosofia iniciada no Iluminismo europeu.

 

Diferentes filosofias naturais mudaram consoante ritmos e caminhos próprios. Por exemplo, o progresso empírico e teórico na astronomia e física diferiu do progresso alcançado em ciências físicas como a química. Mas somente entre 1500 e 1800 é que a distinção entre a verdadeira ciência e a proto ciência (e também a pseudociência) se tornou suficientemente nítida. Inúmeros pensadores interpretaram a essência da revolução intelectual como um salto relativamente à tradição legada pela física aristotélica e o racionalismo. Mas a noção de que o simples empirismo indutivo, identificado na obra Novum Organum (1620) de Francis Bacon, seria a base do método científico foi rejeitada. Deve-se recordar que a introdução da obra de Aristóteles intitulada Organon, concernente às categorias e interpretação, e a sua física, astronomia e biologia, transitaram para a teologia romano-católica de Tomás de Aquino, abrindo-se assim uma nova janela para o estudo da ordem atual da natureza e do universo.

 

A ideia da importância dos matizes referentes aos pressupostos teóricos gerais concernentes à ontologia e epistemologia, tem sido presença assídua desde a história das transformações paradigmáticas na ciência física elaborada por Kuhn (1970). Deveras, as ciências sociais aplicam regularmente a teoria geral de Kuhn sobre a oscilação entre “ciência normal” e “revolução paradigmática”. A ligação entre as teorias de Kuhn e os pontos de vista iniciais relativos à dialética da razão, (pontos de vista associados sobretudo à crítica hegeliana do dualismo cartesiano) notam-se facilmente. No entanto, a revolução paradigmática ocorrida no século XVII associada com figuras como Descartes, Galileu, Copérnico, Kepler entre outros, foi extremamente importante, uma vez que lançou as bases para a fundação daquilo que seria considerada a verdadeira ciência nos próximos quatro séculos.

 

As leis de Newton sobre a atração gravitacional, moção e força, expostas na obra Principia Mathematica, conduziram ao newtonianismo, amplamente exportado para a Europa, ainda que o cartesianismo na França tenha sido um rival durante inúmeros anos. No século XVIII, a botânica e a zoologia tornaram-se mais sistemáticas graças ao uso da nomenclatura binómica, embora a teoria da natureza e sociedade abraçada por Lineu se tenha revelado profundamente defeituosa.

 

Foi preciso alcançar-se o século XX para que uma série de novas ideias viessem a alterar radicalmente o pensamento científico. A teoria da relatividade de Einstein não rejeitou a mecânica newtoniana, mas tornou clara que os pressupostos de Newton sobre o espaço e o tempo eram demasiadamente limitados, e que uma explicação verdadeira da gravidade requeria a postulação do espaço-tempo. Analogamente, descobertas na matemática e na estatística, particularmente a invenção da geometria não euclidiana, revolucionaram a ciência da mesma forma que o tinham feito antes, outras ideias pertencentes à mesma genealogia.

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References:

Cohen, I. B. (2001) Revolution in Science. Belknap/ Harvard University Press, Cambridge, MA.

 

Dampier, W. C. (1966 [1929]) A History of Science, 4th edn. Cambridge University Press, Cambridge.

 

Kuhn, T. (1970) The Structure of Scientific Revolutions, 2nd edn. University of Chicago Press, Chicago.

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