Contextualização do Janízaro:
O Janízaro em turco Yeniçeri que numa tradição literal para o português significa ‘Nova Força’, era o combatente de elite das forças imperiais otomanas. O corpo militar dos Janízaros foi constituído pelo Sultão Murad I.
A expansão territorial otomana deu-se muito à custa de regiões previamente ocupadas por cristãos. Com o sultão Murad I as crianças cristãs eram retiradas das suas casas como escravas e convertidas ao Islão. O Janízaro era um antigo cristão escravizado e convertido ao Islão. Esta política permitia criar uma força militar completamente doutrinada nas convicções e ambições otomanas por um lado, e por outro criar um elo de ligação entre conquistados e conquistadores. Os territórios cristãos tinham menor propensão a revoltarem-se contra a autoridade otomana, sabendo que muitos dos seus filhos serviam o Sultão.
O Janízaro via a sua vida condicionada pela sua condição de muçulmano convertido e escravatura. Não podiam casar-se, não podiam consumir bebidas alcoólicas, eram proibidos de exercer qualquer tipo de profissão, não podiam usar barba e deviam total obediência aos oficiais superiores. Eram um corpo militar completamente fiel ao Sultão.
Murad I criou este corpo de elite baseando-se no princípio que os turcos deviam lealdade não só ao sultão, mas também á sua família e terra. Uma criança cristã retirada das suas famílias devia apenas lealdade ao sultão, não tinha laços sanguíneos e regionais que a condicionassem numa acção militar contra outros turcos. O Janízaro surgiu como forma de centralização do poder imperial otomano.
As crianças cristãs eram rapidamente convertidas ao islamismo, aprendiam a língua turca, técnicas e tácticas militares e viam o sultão como a única figura paternal e familiar, isto garantia a lealdade do Janízaro.
Quando uma cidade ou região era conquista pelo Império Otomano, as crianças de sexo masculino eram levados para escolas e campos de treinos. Quando o Império estava em tempos de paz exigia aos seus domínios cristãos um levantamento a cada cinco anos do número de crianças. Era então retirada uma em cada cinco crianças com seis e sete anos, mantendo assim um fluxo constante de recrutamento, quer em guerra ou paz.
Como elite do exército participavam na batalha como último recurso e na defesa do Sultão. Tornaram-se das forças militares mais temíveis da Europa na Época Medieval e início da Moderna, foram a primeira unidade a utilizar armas de fogo na Europa, possuíam armaduras formidáveis e uma grande habilidade na utilização do arco e espada.
O declínio do Janízaro coincidiu com o do próprio Império. No século XIX o Império Otomano viu sucessivas regiões cristãs tornarem-se independentes, limitando assim a base de recrutamento, paralelamente perdia influência para potências como a Rússia, França ou Inglaterra.
O limitar da influência otomano limitou os próprios Janízaros que mantiveram-se, embora em número muito inferior ao apogeu otomano nos séculos XV e XVI, como protectores do Sultão até 1922.
O exponencial crescimento deste corpo na Baixa Idade Média e início da Moderna fez com que, as diversas unidades fossem conhecidas por símbolos associados com flores ou peixes. Essencial para uma unidade era o caldeirão a partir do qual comiam, tornou-se um verdadeiro símbolo. Cada unidade ia para o campo de batalha com o seu caldeirão, caso o perdesse no combate a unidade era dispersada por outros regimentos Janízaros. Como não tinham família a unidade que pertenciam formava uma espécie de núcleo familiar – uma irmandade.
References:
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente (Coord.); Historia Universal de la Edad Media, Ariel, 2002
BALARD, Michel (et alii); A Idade Média no Ocidente: dos Bárbaros ao Renascimento, D.Quixote, 1994