Guerras dos Balcãs

As Guerras dos Balcãs tratam-se de uma série de conflitos que ditaram a queda da Jugoslávia, um país multi-étnico composto por 6 nações, três religiões e muitas etnias diferentes. O conflito desenrolou-se por vários anos e em diferentes territórios, sendo a batalha dos dez dias na Eslovénia em 1991 geralmente considerada a primeira batalha da guerra e a guerra do Kosovo em 1999  o seu término. O principal motivo da guerra foi o desejo de independência e secessão por parte da maioria das repúblicas que compunham a ex-Jugoslávia e o incremento dos discursos nacionalistas, sobretudo após a morte do Marechal Tito em 1980, durante décadas o garante da união entre os diversos povos jugoslavos.

Antecedentes

Muitos académicos consideram que as raízes da Guerra dos Balcãs podem ser encontradas nas acções cometidas durante a II Guerra Mundial pelos governos croatas, dominados pelos ‘Ustaše’ e pelos aspirantes monarcas ao poder na Sérvia, os ‘Chetniks’. Triunfantes, os Partisans, liderados por Tito e que conseguiram transplantar para o poder a união protagonizada em torno da ideologia comunista, e não em torno de linhas nacionais, criaram uma Jugoslávia de “irmandade e unidade”.

As agressões e os ódios nacionais, tabu na Jugoslávia de Tito, reemergiram nos anos 80, e todas as repúblicas elegeram líderes que focavam o seu discurso em tons nacionalistas, nomeadamente Franco Trudman, presidente croata e Slobodan Milosevic, líder sérvio. Por outro lado, a década 80 foi um período de desordem económica e de fraco crescimento. As repúblicas eslovenas e croatas, economicamente mais desenvolvidas, acreditavam que as outras repúblicas estavam a atrasar o seu crescimento, desejando mais independência. Ao mesmo tempo, os sérvios começaram incrementalmente a controlar os órgãos da Federação Jugoslava, procurando manter a união, mas procurando igualmente moldes mais favoráveis.

O 14º Congresso Extraordinário da Liga Comunista da Jugoslávia, em Janeiro de 1990, marcou, simbólica e oficialmente, o fim da união. Devido à manipulação política de Slobodan Milosevic, todas as propostas dos congressistas croatas e eslovenos foram rejeitadas, o que levou ao seu abandonar do congresso, e à dissolução do partido. Um ano depois, assistiu-se ao começo da guerra, ateada pelo rastilho da declaração de independência da Eslovénia e da Croácia.

Batalha dos dez dias

Com a declaração de independência em 1991, a Eslovénia pretendia um futuro longe da Federação Jugoslava, vista como desactualizada e controlada pelos interesses sérvios. No entanto, esta declaração foi considerada ilegal pela Federação, que enviou o seu exército para controlar as suas fronteiras internacionais, nomeadamente entre a Eslovénia, Itália e Áustria. Ainda assim, esta acção foi diminuta e desorganizada e eficazmente contrariada pelos soldados eslovenos, levando a rumores que a independência eslovena havia sido previamente acordada pelos líderes sérvio, Milosevic e esloveno, Milan Kucan. Esta batalha durou apenas uma semana, causando 40 mortos e um acordo patrocinado pela Comunidade Europeia.

Croácia

Os piores cenários da Guerra dos Balcãs desenrolaram-se na Croácia e, sobretudo, na Bósnia. Em ambos os territórios, a disputa sangrenta pela independência da Federação Jugoslava foi potenciada pelos ódios étnicos. Na Croácia, um país com uma minoria de Sérvios, que representava cerca de 12% da população total, os piores conflitos foram na região da Krajina, onde a maioria dos Sérvios vivia. Em 1991, estes proclamaram a secessão da República Sérvia da Krajina, da agora independente Croácia, expulsando Croata e muçulmanos do território. O governo croata respondeu na mesma moeda, antagonizando e perseguindo os Sérvios no seu território e mantendo o conflito com o governo da Krajina até Agosto de 1995. Nessa altura,  o exército croata lançou a Operação “Tempestade” que levou à expulsão quase total dos cerca de 250 mil Sérvios e à consolidação territorial da Croácia. Este conflito durou 4 anos e tirou a vida a mais de 120 mil pessoas, entre soldados e civis.

Bósnia – três etnias em conflito

Na Bósnia-Herzegovina, a guerra pelo controlo deste país atingiu a sua face mais violenta. Tratou-se de uma guerra de três entidades, dividas pelas alianças étnico-religiosas: os sérvios ortodoxos, os bosníacos muçulmanos e os croatas católicos. O conflito começou em 1992, mas no ano anterior, o Cerco de Sarajevo, o cerco mais longo a uma cidade na história moderna, mostrava o potencial devastador da guerra neste país. Num primeiro momento, croatas e bósnios aliaram-se contra os Sérvios da República “Sprksa”, que ocupavam a porção oriental do país. No entanto, a guerra viu os Croatas e Bósnios lutarem igualmente entre si e contra os Sérvios e apenas em 1994, a paz foi acordada entre as duas entidades representando os Bosníacos e os Croatas. Só em 1995, três anos após o seu início a guerra terminaria, com os Acordos de Paz de Dayton e mais de 100 mil mortos.

Consequências

A Guerra dos Balcãs marcou os anos 90, não apenas na região, como na Europa. Lembrança de genocídios e ódios étnicos, as feridas da guerra ainda estão, em muitos casos, abertas e a memória ainda é disputada. A memória da guerra ainda é feita, maioritariamente, em torno de alianças étnico-nacionais e, para as populações da ex-Jugoslávia, não é ainda fácil perdoar.

Referências

The Death of Yugoslavia – Documentário BBC

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