Contextualização da Galécia:
A Galécia não corresponde ao que actualmente é considerado Galiza. Na antiguidade correspondia a territórios que nos nossos dias compreendem a Galiza e Norte de Portugal. Várias entidades políticas ocuparam totalmente ou parcialmente esta região, povos como romanos, suevos ou visigodos estabeleceram-se no noroeste peninsular.
A denominação Galécia foi atribuída pelos romanos, que relacionavam os territórios do noroeste da Hispânia com a tribo que havia habitava – Galaicos, povo com ascendência Celta e promotor da Cultura Castreja.
Embora já existisse uma homogeneidade cultural nos territórios da Galécia, esta não estava organizada enquanto entidade politica. Esta organização territorial seria feita pelos romanos aquando da sua divisão administrativa da Península Ibérica. A Galécia Celta estava dividida em três tribos, os ástures localizados na região das Astúrias, os ártabros no que é actualmente a Galiza e os gróvios no que é Norte de Portugal.
A República Romana centrou a sua atenção na Península Ibérica após derrotar a grande civilização rival – Cartago. Segundo fontes da época um numeroso exército Celta compostos por sessenta mil homens enfrentou as forças romanas nas margens do Rio Douro em 137 a. C., resultando numa esmagadora vitória romana que colocou o noroeste peninsular sobre administração latina. Apenas o norte peninsular mantinha independência, muito pela dificuldade que a orografia apresentava aos conquistadores romanos.
Embora tenham conquistado o território, os romanos só conseguiram verdadeiramente pacificar a região com o primeiro Imperador Romano, Augusto. Entre 26 e 19 a.C., as Campanhas Cantábrias subjugaram o reminiscente na Hispânia Celta e pacificaram os territórios previamente conquistados.
Os relatos romanos da época elucidam da carnificina que ocorreu na Galécia. Fora as execuções em massa perpetradas pelos romanos geralmente através de crucificações, são descritos suicídios em massa, mães que preferiam assassinar os filhos a entrega-los à escravatura romana e recorrentes revoltas. Segundo as fontes historiográficas da época, o que causou mais estupefacção aos romanos foi o facto dos prisioneiros crucificados entoaram cânticos de vitória.
Após esta campanha sangrenta a Galécia foi completamente pacificado e romanizada. Até o século III o noroeste peninsular fazia parte da província da Terraconense, momento em que através da reforma administrativa do Império, Diocleciano fundou a província da Galécia. Faziam parte desta províncias importantes cidades como Bracara Augusta (Braga), Portucale (Porto) ou Astúrica Augusta (Astorga).
Até os inícios do século V a Galécia continuou pacificamente sobre o domínio romana. Em 409 os Suevos, que haviam migrado para a península juntamente com Alamanos e Vândalos, conquistaram a Galécia e formaram aí o Reino da Galiza Suevo.
Já depois da queda do Império Romano do Ocidente, os Visigodos anexaram o Reino Suevo em 585 d.C. unificando toda a Hispânia. A Galécia foi dominada pelos Visigodos até a conquista muçulmana da península em 711. Os cristãos mantiveram alguns redutos no norte da Península originando o Reino das Astúrias.
A Reconquista cristã começou essencialmente pela recuperação de territórios da antiga Galécia, numa primeira fase como região tampão, numa segunda como ocupação efectiva do território.
No final do século XI a Galécia seria dividida em dois condados por Afonso VI de Leão e Castela, originando o Condado da Galiza e o Condado Portucalense que algumas décadas depois originaria o Reino de Portugal. Afonso terminou séculos de estruturação territorial da Galécia.
Actualmente a Galécia divide-se entre o Norte de Portugal e a Região Autónoma da Galiza em Espanha.
References:
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente (Coord.); Historia de España de la Edad Media, Ariel, 2002
MENÉNDEZ PIDAL, Ramón (Dir.); Historia de España, Espasa-Calpe, 1992.