A Batalha de Carras travou-se no ano de 53 a. C. próximo à cidade de Carras na Mesopotâmia, entre as forças romanas comandadas por Crasso e as forças partas por Surena.
De forma a compreender os antecedentes e contexto que levaram a esta batalha, é necessário reflectir sobre o enquadramento político romano na época. A aliança entre Crasso, Pompeu e Júlio César conhecida como primeiro triunvirato, havia sido estabelecida uns anos antes da tentativa de invasão de Crasso do Império Parta.
Esta aliança era composta por Pompeu, pacificador e conquistador da Hispânia, Júlio César comandante e conquistador romano na Gália. As conquistas e expansões territoriais nestas regiões trouxeram grande popularidade tanto a César como Pompeu entre a plebe, Crasso ambicionava este apoio popular. Crasso era o homem mais rico de Roma, tinha feito fortuna no ramo imobiliário, a sua presença no triunvirato justificava-se pela necessidade de financiamento de César e Pompeu, e das conexões políticas de que este detinha, em troca a governação das províncias orientais da República Romana foi entregue a Crasso.
A administração das províncias orientais, tornava a expansão para o Império Parta apetecível para alguém ambicioso como Crasso, assim e à revelia do Senado, que não apoiava esta campanha em honra ao tratado de paz assinado com os partas, foram iniciados os preparativos para a conquista deste império. A Batalha de Carras foi resultado da ambição de um homem em tornar-se tão popular como César e Pompeu entre a população, popularidade fulcral para ascender politicamente na República.
Graças à sua imensa fortuna reuniu um exército composto por 35 mil soldados de infantaria pesada, 4 mil de infantaria auxiliar e 4 mil de cavalaria. Artavasdes II rei da Arménia ofereceu o seu auxilio militar e passagem pelos seus territórios a Crasso, oferta prontamente recusada por este, muito provavelmente por ansiar toda a glória para si.
Os partas enviaram grande parte do seu exército contra os arménios, e deixaram uma pequena força liderada pelo general Surena composta por 10 mil soldados, principalmente de cavalaria com a missão de desgastar a força romana até o retorno da força principal parta da Arménia. Ariamnes, árabe e amigo de Pompeu, auxiliava Crasso nesta invasão, mas havia sido subornado pelos partas. Ariamnes levou as forças romanos pelas zonas mais secas, áridas e com escassez de água da Mesopotâmia, levando os romanos à exaustão e desespero.
As duas forças encontraram-se nas proximidades da Cidade de Carras em 53 a. C.. Os partas tiraram partido do desgaste romano e da mobilidade dos seus arqueiros a cavalo, Crasso acreditou que as legiões romanas conseguiriam conter os ataques da cavalaria de Surena até estes ficarem sem flechas, o que Crasso não tinha previsto era que os partas faziam-se acompanhar por centenas de camelos carregados com flechas, que possibilitavam um fornecimento constante de flechas.
Face às pesadas baixas sofridas, Crasso recuou para a cidade de Carras. Surena propôs a retirada romana para a Síria em troca de alguns territórios conquistados anteriormente pelos romanos, inicialmente Crasso recusou mas mediante o risco de motim dos seus soldados agastados com a viagem até a Mesopotâmia e as perdas sofridas na Batalha de Carras, Crasso cedeu às exigências de Surena. Mas este acordo foi uma armadilha, Surena dizimou a restante força romana, matando inclusivamente Crasso, na Batalha de Carras morreram 20 mil soldados e foram capturados mais de dez mil. Erros estratégicos como a recusa de aliança com os arménios, a travessia no deserto, o agir por impulso na Batalha não seguido os conselhos dos seus generais, conduziram á esmagadora vitória parta.
A Batalha de Carra foi uma das maiores derrotas para os Romanos, a nível externo incitou um novo período de hostilidade com os partas, mas a maior consequência seria no plano interno. Com o fim do triunvirato e repartição de poderes e territórios, iniciou-se um conflito entre César e Pompeu pelo controlo da República que culminaria com o nascimento do Império.
References:
MONTANELLI, I. ; História de Roma. Da Fundação à Queda do Império, Edições 70, 2002.
BORDET, M. ; Síntese de História Romana. , Edições Asa, 1996.