Irmão mais novo de dois jogadores profissionais, Antunes, do Fluminense, e Edu, um dos maiores ídolos do América, Zico chegou a ser aprovado em um teste neste último clube, levado por Edu, mas o coração rubro-negro falou mais alto – todos na sua casa eram adeptos do Flamengo – e o garoto talentoso foi tentar a sorte na Gaávea, levado pelo radialista Celso Garcia, que ficara encantado ao vê-lo jogar partidas de futsal em uma equipa de bairro com os irmãos.
Tratado como uma joia das divisões menores do Flamengo, Zico recebeu atenção especial para ganhar compleição física, aliando um trabalho de fortalecimento muscular, alimentação equilibrada e suplementos para estimular o crescimento. Um processo que deu resultado também graças à sua disciplina e ao profissionalismo que já se faziam notar desde cedo.
Em 1971, aos 18 anos, fez sua estreia na equipa profissional do Flamengo, lançado pelo treinador paraguaio Fleitas Solich, na vitória por 2 a 1 no cássico contra o Vasco, no Maracanã. O primeiro golo pelo Flamengo sairia no quarto jogo, o empate em 1 a 1 com o Bahia, na Fonte Nova, pelo Campeonato Brasileiro daquele ano.
Zico já havia feito golos no Maracanã quando jogava na equipa juvenil do Flamengo. Mas como jogador profissional, o Galinho demorou a marcar no então maior estádio do mundo: precisou de 21 jogos até desencantar no Maracanã, abrindo a contagem no empate em 2 a 2 com o Vasco no dia 23 de setembro de 1973. Nunca mais Zico ficaria tantos jogos sem marcar no Maracanã. Com um total de 333 golos em quase 20 anos de carreira profissional, ele é o maior goleador do estádio, ao qual considera como sua segunda casa.
Também em 1971, Zico disputou o Pré-Olímpico pelo selecionado brasileiro, e marcou contra a Argentina o golo que classificou o país para os Jogos de Munique. No entanto, não foi relacionado para o grupo que foi às Olimpíadas de 1972. Decepcionado com o que considerou uma injustiça, Zico chegou a pensar em desistir do futebol, mas foi dissuadido pela família.
Naquele mesmo ano de 1972, embora ainda reserva e entrando em poucos jogos, conquistaria o Campeonato Carioca, seu primeiro título pelo Flamengo. Em 1974, já titular, começava a ganhar também o coração dos adeptos, que viam naquele menino franzino de 21 anos uma promessa de craque.
A seleção brasileira era o caminho natural, e Zico fez sua estreia com a camisa amarela em fevereiro de 1976, aos 22 anos, na vitória por 2 a 1 sobre o grande rival sul-americano Uruguai, no Estádio Centenário. O golo da vitória foi dele, cobrando com maestria uma falta na entrada da área, o que se tornaria sua especialidade.
Zico disputou seu primeiro Mundial em 1978, na Argentina, e chegou a marcar um golo na estreia, mas o lance foi anulado de forma polêmica, enquanto a bola viajava no ar após o tiro de canto que encontraria a cabeçada de Zico na pequena área. Golo anulado, resultado final inalterado: Brasil 1 x 1 Suécia. O selecionado canarinho obteve o terceiro lugar, mas o Mundial terminou mais cedo para Zico, que se machucou no jogo contra a Polônia, na segunda fase do torneio.
Quatro anos depois, Zico seria um dos pilares do selecionado brasileiro que encantou o planeta no Mundial da Espanha. Além de Zico, o Brasil dirigido por Telê Santana contava com outros craques formidáveis, como Falcão, Sócrates, Júnior, Toninho Cerezo e Éder. Mas a derrota por 3 a 2 para a Itália, na segunda fase, encerrou o sonho do título mundial.
No Flamengo, no entanto, Zico não conhecia decepção. A partir de 1978, o time da Gávea iniciou uma avalanche de conquistas sob o comando do seu camisa 10: quatro Campeonatos Cariocas (1978, 1979, duas vezes, e 1981), três Campeonatos Brasileiros (1980, 1982 e 1983) e o ponto máximo em 1981 com os dois maiores títulos da história do Flamengo, a Copa Libertadores da América – Zico fez os dois golos na decisão contra o Cobreloa, do Chile – e o Mundial Interclubes, em Tóquio, com uma vitória incontestável por 3 a 0 sobre os ingleses do Liverpool. Zico não marcou mas foi eleito o melhor jogador daquela decisão.
Além das conquistas coletivas, Zico se destacava individualmente. Foi eleito em 1981 o melhor jogador do mundo pela revista italiana Guerin Sportivo, e novamente escolhido o melhor do mundo em 1983, desta vez pela revista inglesa World Soccer. Zico foi o máximo goleador da Copa Libertadores de 1981 (11 golos), duas vezes do Campeonato Brasileiro (1980 e 1982, 21 golos em cada campanha) e seis vezes do Campeonato Carioca (1975, 1977, 1978, 1979, 1979 Especial e 1982). Foi também o maior anotador do futebol brasileiro em cinco temporadas, com especial destaque para o ano de 1979, quando marcou 89 golos, incluindo jogos amigáveis, sua temporada mais profícua como goleador.
Em 1983, Zico trocou o Flamengo pela Udinese, da Itália, então o principal palco do futebol mundial, para onde migravam os grandes craques do planeta. O pequeno clube do Norte italiano terminou apenas em nono lugar, mas Zico se destacou com 19 golos, a apenas um do goleador máximo, o francês Michel Platini, da campeã Juventus. Zico voltou ao Flamengo em 1985, desiludido com contusões na sua segunda temporada italiana e com problemas com o Fisco do país europeu.
Em agosto de 1985, porém, em um jogo contra o Bangu, no Maracanã, Zico sofreu a mais grave contusão da carreira, tendo comprometidos os meniscos do joelho esquerdo. Por causa do tempo de recuperação, chegou fora de forma ao Mundial de 1986, no México. Acabou entrando em apenas três partidas, sempre na segunda etapa. Na última delas, contra a França, pelas quartas de final, desperdiçou uma grande penalidade, defendida pelo guarda-metas Joel Bats. A igualdade em 1 a 1 persistiu após o prolongamento, e na decisão de tiros livres Zico converteu sua cobrança, mas o Brasil perdeu por 4 a 3, e o Galinho de Quintino despediu-se dos Mundiais sem alcançar o título máximo para um jogador de futebol. Zico anotou 48 golos em 71 partidas pelo Brasil, e chegou a ser o segundo maior goleador da seleção, atrás somente de Pelé, com 77 – atualmente, Zico é o quinto na lista, ultrapassado por Ronaldo (62), Romário (55) e Neymar (53).
Zico ainda ganharia mais um titulo carioca (1986) e um nacional (1987) com o Flamengo, antes de encerrar a carreira em um jogo festivo diante de quase cem mil torcedores no Maracanã em fevereiro de 1990, despedindo-se dos adeptos na qualidade de maior ídolo e o máximo goleador do clube, com 508 golos marcados em 732 jogos, incluindo não oficiais.
Entre 1991 e 1994, Zico retornaria ao futebol para desenvolver a modalidade no Japão, como jogador e, posteriormente, técnico do Kashima Antlers. Já retirado definitivamente, abraçou uma carreira irregular de treinador internacional, tendo como destaques a classificação do Japão para o Mundial da Alemanha, em 2006 (o país foi eliminado na primeira fase, quando Zico bateu-se de frente com a seleção brasileira na derrota por 4 a 1, pela terceira rodada) e a campanha das quartas de final da Uefa Champions League 2007-2008 com o Fenerbahçe, pelo qual conquistou também um Campeonato Turco (2006-2007) e uma Superliga da Turquia (2007).