O “caso Festina” foi um escândalo de doping que atingiu todo o ciclismo profissional dias antes e no decorrer da Volta a França de 1998, incidindo sobretudo, numa equipa na altura, a Festina que foi expulsa da prova e alguns dos seus elementos presos e suspensos desportivamente. Foi desmantelada uma enorme rede de doping que se generalizava entre ciclistas, direcção desportiva e vendedores ilegais.
A três dias do começo da Volta a França que naquele ano até se iniciava fora de portas, em Dublin na Irlanda, rebenta um escândalo de doping. Willy Voet, um dos elementos do staff da Festina, é apanhado num controlo aduaneiro entre a França e a Bélgica, com vários produtos relacionados com o doping, como ampolas de eritropoietina, de anfetaminas, bolsas de hormonas de crescimento, de testosterona e corticóides que eram para ser utilizados por toda a equipa durante as competições e fora delas. O detido Willy Voet confessa a existência de uma rede ilegal de dopagem dentro da equipa e é aberto um mandado para averiguação de contrabando e incitação à utilização de substâncias dopantes. O director desportivo da equipa, Bruno Roussel e o médico, Erik Ryckaert foram interrogados pela Policia Judiciária no decorrer da prova, à 4ª etapa e, mais tarde, à 17ª etapa são mesmo presos por comprovada utilização de doping dentro da equipa, facto que Roussel confirmou e acusou de forma, veemente, ciclistas como Richard Virenque, Laurent Brochard e Alex Zulle, os principais ciclistas da equipa na altura. Aliás, segundo Voet e Ryckaert, Richard Virenque era o principal responsável pelo doping dentro da equipa, incentivando outros colegas de equipa, como Laurent Dufaux, Armin Meier, Christophe Moreau, Pascal Hervé e Gilles Bouvard, a tomar substâncias dopantes. A polícia concluiu que havia uma organização concertada entre a direcção desportiva, os médicos, os massagistas e os ciclistas para administração de substâncias dopantes em toda a equipa. Com a prisão do director desportivo e o arresto das substâncias proibidas face às confissões dadas pelos dirigentes da equipa, o director da prova, Jean Marie Leblanc, decidiu retirar a equipa da Volta a França, ainda que não houvesse nenhuma prova relativa aos ciclistas nem controlo positivo por parte de qualquer atleta na Volta a França. Mais tarde, os ciclistas da equipa que participavam no Tour foram levados para a delegacia de Lyon como testemunhas do processo. Todos os ciclistas confessaram o uso de doping, à excepção de Richard Virenque, Pascal Hervé e Neil Stephens que foram libertados. A polícia fez mais buscas a outros camiões e nos hóteis onde estão as equipas participantes na prova para verificar a existência de mais substâncias dopantes. Isso provocou um alvoroço em muitas equipas e principais ciclistas que estão presentes no Tour e à 17ª etapa, todos os ciclistas param no decorrer da etapa, protestando contra os métodos de investigação policial e com o clima de suspeição que se vivia entre todos os elementos da caravana. As equipas da Banesto, Vitalicio Seguros, Kelme, Once e Riso Scotti abandonam a corrida na etapa seguinte e a equipa holandesa, TVM, que sofreu uma raide policial dois dias antes, também se retira de prova. Na equipa holandesa também se encontraram indícios de doping num dos automóveis da equipa e em dois dos hotéis em que a equipa esteve presente na prova francesa. O médico da equipa ONCE, Nicolas Terrados, também foi detido para investigação policial isto porque Zulle, na altura na Festina mas já tinha feito parte da equipa da ONCE, indicou o nome do médico como um dos que lhe administrou substâncias dopantes. Além do médico espanhol, também, foram detidos os directores das equipas francesas Française des Jeux (Marc Madiot) e da Casino (Vincent Lavenu) e o ciclista Rodolfo Massi.
As análises aos atletas da Festina deram oito resultados positivos por EPO, com anfetaminas em quatro deles. Em 2000, Virenque confessa o uso de doping e passa por um período de suspensão desportiva de nove meses. Jean Marie Leblanc, director do Tour e Daniel Baal e Roger Legeay, dirigentes da Federação de Ciclismo estão sob investigação, ainda que apenas os dois últimos são acusados por cumplicidade na facilitação e administração de substâncias dopantes. Em 2013, o Senado Francês publicou um documento em que se constatava que os, pelo menos, 29 atletas tinham controlos positivos por doping nesse Tour de 1998, começando pelos três primeiros da geral, Marco Pantani, Jan Ullrich e Bobby Julich. Desde então, no ciclismo mundial mas, sobretudo, no francês existiram mudanças na abordagem limpa do desporto, ainda que existam alguns casos, desde então, como aconteceu em 2006, a Operação Puerto, similar a este caso de doping.