Francisco Lázaro foi um atleta português que, durante a Maratona dos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, morreu de desidratação.
Juventude de Francisco Lázaro
Nascido a 21 de janeiro de 1888, no bairro lisboeta de Benfica, Francisco da Silva, filho de um carpinteiro de nome Lázaro da Silva, cedo ganhou a alcunha de “Chico” do Lázaro e, posteriormente, “Lázaro”, alcunha pela qual é recordado, graças as diversas correrias que fazia enquanto criança no bairro onde cresceu.
O desporto, principalmente o atletismo sempre o fascinou. Com 20 anos correu a apelidada Maratona Portuguesa, com apenas 24 km, não repetindo o feito no ano seguinte devido a questões de saúde. No entanto, naquela que foi a primeira verdadeira maratona em Portugal triunfou com um tempo de 2h 57 minutos e 35 segundos, deixando o segundo classificado a mais de dez minutos de distância. No ano seguinte, embora mais lento (3 horas 9 minutos e 57 segundos) voltou a vencer a corrida, ganhando ao mesmo tempo enorme popularidade.
No início de 1912, no ano em que decorreriam os Jogos Olímpicos de Estocolmo, venceu novamente, num percurso particularmente difícil com passagens na Calçada de Carriche, popularizada pelo poema de António Gedeão. O tempo foi de 2 horas 52 minutos e 8 segundos, sendo que o vencedor dos Jogos Olímpicos de Londres, quatro anos antes, teria completado a distância em 2 horas e 55 minutos. Isto abria a hipótese de, pela primeira vez na história de Portugal, um atleta conseguir uma medalha olímpica e, quiçá, uma vitória.
A tragédia da maratona de 1912
Acompanhado dos atletas Armando Cortesão e António Stromp; dos lutadores Joaquim Vital e António Pereira; e do esgrimista Fernando Correia, Lázaro era o único maratonista e, embora fosse o primeiro naquelas andanças, foi-lhe incumbido o dever de ser o porta-estandarte de Portugal na cerimónia de abertura, muito por causa do seu forte favoritismo na distância.
Porém, a mesma teria de ser percorrida sobre imenso calor e, pese embora terem adiado a Maratona por várias ocasiões e, segundo se diz, tenha-se aconselhado a iniciá-la ao final da tarde, a corrida começou dia 14 de julho por volta das 13h30, sob imenso calor – com as temperaturas a ultrapassarem em algumas circunstâncias os 40 graus.
Vários foram os atletas que inclusive desistiram da prova e mostravam-se contra a organização da corrida e a decisão de corrê-la aquela hora, mas Lázaro era otimista e teimoso. Preferia inclusive corrê-la sob o calor, acreditando que teria mais hipóteses, uma vez que a concorrência, ao contrário dele, sucumbiria perante as altas temperaturas.
Os restantes colegas da seleção nacional, todos a participar noutras modalidades, tinham-se posicionado ao longo do percurso para o apoiar e Lázaro ate começou bem. Ao quilómetro 15 seguia em 28º, quatro minutos atrás da liderança, mas passados dez km, já era 18º e aproximava-se da frente da corrida. Porém, aos 35 km ninguém sabia dele. Alarmados, Pereira e Stromp, que o aguardavam nessa passagem, e Cortesão e Pereira, que o esperavam no estádio, foram rápido procurá-lo, apenas para descobrir que o mesmo havia desmaiado e teria sido levado para o hospital.
“Ninguém sabia d’elle [Francisco Lázaro]. Regressei e, na estrada, encontrámo-nos com o automóvel do dr. António Feijó [Embaixador de Portugal na Suécia], que, conhecedor da tragédia, procurava-nos. No automóvel seguimos para o hospital. Soubemos que o infeliz campeão tinha sido fulminado com uma insolação ao quilómetro trinta; que o médico o tinha recolhido e, em automóvel, levado ao hospital; que outros três o medicavam com carinho e que, na estrada, lhe tinham aplicado gelo sobre a cabeça”, explicou, na altura, Fernando Correia à imprensa.
Consta-se que Lázaro se terá besuntado com sebo de porco antes da corrida, para resistir melhor ao calor. Apesar de aparente mito urbano, a realidade é Francisco Lázaro, talvez o primeiro ícone desportivo português, não aguentou as altas temperaturas, acabando por sucumbir ao calor.
Até às 6h20 do dia seguinte, foram-lhe aplicadas várias injeções água salgada, mas tal não impediu que o mesmo falecesse, com apenas 24 anos. Porém, ainda no delírio e, durante a madrugada, o mesmo tenha-se movido várias vezes como ainda a correr a Maratona.
A história da suposta mulher
Na altura, aquando da notícia da morte de Lázaro, constava-se que o mesmo teria uma mulher. Porém, apesar de não ser totalmente mentira, uma vez que deixou uma “viúva”, grávida de si de cinco meses, Francisco não era ainda casado.
Tendo em conta as dificuldades de informação à época, aceita-se este erro histórico, mas na realidade o atleta português despediu-se da sua namorada, Sofia, com a promessa de se casarem quando o mesmo regressasse.
A filha, Francisca, nunca praticou desporto e, numa entrevista ao jornal Notícias, de Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique), a mesma admitiu, anos mais tarde em 1968, que a fatalidade do desporto na família, mais precisamente a tragédia do pai, levou a que na família nunca a tenha deixado seguir carreira no desporto.
References:
Francisco Lázaro. A morte ao sol do carpinteiro que se fez mito na maratona, Observador. Disponível em: https://observador.pt/especiais/francisco-lazaro-a-morte-ao-sol-do-carpinteiro-que-se-fez-mito-na-maratona/ Consultado a 16/06/2018