Antes de falarmos sobre a estratégia de atores (geografia), importa esclarecer que os atores de um determinado território são grupos e/ou organizações empresariais, económicos, sociais e/ou institucionais que, por si mesmos e/ou pela sua capacidade de influência, podem modificar a evolução dos processos de transformação territorial.
O objetivo da análise dos atores no ordenamento do território é ajudar a formular uma estratégia global que consiga gerar uma ampla base de acordo entre os agentes com capacidade e legitimidade para gerir e/ou influenciar as transformações urbanas, sendo que, na elaboração de estratégia de atores (geografia) é fundamental identificar os principais atores de um território, debater os critérios de atuação, ter conhecimento dos projetos que os atores considerem mais importantes, analisar as complementaridades e detetar os principais pontos de conflito entre os mesmos.
Os principais critérios de qualificação de um ator assentam em duas grandes caraterísticas: na homogeneidade (de objetivos, de estratégias, de idênticas capacidades de reação) e nas especificidades diferenciadoras.
Num determinado território podemos ter vários atores de diferentes domínios (exemplos: económicos, institucionais, sociais e/ou culturais, intelectuais, entre outros); por isso no domínio do ordenamento do território a estratégia de atores é elaborada com o apoio de matrizes.
As matrizes de atores, constroem-se especificando, tanto nas linhas, como nas colunas, os atores implicados e/ou com interesses num projeto, num equipamento e/ou serviço de carácter estratégico. Posteriormente, cada linha corresponde a um ator objeto da análise e nas células inscreve-se o tipo de procura (as expectativas) que o ator indicado em linha exerce relativamente ao ator em coluna com respeito ao projeto, equipamento e/ou serviço considerado. Na célula (diagonal) em que o ator em linha coincide com o ator em coluna inscreve-se o objetivo fundamental desse ator relativamente ao projeto.
A estratégia de atores (geografia) apresenta diversas vantagens no processo do ordenamento do território, na medida em que: permite identificar e caracterizar os diferentes atores do sistema territorial; percebe como surgem os conflitos e/ou as alianças possíveis entre os vários atores e como estes podem orientar a evolução do sistema (visão estratégica); contribui para uma maior participação e reflexão estratégica por parte dos diferentes atores; avalia nos projetos as relações de força existentes, elabora recomendações estratégicas e especifica as condições de viabilidade da sua implementação.
A estratégia de atores é um processo acompanhado por várias etapas metodológicas: recenseamento dos principais atores e construção de uma tipologia de atores; organização e consulta de um painel de atores; realização de entrevistas; construção de sinopses e análises de conteúdo das entrevistas; construção de um quadro de estratégia de atores; identificação dos desafios considerados estratégicos e dos objetivos que lhes estão associados; análise da relação de forças entre atores (com base em informação obtida por entrevistas); construção de matrizes de forma a avaliar a influência direta dos atores (uns em relação aos outros, em termos dos objetivos a que se propõem e validar o posicionamento dos mesmos relativamente aos objetivos que se visam alcançar com a implementação do plano).
Na estratégia de atores as matrizes permitem identificar o conflito potencial e/ou o jogo de alianças de determinado ator em relação a outros atores e a posse de meios de ação diretos/indiretos (por via de um ator de ligação) para o conseguir, isto porque, um ator pode estar em conflito com outro relativamente a um objetivo, mas pode não ter meios para se lhe opor.
Por último, uma estratégia de atores eficaz deve agrupar os atores por níveis de dependência e/ou influência, apresentar a natureza do sistema de relações (relações muito instáveis ou grande interação – sem hegemonia de qualquer dos atores) e indicar a relação de forças (capacidade de cada ator para condicionar a atuação dos restantes e /ou a dependência relativamente a eles).
References:
Referências Bibliográficas:
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DGOTDU (1996). Guia para elaboração de planos estratégicos de cidades médias, Lisboa
- Esteve, J.M., Pascual I. (1999). La estrategia de las cuidades – Los planes estratégicos como instrumento: métodos, técnicas y buenas prácticas, Barcelona, Diputació de Barcelona.
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Godet, M. (1993) Manual de Prospectiva Estratégica, Lisboa, Publicações D. Quixote