Os organismos que se desenvolvem de forma directa são aqueles que estão completamente formados no momento do nascimento. Incluem-se aqui as espécies com embriões que se desenvolvem dentro de um ovo no interior do corpo materno (ovovivíparos), as espécies com embriões que se desenvolvem dentro do corpo materno no interior duma placenta (vivíparos), e as espécies com embriões que se desenvolvem dentro dum ovo colocado exteriormente ao corpo materno (ovíparos). O desenvolvimento directo é uma estratégia que resolve algumas das desvantagens subjacentes ao desenvolvimento indirecto, mas que não beneficia de algumas das suas vantagens.
A produção de um baixo número de ovos, com muitas reservas nutritivas disponíveis para o embrião, seguida de alguma forma de acasalamento e fertilização interna, é um dos cenários típicos entre os grupos de organismos que se desenvolvem de forma directa.
Os embriões são alvo de elevados cuidados parentais, directa ou indirectamente, quer seja pelo facto do seu desenvolvimento ocorrer por um período prolongado no interior dum progenitor, quer seja pelo facto dos ovos serem colocados num ambiente protegido e vigiado pelos pais ou outros membros do clã (note-se que, nalgumas espécies de aves, por exemplo, os ninhos são também protegidos com a ajuda de outros indivíduos que não são os progenitores).
Vantagens do desenvolvimento directo
Os ovos constituídos por muitas substâncias de reserva nutritivas produzidos por muitas das espécies de invertebrados que exibem um desenvolvimento directo, são extremamente dispendiosos do ponto de vista energético e metabólico. Porém, esse custo é compensado pelas baixas taxas de mortalidade dos embriões que se desenvolvem por esta estratégia, o que acontece porque os cuidados parentais são elevados. Neste aspecto, o desenvolvimento directo resolve o problema das taxas de mortalidade elevadas das larvas de organismos que se desenvolvem através do desenvolvimento indirecto.
Estratégia de sobrevivência ‘K’
As espécies cujos embriões se desenvolvem através de um desenvolvimento directo são as espécies que, tendencialmente, adoptam uma estratégia de sobrevivência ‘K’, ou seja, que adoptam um crescimento ‘logístico’. A adopção de uma forma de crescimento logístico significa que a espécie utiliza os recursos ecológicos disponíveis de forma controlada e sustentada. As populações não crescem acima da capacidade de suporte do meio ambiente produzindo, assim, poucos descendentes. No entanto, a prole tem uma longevidade maior do que a dos organismos que depositam um elevado número de ovos, e os cuidados parentais são mais prolongados no tempo.
Espécies com uma boa capacidade de dispersão ou que habitam latitudes em que as condições ambientais não são favoráveis, como as regiões polares ou subpolares, têm igualmente uma tendência a produzir poucos descendentes aos quais são dispensados maiores cuidados parentais. No primeiro caso, isto pode dever-se ao facto de um boa capacidade de dispersão assegurar a manutenção de efectivos populacionais constantes e níveis adequados de variabilidade genética dentro das populações. No segundo caso, ao produzirem menos descendentes, os animais que habitam regiões inóspitas como os pólos, garantem que os poucos recursos ecológicos disponíveis para os indivíduos são suficientes para garantir a sobrevivência de toda a população.
References:
- Covas, R., Doutrelant, C., & du Plessis, M. A. (2004). Experimental evidence of a link between breeding conditions and the decision to breed or to help in a colonial cooperative bird. Proceedings of the Royal Society of London, Series B: Biological Sciences, 271(1541), 827-832.
- Molles, Manuel. Ecology – Concepts & Applications. 4th edition. McGraw-Hill.
- Brusca, Richard C. and Brusca, Gary J. (2002). Invertebrates. Sinauer Associates, 2ª Edição.